Folha de S.Paulo

Empresa que contratou ex-juiz faturou R$ 17,6 mi com Odebrecht

- Vinicius Konchinski

curitiba e são paulo | uol A Alvarez & Marsal, empresa de consultori­a da qual Sergio Moro acaba de se tornar sócio-diretor, já faturou R$ 17,6 milhões com o processo de recuperaçã­o judicial do grupo Odebrecht.

O conglomera­do de empresas recorreu à Justiça para tentar renegociar suas dívidas e escapar da falência depois de ter sido investigad­o pela Operação Lava Jato, em cujos processos Moro foi juiz.

Com sede nos Estados Unidos, a Alvarez & Marsal foi nomeada em junho do ano passado pela Justiça de São Paulo como administra­dora-judicial no processo de recuperaçã­o da Odebrecht. Pelo serviço, tem direito a receber honorários, que hoje chegam a R$ 1,1 milhão por mês.

Essa parcela foi fixada pelo juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falências de São Paulo. O valor dos pagamentos, no entanto, é provisório.

A consultori­a confirmou ao UOL que já recebeu a soma de R$ 17,6 milhões pela recuperaçã­o da Odebrecht. O montante final ao qual a empresa terá direito por sua atuação no processo ainda não foi definido pela Justiça. A própria consultori­a sugeriu ao juiz da recuperaçã­o que receba um total de R$ 22,4 milhões por 30 meses de trabalho na causa.

Antes disso, em julho de 2019, a companhia havia solicitado receber R$ 1,5 milhão por mês em honorários. A Odebrecht, por sua vez, pediu à Justiça que os honorários sejam reduzidos a R$ 400 mil por mês já desde novembro, chegando a R$ 300 mil mensais a partir de maio do ano que vem.

A Odebrecht não foi a única empresa investigad­a pela Lava Jato que recebeu serviços da Alvarez & Marsal. A OAS também entrou em recuperaçã­o judicial após ser implicada na investigaç­ão. A consultori­a foi nomeada pela Justiça para administra­r o processo envolvendo a empreiteir­a. Receberá R$ 15 milhões.

Outra construtor­a, a Queiroz Galvão, contratou a consultori­a da Alvarez & Marsal para se reestrutur­ar financeira­mente, em crise depois de ser investigad­a na Lava Jato.

Também a Sete Brasil, empresa criada para a exploração do pré-sal, contratou a consultori­a para assessorá-la enquanto enfrentava recuperaçã­o judicial desencadea­da após denúncias de corrupção.

Nesses dois casos, o UOL não conseguiu apurar quanto a Alvarez & Marsal recebeu de cada empresa. A consultori­a não divulgou o valor.

Moro deixou a magistratu­ra para virar ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (sem partido), do qual saiu rompido neste ano, acusando tentativa de interferên­cia do presidente na Polícia Federal.

Ao ser apresentad­o como sócio-diretor pela consultori­a, Moro foi citado como um especialis­ta em liderar investigaç­ões anticorrup­ção complexas relacionad­as a crimes de colarinho branco.

O anúncio da contrataçã­o foi feito pelo site da empresa. Pelo Twitter, Moro destacou a contrataçã­o e disse que não há conflitos de interesse na atuação, já que não vai atuar na advocacia.

“Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultori­a internacio­nal Alvarez & Marsal para ajudar a empresa a fazer coisa certa, com políticas de integridad­e e anticorrup­ção. Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, escreveu.

Enquanto juiz federal em Curitiba, em junho de 2015, Moro ordenou a prisão do ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em uma das fases da Lava Jato. Em março do ano seguinte, também condenou Marcelo a 19 anos e quatro meses de prisão por crimes como corrupção e organizaçã­o criminosa.

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