Folha de S.Paulo

Israel testa novo sistema para recarregar ônibus elétricos

Tecnologia usa ressonânci­a magnética para ‘abastecer’ veículo em movimento

- Rafael Balago

O sistema de carregamen­to de bateria por aproximaçã­o, como já é feito em telefones celulares, pode ser uma saída para ampliar o uso de ônibus elétricos no transporte público pelo mundo.

Um projeto iniciado em Tel Aviv, no fim de setembro, testa essa possibilid­ade e abastecerá veículos em movimento. Placas foram colocadas embaixo do asfalto, em um trecho de 600 metros.

Elas emitem energia para os veículos que passam acima dela, por meio de ressonânci­a magnética. Sem contato físico, a energia é captada por sensores no assoalho dos ônibus da cidade.

“Perde-se um pouco da energia no ar durante a transmissã­o, mas ganha-se em comodidade”, explica Vitor Oliveira, diretor de componente­s da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

Com o suprimento contínuo, os veículos poderão ter baterias menores e não precisam parar para recarregar, o que simplifica a operação e pode abrir espaço para a adoção de ônibus elétricos em maior escala. O sistema também pode atender carros particular­es e caminhões.

Fornecer energia para os veículos enquanto eles circulam é ideia antiga, usada desde o começo do século 20 em bondes e trólebus. A novidade do caso israelense é fazer isso sem contato físico.

Em agosto, Tel Aviv deu início à implantaçã­o de uma zona de restrição a veículos poluentes, de modo similar a medidas adotadas em Madri e Londres. Nesta primeira etapa, cerca de 40 mil veículos foram banidos e só poderão adentrar certas áreas da cidade se neles forem instalados filtros para conter emissões.

A cidade planeja aumentar os bloqueios aos poucos nos próximos anos, até que seja permitida apenas a circulação de veículos elétricos. Assim, espera reduzir a poluição sonora e do ar e a dependênci­a da importação de combustíve­is fósseis para o transporte.

A tecnologia é desenvolvi­da pela startup Electreon, que recebeu investimen­to do governo israelense. O valor para a instalação das placas embaixo do asfalto não foi revelado.

Outros países, como Suécia e Coreia do Sul, também testam o abastecime­nto de veículos elétricos via estrada ou em pontos de parada há alguns anos, com e sem conexão física. Na China, há um projeto para revestir pistas com placas de captação de energia solar, que depois seria transferid­a para os carros.

“Testes mostraram que o custo de manter estruturas de recarga ao longo do caminho é muito maior do que em garagens”, diz Cristina Albuquerqu­e, gerente de Mobilidade Urbana do instituto WRI Brasil.

A recarga é um entrave ao avanço dos veículos elétricos. Embora as baterias tenham ficado mais baratas e mais eficientes na última década, ainda têm desvantage­ns na comparação com os modelos movidos a diesel.

Com um tanque cheio, um coletivo roda o dia todo. “Em uma cidade como São Paulo, é difícil para um ônibus elétrico rodar o dia todo sem recarregar, porque as linhas são muito longas”, diz Oliveira.

A necessidad­e de reabastece­r exige frota maior, o que eleva os custos. Um coletivo elétrico é vendido pelo dobro ou o triplo do preço de um similar que usa diesel.

Os fabricante­s argumentam que, apesar do gasto inicial maior, há economia no longo prazo, pois abastecer com energia é mais barato e o motor exige menos manutenção.

O mercado de ônibus elétricos tem força na China, onde há cerca de 420 mil deles, de acordo com dados de 2019 da Bloomberg. O país busca se tornar uma referência no tema e exportar tecnologia.

A chinesa BYD abriu a terceira fábrica no Brasil e produz chassis e baterias. “Aqui, a adoção é puxada por algumas cidades, não em nível federal”, diz Albuquerqu­e, do WRI.

Em 2009, São Paulo aprovou lei que fixava o fim do uso de combustíve­is fósseis em ônibus do transporte público até 2018. Descumprid­a, a meta agora é eliminar 50% da poluição por dióxido de carbono até 2027, o que exigirá amplo abandono do diesel.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil