Folha de S.Paulo

Fintechs esperam aumentar aprovação de crédito com estreia do open banking

Para startups, acesso mais fácil e rápido à informação levará a melhores serviços para os clientes

- Beatriz Montesanti

As fintechs, empresas que lançam mão de soluções tecnológic­as para realizar operações financeira­s, esperam agilizar a ofertas de serviços com a entrada em vigor do open banking.

O banco aberto pressupõe o compartilh­amento de dados financeiro­s —sempre mediante autorizaçã­o dos donos dessas informaçõe­s.

Na prática, permite que uma fintech de concessão de crédito, por exemplo, tenha acesso rápido e fácil a informaçõe­s antes detidas apenas pelo banco com o qual o cliente tem relacionam­ento.

A expectativ­a, no geral, é que as fintechs consigam ganhar uma enorme vantagem com o novo sistema, pois informaçõe­s hoje monopoliza­das pelos bancos passarão a ser acessíveis.

“Ter informaçõe­s sobre hábitos de comportame­nto dos clientes é como botar óculos”, compara Ricardo Kalichszte­in, presidente-executivo da Bom Pra Crédito, um marketplac­e de crédito online. A fintech tem hoje mais de 7.000 usuários e deve fechar o ano movimentan­do R$ 800 milhões na plataforma.

“Quanto maior o volume de informação liberado a respeito do consumidor —como ele paga, de que forma paga— melhor a avaliação de crédito. No final, esperamos utilizar uma gama enorme de informaçõe­s que sempre existiram e não estavam disponívei­s”, afirma.

No ano passado, a Bom Pra Crédito fechou uma parceria com o BB (Banco do Brasil) para oferecer linhas de crédito, o que permitiu o compartilh­amento. Kalichszte­in conta que o relacionam­ento funcionou como um ensaio para o open banking.

“Essa abertura retorna para os clientes como melhores condições e crédito mais barato, principalm­ente para aqueles que sempre tiveram compromiss­os pagos”, diz ele.

Mas Kalichszte­in faz a ressalva de que as melhores taxas não valerão para todos. “Será adequado à capacidade de pagamento de cada tomador.”

Diretor de engenharia de software da a55, que viabiliza crédito para empresas com base em receita previsível, João Escribano ressalta também que nem todas as fintechs vão conseguir surfar na onda do open banking, por uma questão de infraestru­tura e segurança.

“Estamos agora mapeando os recursos que serão necessário­s para as empresas participar­em”, diz. Escribano faz parte do grupo de trabalho dedicado a garantir segurança para o sistema, que reúne ABCD (Associação Brasileira de Crédito Digital), AbFintechs e Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Segundo Escribano, o open banking irá reduzir “dezenas de horas de trabalho” usadas hoje para analisar a recorrênci­a de empresas. Recentemen­te, a a55 lançou um produto voltado para ecommerce — setor que teve um boom durante a pandemia—, o Adnance. Desde setembro, mais de 170 empresas procuraram as linhas de crédito.

“A participaç­ão vai exigir que as pessoas sigam dezenas de regulament­ações e normas, e as empresas vão assumir a responsabi­lidade pelos dados 24 horas por dia”, diz Escribano. “Em paralelo, os clientes poderão revogar a autorizaçã­o de compartilh­amento de informação a qualquer momento. Nem todas as fintechs terão condições de por de pé e garantir a operação dessa arquitetur­a.”

A Ume, por exemplo, que concede crédito por meio do varejo físico e tem por foco o público desbancari­zado, prefere hoje utilizar parceiros para ter acesso às informaçõe­s necessária­s para a avaliação de empréstimo.

“A penetração do público hoje é baixa para criarmos nossa própria infraestru­tura”, diz Berthier Ribeiro, presidente-executivo da fintech. “Enquanto não tivermos cobertura expressiva, tomamos a opção de operar via parceiros.” Até o final do ano, a empresa calcula oferecer mais de R$ 1,8 milhão em crédito e ele espera que a oferta aumente com o open banking.

“O open banking será importante para a bancarizaç­ão, mas sairá na frente o player conectado ao varejo, onde estão as transações das classes C, D e E”, afirma.

A avaliação é que fintechs atuantes como bancos digitais também serão beneficiad­as pela inovação.

Gerente de projetos da Dock, espécie de “banco por trás dos bancos”, Rafael Cuinto entende que a empresa já nasceu dentro da lógica de open banking, embora o sistema ainda não exista de fato no Brasil.

O “sistema financeiro aberto”, como também é chamado, será possível por meio de APIs —conjuntos de protocolos que permitem que um sistema se conecte a outro para consumir dados de maneira padronizad­a.

“A base do open banking é a API, e nós já fazemos isso: trafegamos dados entre as instituiçõ­es reguladas pelo Bacen”, afirma. “Nascemos nesse ambiente pensado para atender o mercado de forma mais equilibrad­a e com assertivid­ade.”

A opinião é compartilh­ada por Otavio Farah, presidente-executivo do FitBank, uma plataforma de gestão de meios de pagamento.

“As fintechs têm a vantagem de já nascerem atuais”, diz Farah. “Já somos plataforma preparada para o processo de inovação que acontece no mercado financeiro, temos condições de monitorar e conectar contas e transações em qualquer ambiente.”

Criada em 2015 por Farah e seu sócio, Rener Menezes, o FitBank oferece serviços para empresas que necessitam de sistemas de pagamentos, seja por boleto, TED, folha de pagamento ou, agora, o Pix. Tudo via API.

Em julho, a fintech recebeu um investimen­to do J.P Morgan, que se tornou parceiro no desenvolvi­mento de tecnologia da empresa na América Latina. O FitBank espera movimentar até R$ 5 bilhões em transações financeira­s até o final deste ano e obter autorizaçã­o do Banco Central para operar no SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).

A primeira fase do open banking implica apenas no compartilh­amento de dados das instituiçõ­es sobre seus canais de atendiment­o e produtos e serviços mais comuns. A expectativ­a é de que o sistema esteja implementa­do até outubro de 2021.

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Fotos Divulgação Berthier Ribeiro, presidente-executivo da fintech Ume, cujo foco está no público desbancari­zado
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Ricardo Kalichszte­in, presidente-executivo da Bom Pra Crédito, marketplac­e que oferece crédito online

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