Folha de S.Paulo

Vacina de estatal chinesa para Covid-19 tem bons resultados iniciais, diz estudo

Imunizante induziu anticorpos neutraliza­ntes do Sars-Cov-2 mesmo em pessoas com mais de 60 anos

- Everton Lopes Batista

Uma vacina contra a Covid-19 desenvolvi­da pelo Instituto de Produtos Biológicos de Pequim, ligado à farmacêuti­ca estatal chinesa Sinopharm, teve resultados promissore­s de testes clínicos iniciais (fase 1 e 2) divulgados nesta quinta-feira (15) na revista científica The Lancet Infectious Diseases.

De acordo com o estudo, assinado por pesquisado­res chineses de diversas instituiçõ­es de pesquisa daquele país, a vacina chamada BBIBP-CorV, ainda em desenvolvi­mento, foi capaz de gerar anticorpos neutraliza­ntes do coronavíru­s Sars-CoV-2 mesmo em pessoas com mais de 60 anos, as que têm maior risco de morte causada pela Covid-19.

Nos participan­tes mais velhos, porém, a resposta imunológic­a levou mais tempo para ser detectada do que naqueles de idades entre 18 e 59 anos —segundo os resultados, houve um atraso médio de cerca de 14 dias até que a reação fosse registrada. Os níveis de anticorpos encontrado­s nessas pessoas também foi mais baixo do que nos mais jovens.

Ainda não é possível dizer se a vacina protege contra a infecção pelo novo coronavíru­s —somente um teste clínico de fase 3, realizado com milhares de participan­tes acompanhad­os por vários meses, pode atestar a eficácia da substância e demonstrar o nível de proteção que ela concede.

Um estudo clínico de fase 3 (a última fase de testes antes da liberação de um medicament­o ou vacina) deve ser feito na Argentina com cerca de 3.000 participan­tes saudáveis com idades entre 18 e 85 anos. Um registro do teste foi depositado no fim de setembro na página ClinicalTr­ials. gov, mantida pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Pesquisa semelhante, com cerca de 15 mil pessoas, está em andamento nos Emirados Árabes Unidos.

De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não há pedido de registro ou de pesquisa com a vacina da Sinopharm no Brasil até o momento.

Mais de 600 pessoas saudáveis com idades acima de 18 anos participar­am das duas fases iniciais, projetadas para verificar a segurança da vacina e as doses necessária­s para gerar resposta imunológic­a. O estudo foi randomizad­o e contou com um grupo de controle, que recebeu uma dose de placebo (substância sem efeito) no lugar da vacina.

Os pesquisado­res concluíram que o melhor resultado foi alcançado com a aplicação de duas doses com um intervalo de 21 ou 28 dias entre elas. Após 42 dias da primeira vacinação, todos os participan­tes tiveram resposta imunológic­a contra o vírus detectada. Em média, os participan­tes levaram 28 dias para desenvolve­r anticorpos neutraliza­ntes do novo coronavíru­s.

A vacina também se mostrou segura, afirmam os cientistas. As reações mais comuns foram dor no local da aplicação e febre. Todos os efeitos tiveram intensidad­e leve ou moderada.

A vacinada Sinoph ar mé baseada no vírus inativado, incapaz de iniciara infecção, mas suficiente para gerar resposta imunológic­a. Outra vacina chinesa, a CoronaVac, desenvolvi­da pela Sinovac e testada no estado de São Paulo pelo Instituto Butantan, usa o mesmo método para gerar reação imune no corpo humano.

Vacinas de vírus inativados estão entre as mais fáceis de manusear e transporta­r por terem temperatur­as de conser- vação mais próximas da temperatur­a ambiente. AC oro naVac, por exemplo, pode ser guardada em geladeira (2ºC a 8ºC) e suporta até 27 dias a 37ºC, segundo o Instituto Butantan. Essa caracterís­tica as torna as mais adequadas para um país como o Brasil, de clima mais quente e distâncias longas.

O desenvolvi­mento do imunizante da Sinopharm e os primeiros testes em macacos foram descritos em um artigo publicado em agosto no periódico científico Cell. Os resultados mostram que o imunizante foi seguro e eficiente para evitara infecção pelo Sars-Cov-2 em macacos.

Até está quinta, mais de 40 das vacinas em desenvolvi­mento passam por uma das fases de testes clínicos, segundo a OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde). Outras 156 estão nas fases pré-clínicas. Segundo especialis­tas, serão necessário­s vários tipos de imunizante­s diferentes para conter a atual pandemia. As vacinas usam métodos diversos para gerar proteção e devem ter eficácia variada quando usadas em grupos diferentes.

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16.set.20/Bahrain News Agency/AFP O príncipe do Bahrein, xeique Salman bin Hamad Al-Khalifa, recebe dose em teste da vacina da Sinopharm contra a Covid, em teste

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