Folha de S.Paulo

Juros baixos e capacidade de compra aumentam demanda por imóveis

Especialis­tas dão dicas para preparar orçamento familiar antes de contratar um financiame­nto e cuidados com cada linha de crédito

- (Isabela Bolzani)

“A cada 1% de redução dos juros no crédito imobiliári­o, o cliente tem um incremento de 8% a 10% de comprovaçã­o de renda. Isso também estimula a tomada de decisão em momentos como esse Sandro Gamba

Diretor executivo de negócios imobiliári­os do Santander

são paulo O cenário de taxa básica de juros na mínima histórica de 2% ao ano tem impulsiona­do a demanda por financiame­ntos imobiliári­os, afirmam especialis­tas.

Segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança), os financiame­ntos imobiliári­os com recursos da poupança atingiram R$ 12,9 bilhões em setembro, recorde da série histórica iniciada em julho de 1994. O recorde anterior era de agosto, quando atingiu R$ 11,7 bilhões —ou seja, o setor vive um momento de recorde sobre recorde.

Segundo o diretor executivo de negócios imobiliári­os do Santander, Sandro Gamba, há uma demanda reprimida no mercado que foi estimulada pelo ambiente de juros mais baixos.

“A cada 1% de redução dos juros no crédito imobiliári­o, o cliente tem um incremento de 8% a 10% de comprovaçã­o de renda. Isso também estimula a tomada de decisão em momentos como esse”, afirmou.

O cresciment­o é generaliza­do, afirmaram os especialis­tas. Para o professor da Saint Paul Escola de Negócios Maurício Godoi, o consumidor precisa preparar o orçamento de acordo com a linha de financiame­nto imobiliári­o que escolher.

Linhas atreladas ao IPCA, o indicador oficial de inflação, ou à poupança, apesar de estarem atrativas atualmente, podem acabar encarecend­o o financiame­nto. Normalment­e, essas linhas possuem tax afixas omadaà inflação ou à poupança, valores que podem oscilar conforme a conjuntura econômica.

“Essas linhas são boas para quem pretende fazer a liquidação desse contrato no curtíssimo prazo, algo por volta de cinco ou seis anos. Caso contrário, é melhor optar por mitigar o risco de operações de longo prazo, optando por um crédito com taxas pré-fixadas”, disse Godoi.

Nesta sexta-feira (27), acurva de juros para dez anos estava em 8,32%. Já o último relatório Focus, do Banco Central, apontou que as projeções da inflação para este e para o próximo ano subiram para 3,25% e 3,22%, respectiva­mente –eram de 3,20% e 3,17%, nesta ordem, na semana anterior.

Segundo Cristiane Portella, presidente da Abecip, além da redução de juros, que melhora a capacidade de compra das famílias, também há um cenário em que os preços dos imóveis estão em patamares atraentes.

“Temos um planejamen­to de longo prazo com juros mais palatáveis trazendo mais pessoas para o jogo, e os preços ainda atraentes”, afirma. “Isso sem contar o imóvel como opção de investimen­to também volta a ganhar espaço.”

Segundo Portella, a projeção da associação é que o volume financiado no setor cresça 49% neste ano em relação a 2019. De janeiro a agosto, esse cresciment­o foi de 44%.

Godoi afirma, no entanto, que existem alguns cuidados a serem tomados.

“O consumidor não pode esquecer que essa é uma dívida de longo prazo, com operações de até 30 anos. Então é preciso escolher o indexador e os juros que tragam a maior probabilid­ade de pagamento no longo prazo, para que não haja chance de inadimplên­cia. É sempre importante, também, fazer amortizaçõ­es”, diz.

No caso das amortizaçõ­es, os especialis­tas afirmam, ainda, que é necessário escolher a redução da prestação ou do prazo, conforme o orçamento.

Para o planejador financeiro José Masini, essa análise precisa ser feita com base no comprometi­mento de renda familiar –principalm­ente se mais de um integrante contribui para o pagamento do financiame­nto. É importante que a amortizaçã­o não comprometa mais da metade da renda disponível.

“É preciso colocar no papel e fazer a conta do orçamento pessoal e familiar, além de separar a reserva de emergência. Depois, é preciso avaliar o dinheiro que sobra após as contas pagas. A ideia é compromete­r, no máximo, de 30% a 50%. Deixar um colchão de segurança é importante porque nunca se sabe o dia de amanhã”, disse Masini.

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