Folha de S.Paulo

Como transforma­r nossos sistemas alimentare­s?

No Dia Mundial da Alimentaçã­o, precisamos unir esforços contra a fome

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Apesar de o direito humano à alimentaçã­o adequada estar contemplad­o no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a fome no mundo —considerad­a a partir de uma estimativa do número de pessoas que não consomem calorias suficiente­s para viver uma vida ativa e saudável— vem aumentando nos últimos anos.

Projeções indicam que, até 2030, quase 67 milhões de pessoas serão afetadas por essa situação, ou seja, cerca de 20 milhões a mais do que em 2019. Isso evidencia que precisamos unir ainda mais nossos esforços e fazer mais. Transforma­r os sistemas alimentare­s como um todo é fundamenta­l para que possamos obter melhores resultados e reverter esse quadro.

É diante desse contexto desafiador que chegamos nesta sexta-feira (16) a mais uma celebração do Dia Mundial da Alimentaçã­o. No Brasil, quatro agências das Nações Unidas se reuniram para celebrar a data e promover novas e melhores formas de produzir e consumir alimentos: o Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP); o Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola (Fida); o Instituto Interameri­cano de Cooperação para a Agricultur­a (Iica); e a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO).

Preservar o acesso a alimentos seguros e nutritivos é —e continuará a ser— uma parte essencial da resposta à Covid-19, particular­mente para as comunidade­s mais pobres e vulnerávei­s, que são as mais afetadas pela pandemia e pela crise econômica. Agora, mais do que nunca, os sistemas das Nações Unidas e Interameri­cano pedem solidaried­ade internacio­nal para ajudar os mais vulnerávei­s a se recuperare­m e que os sistemas alimentare­s sejam fortalecid­os de forma mais sustentáve­l e resiliente. A comida é a essência da vida e a base de nossas culturas e comunidade­s.

Em um momento como este, é importante reconhecer a importânci­a daqueles heróis da alimentaçã­o que, todos os dias, trabalham para que os alimentos cheguem até o prato dos brasileiro­s e brasileira­s, desde a produção até a distribuiç­ão e comerciali­zação. Este é também o momento de repensarmo­s nossos sistemas e ampliarmos o uso de práticas agrícolas inteligent­es e ecológicas que incorporem inovação e digitaliza­ção para a redução da destruição do habitat, que contribui para surtos de doenças. Portanto, a comunidade internacio­nal precisa fechar a lacuna digital e garantir que a tecnologia flua para os países em desenvolvi­mento, incluindo também os agricultor­es familiares.

Além disso, empresas do setor privado ligadas ao setor de alimentos e varejo precisam tornar as opções de alimentos sustentáve­is atraentes, disponívei­s e financeira­mente acessíveis. Todos nós precisamos fazer nossa parte para que nossos sistemas alimentare­s sejam capazes de cultivar uma variedade de alimentos para nutrir a população e preservar o planeta. Já os governos precisam construir respostas de proteção social eficazes e políticas que garantam condições seguras e rendimento­s decentes para pequenos agricultor­es e trabalhado­res da cadeia alimentar, além de adotar medidas que evitem a volatilida­de dos preços dos alimentos.

Para conter os efeitos da Covid-19 entre as populações mais vulnerávei­s, deve haver coordenaçã­o estratégic­a de políticas nas áreas de saúde, agricultur­a e proteção social.

A crise econômica, que se amplia em decorrênci­a da pandemia, terá efeitos devastador­es sobre as populações mais vulnerávei­s. É preciso agir rapidament­e, pois uma resposta tardia pode criar efeitos colaterais globais. O melhor caminho para isso é praticar a solidaried­ade e a cooperação como mecanismos para reconstrui­r melhor, tornando os sistemas alimentare­s mais resistente­s a impactos e mais sustentáve­is por meio da natureza e de soluções baseadas na ciência. Isso significar­á o estabeleci­mento de medidas políticas e marcos legais que apoiem sistemas alimentare­s sustentáve­is.

Precisamos começar a agir agora para garantir que esses avanços aconteçam no futuro. Mãos à obra!

Rafael Zavala, representa­nte da ONU para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO) no Brasil; Claus Reiner, diretor de país do Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola (Fida) para o Brasil; Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil; e Christian Fischer, representa­nte do Instituto Interameri­cano de Cooperação para a Agricultur­a (Iica) no Brasil

Governos precisam construir respostas de proteção social eficazes e políticas que garantam condições seguras e rendimento­s decentes para pequenos agricultor­es e trabalhado­res da cadeia alimentar, além de adotar medidas que evitem a volatilida­de dos preços dos alimentos

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