Com ‘Desalma’, Globoplay mira expansão para além do Brasil
Série de terror original da plataforma mostra face pouco conhecida do país por meio de rituais sombrios e bruxas
O Brasil é um país de muitas faces, mas algumas delas ainda são ocultas para muita gente. Tradições e manifestações culturais de várias regiões costumam dar as caras em filmes, séries e novelas feitos aqui, mas é com certo ineditismo que a mais nova produção do Globoplay, “Desalma”, leva às massas uma cultura que é quase desconhecida mesmo em terras brasileiras.
“É um Brasil que não é muito o Brasil”, diz Ana Paula Maia, criadora e roteirista da série, sobre o cenário que escolheu para sua trama de tons sobrenaturais —o dos rituais promovidos em cidades de influência eslava no sul do país.
Com estreia marcada para a semana que vem na plataforma de streaming da Globo, “Desalma” se passa na cidadezinha fictícia de Brígida. Mas enquanto o lugar é invenção de Maia, os costumes e ritos que movimentam a trama encontram inspiração nas colônias ucranianas que ainda hoje preservam um pedaço de leste da Europa no Brasil.
“Elas são um outro mundo. Até as subdivisões dos lugares têm outros nomes. É algo muito mesclado e muito rico, com uma paisagem lindíssima e envolta em mistérios.”
Esses mistérios atravessam os personagens do seriado, que se ancora no terror para acompanhar uma mulher que se muda com as filhas para a tal Brígida. A paz que procura, no entanto, é ameaçada pelo Ivana Kupala, celebração do solstício de verão que fora banida três décadas antes.
No elenco principal, estão Maria Ribeiro, Cláudia Abreu e Cassia Kiss, esta no papel de uma bruxa de longos cabelos brancos e semblante austero.
“Eu sempre fui cobrada para escrever sobre mulheres. Quando eu decidi falar sobre bruxaria, se tornou quase impossível não falar delas”, conta Maia, autora de livros premiados, como “Assim na Terra como Embaixo da Terra”.
“Quando a gente fala de bruxas, elas são muito mais interessantes que os bruxos —as mulheres evocam um mistério maior. E a bruxa que a gente conhece no Ocidente vem das tradições do leste europeu.”
Nesta investida no terror, o Globoplay busca se descolar da imagem de noveleira e alçar novos voos, mirando o mercado internacional. Não é à toa que tanto a trama quanto a estética de “Desalma” ecoam produções estrangeiras, como “Midsommar” e “Dark”.
Da última, pegou emprestado o designer de som Alexander Wurz, o que corrobora com a ideia de que a série quer extrapolar fronteiras, bem como fez a alemã “Dark”, um sucesso mundo afora apesar da suposta barreira do idioma.
“Eu acredito na possibilidade [de a série fazer sucesso lá fora]. Saber a gente não sabe, mas eu acredito que o projeto tem essa oportunidade. Eu acho que a gente vai conseguir agradar a vários públicos.”
O Globoplay aposta alto, já que uma segunda temporada de “Desalma” está em desenvolvimento. Resta saber se a série vai enfeitiçar o público.