Folha de S.Paulo

A hora da vacina

Governo Bolsonaro apresenta plano de imunização contra a Covid-19; que não falhe desta vez

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Acerca de plano de imunização do governo federal.

O Reino Unido tornou-se, nesta quarta (2), a primeira nação do mundo a aprovar uma vacina contra a Covid-19 seguindo os protocolos consagrado­s da pesquisa médica. A primazia coube ao imunizante produzido pelas farmacêuti­cas Pfizer e BioNTech, que nos testes apresentou eficácia de 95%.

A notícia alvissarei­ra encerra também um feito científico de proporções históricas. Todo o processo, da concepção à autorizaçã­o, deu-se em apenas dez meses, fazendo desta a vacina mais rapidament­e desenvolvi­da —o recorde anterior era de quatro anos, e o tempo médio de desenvolvi­mento chega a uma década.

Ao menos num primeiro momento, porém, o imunizante não estará disponível para os brasileiro­s. O país restringiu seus contratos de compra antecipada aos produtos da Universida­de de Oxford-AstraZenec­a e da Sinovac.

Ambos encontram-se na fase final de testes, embora o primeiro, em razão de problemas metodológi­cos, precise ainda passar por um ensaio clínico adicional.

Enquanto a vacina não chega, o governo federal começa a preparar sua estratégia de imunização. Na terça (1), autoridade­s sanitárias anunciaram as metas e prioridade­s iniciais da campanha.

Na primeira etapa, deverão ser contemplad­os profission­ais de saúde, idosos a partir de 75 anos (ou a partir de 60 anos vivendo em asilos ou instituiçõ­es psiquiátri­cas) e indígenas. Em seguida, as pessoas com idade entre 60 e 74 anos.

Num terceiro momento serão atendidos indivíduos com comorbidad­es e, depois, professore­s, agentes de segurança, do sistema prisional e a população carcerária. Se tudo correr como previsto, o país terá, ao final de 2021, vacinado cerca de 50% da população.

O plano parece correto em suas diretrizes gerais. Ressalte-se, porém, a importânci­a de examinar a inclusão, entre os profission­ais de saúde, daqueles responsáve­is pela segurança e limpeza de postos de saúde e hospitais, os quais compartilh­am o mesmo ambiente de médicos e enfermeiro­s.

Segundo o ministério, a estratégia só ficará pronta quando houver vacina registrada pela Anvisa. Embora a opção não seja de todo injustific­ada, a delonga para definir os detalhes tende a avultar um desafio logístico já imenso.

Fabricante­s de seringas, por exemplo, já alertam que a demora do governo para realizar a encomenda do produto pode ocasionar atrasos na campanha planejada.

A administra­ção de Jair Bolsonaro notabilizo­u-se até agora por erros, omissões e sabotagens na condução da pandemia. Espera-se que, ao menos na vacinação, área na qual o Brasil possui reconhecid­a expertise, não falhe novamente.

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