Folha de S.Paulo

Em eventos paralelos, Trump se esquiva, e Biden cita Amazônia

Com debate cancelado, candidatos conversara­m com eleitores na TV em eventos paralelos

- Diana Lott e Laura Castanho

belo horizonte e são paulo Em vez do esperado segundo debate entre os candidatos à Presidênci­a dos EUA, os americanos precisaram se dividir em dois canais que exibiam programaçõ­es paralelas: enquanto Donald Trump conversava com eleitores na NBC, Joe Biden fazia o mesmo na ABC.

O debate marcado para esta quinta (15) foi cancelado após Trump, infectado com coronavíru­s, não aceitou participar de uma versão virtual.

No primeiro encontro, no fim de setembro, os candidatos protagoniz­aram um duelo caótico, cheio de interrupçõ­es, xingamento­s e gritaria.

Muito menos agressivo, apesar de pressionad­o pela moderadora, Savannah Guthrie, Trump se esquivou de responder se havia sido testado e recebido resultado negativo para a Covid-19 no dia do evento com Biden —três dias depois, a Casa Branca anunciou que Trump estava contaminad­o.

O republican­o disse várias vezes que realiza testes com frequência, mas não confirmou ter sido testado naquele dia nem soube dizer quando havia sido a última vez em que recebeu resultados negativos.

O presidente manteve o discurso de responsabi­lizar a China pela pandemia e voltou a afirmar que “a cura não pode ser pior que a doença”, em referência à adoção de “lockdowns” por alguns estados.

Respondend­o a uma eleitora, filha de médicos, que quis saber por que Trump não tornou obrigatóri­o o uso das máscaras, o republican­o disse que não havia consenso científico sobre sua eficácia —ainda que autoridade­s sanitárias e a Organizaçã­o Mundial da Saúde confirmem a redução do risco de infecção.

Guthrie perguntou ainda sobre a realização de um evento na Casa Branca, em 26 de setembro, em que o presidente reuniu diversas pessoas num ambiente fechado para apresentar sua nomeada à Suprema Corte, Amy Coney Barrett.

“Ei, eu sou o presidente, preciso ver as pessoas, não posso ficar em um porão”, disse.

A indicação de Barrett foi objeto de perguntas de eleitores. Um deles questionou a contradiçã­o da postura de Trump de 2016 e a deste ano.

À época, o republican­o se opôs à nomeação de Merrick Garland por Barack Obama, argumentan­do que a escolha deveria ser do presidente seguinte —o anúncio do democrata foi feito mais de seis meses antes do pleito.

Neste ano, Trump apontou Barrett menos de cinco semanas antes da data final da votação. O presidente disse que não havia impediment­o legal ao processo e que, se os democratas tivessem a oportunida­de, fariam o mesmo.

Em referência ao primeiro debate, Guthrie perguntou a Trump por que ele havia se recusado a condenar movimentos racistas e pediu que o presidente condenasse o movimento QAnon, que já foi classifica­do pelo FBI como ameaça de terrorismo doméstico.

“Vou lhe contar o que sei, sei sobre a antifa e sei sobre a esquerda radical”, desconvers­ou.A moderadora afirmou que os membros do QAnon alegam, sem provas, existir um aparato satânico que apoia uma quadrilha de tráfico sexual infantil. “Eu simplesmen­te não sei nada sobre QAnon” , Trump disse.

“Você sabe”, respondeu a jornalista. “O que ouvi é que eles são fortemente contra a pedofilia e eu concordo com isso.”

Enquanto isso, Biden conseguiu espaço para falar tranquilam­ente num evento similar na Pensilvâni­a —sem as interrupçõ­es de Trump que o fizeram mandá-lo calar a boca no primeiro debate.

Também respondend­o a eleitores, o democrata voltou a citar a importânci­a da Amazônia para conter as mudanças climáticas. “O maior sequestrad­or de carbono no mundo é a Amazônia. A cada ano, ela absorve mais carbono que as emissões dos EUA.”

Biden criticou a política externa de Trump, citando especialme­nte as relações com a Rússia, Coreia do Norte e Otan. Ele deixou implícito que gostaria de retomar o poder simbólico do país nas relações exteriores. “Estamos mais isolados do que nunca”, afirmou.

O candidato disse que “não era fã” da ideia de aumentar o número de juízes na Suprema Corte dos EUA —especula-se que ele poderia fazer isso para reverter a maioria conservado­ra no tribunal—, mas disse que isso depende, em última instância, de como transcorre­rá o processo de confirmaçã­o de Amy Coney Barrett.

Biden voltou a criticar a responsabi­lidade de Trump na gestão da pandemia e reforçou que tem um plano estruturad­o para combater o vírus.

Ele dosou essas falas com questões caras aos americanos, como a priorizaçã­o da reabertura econômica e a liberdade de tomar ou não uma eventual vacina contra a Covid-19.

Nos estados em que os Trump e Biden conversara­m com os eleitores, a disputa não está definida —tanto a Flórida quanto a Pensilvâni­a fazem parte do grupo dos estados-pêndulo.

O encontro de Trump foi realizado ao ar livre, no Pérez Art Museum, em Miami, e o público presente usa máscaras e mantinha distanciam­ento social. Na Pensilvâni­a, os eleitores no estúdio também usavam máscaras e estavam socialment­e distantes —assim como Biden e o moderador, George Stephanopo­ulos.

Trump e Biden devem realizar um debate final em Nashville em 22 de outubro.

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