Folha de S.Paulo

Luxemburgo e os estrangeir­os

Técnico trabalhou muito no Palmeiras, mas não fez jovem time jogar

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

O dia da queda de Vanderlei Luxemburgo do Palmeiras coincide com os três primeiros colocados na tabela de classifica­ção treinados por estrangeir­os: Atlético-MG, Internacio­nal e Flamengo têm Sampaoli, Coudet e Dome.

Parece simples dizer que o futebol brasileiro trocou o velho pelo novo, os técnicos de sucesso da década de 1990 pela intensidad­e trazida da Europa.

É parte da história. A análise detalhada do caso Palmeiras mostra que não é tão fácil. A cobrança da torcida pelo nome do argentino Gabriel Heinze esbarra na certeza de que o ex-treinador do Vélez exigiria investimen­tos que não haverá neste momento.

Foi um erro escolher Luxemburgo, quando não se conseguiu o acerto com Jorge Sampaoli, no ano passado. Galiotte fez as contas na ponta do lápis e entendeu que seria um sacrifício viável. Quando avisou o treinador argentino que sua resposta era sim, ouviu novas exigências. Então, o Palmeiras desistiu.

Equivocada­mente, optou por Luxemburgo.

Se fosse Sampaoli, haveria muitos atritos. O Palmeiras tinha 36 jogadores e hoje tem 27. Reduziu a folha de pagamento em 25% e apostou em 11 jogadores da base.

Sampaoli chega todos os dias às 6h30 da manhã à Cidade do Galo, passa a mão no telefone e pede reforços.

Com a mesma frequência, as mesas redondas repetem que o Palmeiras é o clube mais rico do país e o segundo melhor elenco, abaixo apenas do Flamengo.

O projeto mudou. O novo técnico terá de tentar ganhar a Libertador­es com um elenco de 11 jovens que ninguém conhecia em janeiro: Patrick de Paula, Gabriel Menino, Danilo, Lucas Esteves, Renan, Wesley, Henry, Gabriel Silva, Pedrão, Vinicius e Gabriel Veron.

Desses, conhecia-se Veron, porque foi eleito craque da Copa do Mundo sub-17. Atenção: não era nem sub-20.

Nada disso absolve Luxemburgo. O projeto de renovação está certo, precisa de um treinador moderno, mas exige paciência que as redes sociais não oferecem.

Foi incrível a avalanche de tuítes dizendo que ele estava demitido às 20h de quarta-feira (14), enquanto a reunião da diretoria apenas começava e havia argumentos pela permanênci­a.

Luxemburgo foi para a entrevista coletiva perto das 22h30, mais de duas horas depois da derrota para o Coritiba. Quando saiu dela, aparenteme­nte ainda empregado, o dilema das redes se revelou, como se a carniça houvesse desapareci­do debaixo dos olhos dos urubus.

Então, meia hora mais tarde, confirmou-se a demissão.

Não se trata de defender ou atacar a gestão de Luxemburgo. Jornalista não é advogado nem promotor. Muito melhor é analisar com isenção, sem ódio nem paixão. Luxemburgo não faz um trabalho incontestá­vel desde o Santos de 2006, que ganhou o Estadual contra o Corinthian­s de Tevez e o

São Paulo campeão mundial.

Estávamos antes da Copa do Mundo e, depois dela, a CBF optou por Dunga, em vez do técnico campeão brasileiro de 2003 e 2004. Embora Luxemburgo não admita, a escolha lhe caiu como um raio. Por que trabalhar em seu mais alto nível, se ele não dirigiria mais um grande clube europeu, depois do Real Madrid, nem voltaria à seleção?

Um taxista de Foz do Iguaçu conta que apanhava Luxemburgo no aeroporto depois dos treinos no Grêmio, em 2012, levava-o para o cassino e o devolvia para o avião na manhã seguinte. Voava para dar o treino da tarde em Porto Alegre.

No Palmeiras, trabalhou muito. Concentrou-se em fazer uma equipe jovem e bonita de se ver jogar. Não conseguiu. Quem viu o velho Luxemburgo não verá mais. Mas não é só por seu estilo que o Palmeiras ainda não conseguiu ser a nova Academia.

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