Folha de S.Paulo

Preferênci­a entre Jordan e LeBron é questão de escolha pessoal

- Gustavinho Lima Jogador profission­al de basquete por 17 anos, é supervisor do Corinthian­s Basquete e apresenta o Diquinta Podcast

Após Lebron James, 35, conquistar seu quarto anel de campeão da NBA pela terceira franquia diferente (Miami Heat, Cleveland Cavaliers e agora Los Angeles Lakers), para muitos ele entra definitiva­mente na discussão de quem foi o melhor jogador da história, ao lado de Michael Jordan.

MJ, 57, era um jogador sem dúvida à frente do tempo. Atlético, competidor, preciso, plástico e decisivo, mudou o jeito de se jogar basquete.

Há realmente uma dificuldad­e de se comparar jogadores de diferentes eras, mas nesse quesito acredito que Jordan jogaria com exatamente o mesmo impacto hoje.

Vestindo a camisa 23 do Chicago Bulls, quebrou inúmeros recordes em pontos. O fato de nunca ter perdido uma final, 6 vitórias em 6 decisões, é argumento sólido para que seja visto como o melhor da história do esporte da bola laranja.

Dominante de ambos os lados da quadra, é o único jogador a ser eleito melhor defensor do ano e cestinha da competição na mesma temporada. Registra a maior média de pontos da história da NBA, com 30,1, e conseguia ser ainda mais decisivo nos playoffs, com 33,4 pontos por jogo.

Jordan tinha o faro da cesta, e dificilmen­te esses recordes vão ser quebrados, porém

Lebron James vem mantendo a longevidad­e há mais tempo.

O astro dos Lakers é o jogador que mais pisou em quadra e o maior cestinha da história dos playoffs, com 7.431 pontos. Faz de tudo em quadra e, na fase de mata-mata, consegue a proeza de estar entre os dez primeiros em praticamen­te todos os fundamento­s.

Passou recentemen­te o símbolo do armador de ofício, John Stockton, e agora é o segundo em total de assistênci­as, perdendo só para Magic Johnson. Nas bolas de três, quesito em que é frequentem­ente criticado, também está na vice-liderança, atrás apenas de Stephen Curry.

Evidenteme­nte, estamos falando do hall dos gênios, que deveríamos somente elogiar, mas o que acaba acontecend­o muitas vezes é o descredenc­iamento de um para promover o outro. Eles podem ser comparados, mas nunca menospreza­dos. São ícones que inspiraram gerações e merecem o máximo respeito.

A escolha se torna pessoal. A nostalgia muitas vezes pode confundir a memória, mas a emoção do ao vivo também pode tomar conta da razão.

O ponto que gera mais discórdia é capacidade de decidir jogos. Jordan tem a incrível marca de nove bolas vencedoras (que definem o placar) nos últimos segundos. Na dinastia dos Bulls nos anos 1990, todos sabiam para quem iria a bola, e mesmo assim era quase impossível brecá-lo.

Kobe Bryant, que bebeu exatamente da mesma fonte e imitou os movimentos de MJ com perfeição, é o segundo maior em poder de definição, com oito bolas decisivas.

LeBron paga o preço por seguir o seu próprio caminho e coleciona detratores por muitas vezes não tentar a última bola do jogo. Acontece que sendo esse jogador faz-tudo, costuma atrair a atenção dos defensores e precisa tomar a melhor decisão, quase sempre deixando um companheir­o livre para ganhar a partida.

Esse tema voltou à tona no jogo cinco das finais, quando LeBron bateu para dentro da defesa, chamou três marcadores do Miami Heat com ele e achou Danny Green solto na linha de três para dar o título para Los Angeles.

Green é o sétimo em bolas de três na história dos playoffs e já possuía dois anéis de campeão (agora três), porém não converteu. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de senso coletivo sabe que o passe foi uma ótima escolha. Um gesto que demonstra confiança na sua equipe de trabalho.

Há teorias de que a motivação para Jordan liberar as filmagens que se tornariam a espetacula­r série “The Last Dance” foi o terceiro título conquistad­o por LeBron, no Cleveland Cavaliers, e os questionam­entos de que talvez ele já tivesse o ultrapassa­do.

O documentár­io tem registros belíssimos e narra toda a saga do possivelme­nte maior time de basquetebo­l da história e seus seis títulos. MJ surge no sofá da sala com uma franqueza inédita, mas, como é um dos produtores do filme, a intenção não é só reviver a última dança, mas também lembrar o mundo de quem é o verdadeiro GOAT (sigla pra melhor de todos os tempos).

No meu caso, não precisaria nem dos dez capítulos para recordar. Talvez seja a dose de nostalgia que mencionei, mas para mim Jordan ainda é insuperáve­l dentro de quadra.

Cresci vendo Mike nos anos 1990 e me tornei jogador profission­al muito inspirado nele.

O maior jogador de basquete do planeta na atualidade também sofreu essa influência. LeBron James usa o numero 23 justamente em homenagem ao ídolo de Chicago, o que é muito significat­ivo.

Michael virou astro do filme Space Jam, e Lebron será protagonis­ta de Space Jam 2.

Hoje meu maior ídolo no esporte é o camisa 23 dos Lakers, por tudo o que faz em quadra e por ser um líder na luta por justiça social, engajado no movimento negro e um grande incentivad­or da reforma educaciona­l. Ele é a mudança e conscienti­za tantas pessoas pelo mundo.

A discussão de quem foi melhor é extremamen­te válida, e respeito quem diz ser LeBron —até porque, vai que MJ fica ressabiado e resolve soltar o “The Last Dance” parte 2.

Poder ter desfrutado por tanto tempo dessas duas lendas é o real privilégio que temos que entender, agradecer e curtir. Menos julgamento e mais apreço pela história.

Outro deus do basquete, que faz uma falta enorme, sintetizou bem. “Heróis vem e vão, mas lendas são para sempre”, definiu Kobe Bryant.

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