Israel testa novo sistema para recarregar ônibus elétricos
Tecnologia usa ressonância magnética para ‘abastecer’ veículo em movimento
O sistema de carregamento de bateria por aproximação, como já é feito em telefones celulares, pode ser uma saída para ampliar o uso de ônibus elétricos no transporte público pelo mundo.
Um projeto iniciado em Tel Aviv, no fim de setembro, testa essa possibilidade e abastecerá veículos em movimento. Placas foram colocadas embaixo do asfalto, em um trecho de 600 metros.
Elas emitem energia para os veículos que passam acima dela, por meio de ressonância magnética. Sem contato físico, a energia é captada por sensores no assoalho dos ônibus da cidade.
“Perde-se um pouco da energia no ar durante a transmissão, mas ganha-se em comodidade”, explica Vitor Oliveira, diretor de componentes da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).
Com o suprimento contínuo, os veículos poderão ter baterias menores e não precisam parar para recarregar, o que simplifica a operação e pode abrir espaço para a adoção de ônibus elétricos em maior escala. O sistema também pode atender carros particulares e caminhões.
Fornecer energia para os veículos enquanto eles circulam é ideia antiga, usada desde o começo do século 20 em bondes e trólebus. A novidade do caso israelense é fazer isso sem contato físico.
Em agosto, Tel Aviv deu início à implantação de uma zona de restrição a veículos poluentes, de modo similar a medidas adotadas em Madri e Londres. Nesta primeira etapa, cerca de 40 mil veículos foram banidos e só poderão adentrar certas áreas da cidade se neles forem instalados filtros para conter emissões.
A cidade planeja aumentar os bloqueios aos poucos nos próximos anos, até que seja permitida apenas a circulação de veículos elétricos. Assim, espera reduzir a poluição sonora e do ar e a dependência da importação de combustíveis fósseis para o transporte.
A tecnologia é desenvolvida pela startup Electreon, que recebeu investimento do governo israelense. O valor para a instalação das placas embaixo do asfalto não foi revelado.
Outros países, como Suécia e Coreia do Sul, também testam o abastecimento de veículos elétricos via estrada ou em pontos de parada há alguns anos, com e sem conexão física. Na China, há um projeto para revestir pistas com placas de captação de energia solar, que depois seria transferida para os carros.
“Testes mostraram que o custo de manter estruturas de recarga ao longo do caminho é muito maior do que em garagens”, diz Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do instituto WRI Brasil.
A recarga é um entrave ao avanço dos veículos elétricos. Embora as baterias tenham ficado mais baratas e mais eficientes na última década, ainda têm desvantagens na comparação com os modelos movidos a diesel.
Com um tanque cheio, um coletivo roda o dia todo. “Em uma cidade como São Paulo, é difícil para um ônibus elétrico rodar o dia todo sem recarregar, porque as linhas são muito longas”, diz Oliveira.
A necessidade de reabastecer exige frota maior, o que eleva os custos. Um coletivo elétrico é vendido pelo dobro ou o triplo do preço de um similar que usa diesel.
Os fabricantes argumentam que, apesar do gasto inicial maior, há economia no longo prazo, pois abastecer com energia é mais barato e o motor exige menos manutenção.
O mercado de ônibus elétricos tem força na China, onde há cerca de 420 mil deles, de acordo com dados de 2019 da Bloomberg. O país busca se tornar uma referência no tema e exportar tecnologia.
A chinesa BYD abriu a terceira fábrica no Brasil e produz chassis e baterias. “Aqui, a adoção é puxada por algumas cidades, não em nível federal”, diz Albuquerque, do WRI.
Em 2009, São Paulo aprovou lei que fixava o fim do uso de combustíveis fósseis em ônibus do transporte público até 2018. Descumprida, a meta agora é eliminar 50% da poluição por dióxido de carbono até 2027, o que exigirá amplo abandono do diesel.