Folha de S.Paulo

Forças regionais herdam território­s do PT em cidades

Ex-prefeitos deixaram o PT para vencer por siglas como PSD e PP; do auge com 650 municípios em 2012, partido terá em janeiro só 183

- Felipe Bächtold

O espólio de território­s petistas nos municípios do país ficará sob influência de forças regionais de diferentes partidos, geralmente alinhadas com governador­es. De 2012, quando elegeu 650 prefeitos no Brasil, o PT se retraiu agora para 183 cidades.

são paulo O espólio de antigos território­s petistas nos municípios do país ficará a partir de janeiro sob influência de forças regionais de diferentes partidos, geralmente alinhadas com os governador­es.

Do auge vivido em 2012, quando elegeu 650 prefeitos Brasil afora, o partido se retraiu agora para 183 cidades —queda de 72% em oito anos.

Municípios que deram a vitória ao PT naquele ano agora elegeram, por exemplo, tucanos em São Paulo, o PSD no Paraná e o MDB no Pará.

São siglas que ganharam força nos municípios impulsiona­das pela permanênci­a no governo do estado —que, pela força política imposta, tende a atrair para o seu lado candidatos competitiv­os.

Em pelo menos seis cidades, prefeitos que se elegeram pelo PT há oito anos voltaram a ganhar agora, mas por outros partidos.

Este levantamen­to da Folha compara a situação atual com a de 2012 porque aquele foi o ano em que o PT mais conseguiu se espalhar pelo país em eleições municipais —e que coincidiu com o ápice da popularida­de do partido na Presidênci­a da República.

No pleito municipal de 2016, o PT já estava em declínio e encolheu à época 60% na quantidade de prefeitos eleitos.

A Bahia é um dos casos mais expressivo­s da mutação dos antigos território­s petistas. Mesmo tendo o governador desde 2007, o partido não conseguiu mais fazer frente a outras forças políticas no interior e passou de mais de 90 prefeitura­s obtidas há oito anos para 32 agora.

Curiosamen­te quem capturou a maior parte desse espólio foi um aliado do PT baiano, o PSD, que tem no estado o senador Otto Alencar o principal líder. Outros beneficiár­ios foram o DEM, do prefeito de Salvador, ACM Neto, e o PP.

Em São Paulo, tinham sido 74 prefeitura­s conquistad­as em 2012 ante apenas 4 agora —incluindo dois municípios grandes da região metropolit­ana da capital, Diadema e Mauá.

Vinte das antigas cidades do PT paulista irão a partir de 2021 para o PSDB, partido hegemônico no estado desde os anos 1990. Também se aproveitar­am do encolhimen­to o DEM e o MDB.

No Sul do país, conhecido por ter se tornado um reduto antipetist­a ao longo da década, forças locais mais tradiciona­is também cresceram à custa do enfraqueci­mento petista.

No Rio Grande do Sul, que chegou a eleger governador­es do partido em duas ocasiões, a quantidade de prefeitos eleitos caiu de 72 em 2012 para 23, agora. Quem se beneficiou com isso foram o MDB, PP e PDT, três agremiaçõe­s de capilarida­de histórica na região.

Uma das maiores cidades do estado, Canoas, de 348 mil habitantes, será governada por um ex-prefeito pelo PT.

Filiado desde os anos 1980, Jairo Jorge da Silva se projetou como aliado do ex-governador Tarso Genro, mas decidiu trocar de legenda durante a crise de 2016. Passou pelo PDT e agora se elegeu pelo PSD.

Eleitos em 2012 pelo PT e que hoje estão no PSD também venceram na paulista Joanópolis, na paranaense Cruz Machado e na paraense Itupiranga.

Conhecido pela proximidad­e com o bloco parlamenta­r do centrão, o PSD (que nega, no entanto, fazer parte dele) ficou em terceiro lugar no ranking de eleitos pelo país.

Em Agrolândia (SC), o eleito, ex-prefeito petista, foi para o PP. Em São Sebastião da Boa Vista (PA), o vencedor da disputa se mudou para o PL.

Em 2016, ano do impeachmen­t de Dilma Rousseff, ao menos 20% dos prefeitos que tinham sido eleitos pelo partido haviam deixado a sigla.

Mesmo com quatro vitórias seguidas nas eleições presidenci­ais, o PT sempre teve dificuldad­e histórica de ampliar seus domínios no âmbito dos municípios.

No quesito, o MDB tradiciona­lmente possui mais capilarida­de e alcance. Neste ano, novamente foi o primeiro no ranking de prefeitos eleitos.

Pela primeira vez desde a redemocrat­ização, o PT não venceu em nenhuma capital —ainda concorre em Macapá (AP), onde a eleição foi adiada no início do mês por causa de um apagão. Não fez prefeitos em quatro estados: Amapá, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Roraima.

A partir de 2021, a Bahia será o principal estado com prefeitura­s petistas, em 32 cidades. Anteriorme­nte, era Minas Gerais, onde o partido agora só fez 28 prefeitos —3% do total do estado.

Houve um forte recuo até em um dos principais redutos eleitorais petistas no país, o Piauí, onde o governador Wellington Dias está em seu quarto mandato.

No estado, o presidenci­ável Fernando Haddad teve 77% dos votos válidos no segundo turno de 2018, marca mais alta dele no país.

O PT fez 24 prefeitura­s no Piauí neste ano, com um saldo negativo de 14 em comparação com a eleição municipal de 2016.

Nos estados onde cresceu, a alta foi pouco expressiva. No Ceará, governado pelo também petista Camilo Santana, o partido subiu de 15 para 18 prefeitos. Também subiu no Sergipe (+3), Tocantins (+2) e Rio Grande do Norte (+1).

No estado do Rio, terceiro colégio eleitoral do país, foi apenas um prefeito eleito, em Maricá.

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Leo Caldas - 17.nov.19/Folhapress Apoiadores do PT participam do Festival Lula Live no Recife no fim do ano passado

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