Como foi a campanha de Boulos
Trajetória
Filho de médicos conhecidos na cidade, Boulos trocou na adolescência o Colégio Equipe, tradicional escola particular paulistana, por uma pública. Chegou a morar em ocupações da cidade depois que entrou em movimento de moradia e hoje vive hoje no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, com apenas um carro popular como bem declarado. Formado em filosofia e mestre em psiquiatria pela USP, Boulos milita desde o começo dos anos 2000 no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), grupo que luta por moradias em áreas urbanas. Ele ganhou espaço no movimento mesmo sem vir de sua base e comandou invasões com milhares de assentados pelo estado. Filiou-se ao PSOL em 2018 para concorrer à Presidência.
Pré-candidato
Em julho deste ano, antes do início da campanha, Boulos afirmou, em entrevista à Folha: “Pelo clima que tenho visto, de decepção com o bolsonarismo, cansaço com a hegemonia do tucanato e desejo de renovação, acho que a cidade tem condição de acolher o projeto que eu vou apresentar”. No mesmo mês, nas prévias do partido, o coordenador do MTST e a deputada federal Luiza Erundina, como vice, foram escolhidos, com 61% dos votos, os pré-candidatos do PSOL na disputa pela Prefeitura de São Paulo
Evolução nas pesquisas
Na pesquisa Datafolha divulgada em 8 de outubro, o psolista aparecia com 15% dos votos válidos, atrás de Bruno Covas (PSDB), com 25%, e Celso Russomanno (Republicanos), com
33%. Nos levantamentos seguintes passou para 17% (20 e 21.out), 16% (3 e 4.nov), 17% (9 e 10.nov) e 17% (13 e 14.nov). Terminou o primeiro turno com 20,2% dos votos. Já no primeiro levantamento do segundo turno, contra Covas, tinha 42% (17 e 18.nov) dos votos válidos, depois 45% (23.nov), 46%
(24 e 25.nov) e 45% (27 e 28.nov). Terminou o segundo turno com 40,6% dos votos
Declaração de bens
Boulos omitiu de sua declaração de bens enviada à Justiça Eleitoral uma conta bancária em que recebe remuneração por aulas e textos que produz. O psolista afirmou à Folha, no fim de outubro, após ser questionado sobre a ausência da informação em seu registro de candidatura, que corrigiu na Justiça os dados sobre seu patrimônio). O candidato declarou ter uma conta no banco, com saldo de R$ 579,53.
Em um vídeo de sua campanha, o coordenador do MTST descreveu um vínculo atual como professor da Escolha e Sociologia e Política que a entidade negou existir. Boulos afirmou na gravação disponível em seu site que atualmente dá cursos na faculdade. A escola declarou que ele foi professor em dois cursos de curta duração no ano passado, mas que, desde novembro de 2019, não há mais nenhum vínculo
Apoio de Lula
Segundo petistas próximos do ex-presidente, uma participação mais efetiva de Lula na campanha de Jilmar Tatto (PT) no primeiro turno se chocaria com sua ligação pessoal com o na época pré-candidato do PSOL, que se estreitou muito durante a prisão do petista em Curitiba, de abril de
2018 a novembro de 2019. Na liderança da Frente Povo
Sem Medo, coalizão de movimentos de esquerda, Boulos organizou atos condenando a prisão que valeram a gratidão de Lula. No segundo turno, o PT apoiou abertamente Boulos
Desempenho em debates
No debate da Band, o primeiro da campanha, com 11 participantes e tempo exíguo de fala para cada postulante,
Boulos questionou o exgovernador Márcio França (PSB) sobre o encontro que ele havia tido com presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em agosto, o que despertou críticas a ele em setores da esquerda. No debate da TV Cultura protagonizou um embate com Celso Russomanno (Republicanos). O deputado federal acusou o psolista de contratar empresas fantasmas em sua campanha. Boulos respondeu chamando a acusação de “cara de pau” e lembrou que a denúncia foi feita primeiro por Oswaldo Eustáquio, que foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news. Antes mesmo do encontro, A Justiça Eleitoral já havia determinado que reportagem sobre isso fosse retirada do ar por não refletir a verdade. O primeiro debate na TV aberta do segundo turno foi marcado sobre discussão sobre o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), o vice de
Covas, Ricardo Nunes (MDB), e o combate ao coronavírus
Boulos ‘paz e amor’
Durante a campanha, o candidato deixou de lado a sisudez dos tempos de militância e lançou uma espécie de “Boulos paz e amor”, mirando os mais jovens. Um reflexo da nova atitude foi vista em sua participação no Flow, um dos podcasts mais ouvidos do país, com ouvintes mais identificados com pautas liberais e da direita
Presença digital
Desde que o o Índice de Popularidade Digital (IPD), da consultoria Quaest, começou a ser monitorado em São Paulo, no início de outubro, Boulos ocupou o topo do ranking. Durante a campanha, o psolista explorou memes e linguagem descontraída
Reuniões com empresários
Em uma série de lives que chegaram em alguns casos a reunir até 30 participantes, Boulos fez acenos a executivos do mercado financeiro e empresas de áreas como shopping centers, aviação, tecnologia, data centers, autopeças, celulose e agronegócio em geral. Foram cinco encontros, com duração de cerca de uma hora e meia cada, iniciados em agosto e que se estenderam até as vésperas do primeiro turno. Alguns dos primeiros contatos foram intermediados pela empresária Paula Lavigne e seu grupo 342 Artes
Coronavírus
Na sexta-feira (27), Boulos informou que deu positivo o exame para Covid-19 a que ele se submeteu na quinta-feira (26). O debate da TV Globo entre ele e Covas, que estava marcado para a noite de sexta, foi cancelado pela emissora. No sábado (28), apresentou sintomas da doença — febre, dor no corpo e leve dificuldade respiratória. Por medida de precaução, ele recebeu à tarde uma visita médica em sua casa, no Campo Limpo (zona sul). Com isso, na reta final, a campanha de rua foi assumida pela vice,
Luiza Erundina, 85