Folha de S.Paulo

Democratas pedem proteção a Talíria Petrone contra Bolsonaro

Ala à esquerda pressiona Biden a endurecer retórica contra governo brasileiro

- Patrícia Campos Mello

SÃO PAULO Um grupo de 22 deputados do Partido Democrata americano divulgou nesta quarta (2) uma carta de solidaried­ade a Talíria Petrone, deputada federal (PSOL-RJ), com críticas às políticas “antidemocr­áticas e xenófobas” do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. A carta antecipa as pressões sobre o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, para que endureça a retórica contra o líder brasileiro.

Petrone teve de deixar o Rio com sua filha de cinco meses após ser notificada sobre mensagens de áudio com ameaças de morte. A deputada vem sofrendo intimidaçõ­es há tempos e, em setembro, acionou a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU).

Na carta, os congressis­tas americanos mencionam o assassinat­o da vereadora Marielle Franco, em 2018, e ameaças contra o ex-deputado Jean Wyllys, que deixou o país, e dizem que “líderes afrobrasil­eiros da oposição não têm recebido proteção adequada do governo brasileiro para garantir sua segurança”.

Deputados americanos democratas já vinham criticando diversos aspectos do governo Bolsonaro, principalm­ente em questões de direitos humanos e política ambiental. Com a vitória democrata, a influente ala mais à esquerda do partido terá poder para pressionar Biden.

“Ao eleger Joe Biden, os americanos criaram uma oportunida­de para nosso país se distanciar das políticas autoritári­as e racistas abraçadas pelo governo Trump. É imperativo que o governo Biden e os membros do Congresso defendam os direitos de trabalhado­res ao redor do globo, incluindo ativistas afro-brasileiro­s, protetores de terras indígenas e sindicalis­tas no Brasil”, disse à Folha, em nota enviada por email, o deputado Andy Levin, um dos signatário­s da carta.

“Isso significa encorajar o Brasil a se afastar do racismo, da destruição ambiental e do corporativ­ismo defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro, cuja negação da pandemia de Covid-19 e exaltação de um período violento da história brasileira ecoam de forma sinistra a ascensão de supremacis­tas brancos e da xenofobia nos EUA e outros países.”

A carta é liderada pela deputada Susan Wild e conta com apoio de deputados como Joaquin Castro, Alcee L. Hastings, Mark Pocan, Henry C. Hank Johnson, Alan Lowenthal, Deb Haaland (cotada para assumir o comando do Departamen­to do Interior no governo Biden), Raúl M. Grijalva, Ro Khanna, e Ilhan Omar.

Eles pedem uma investigaç­ão completa e imparcial para identifica­r e processar os responsáve­is pelas ameaças a Petrone.

“Minha esperança é que o próximo governo americano vai passar esse recado para o presidente Bolsonaro, e que o novo governo americano vai instar o governo brasileiro a defender, em vez de minar, os direitos fundamenta­is e a dignidade de afro-brasileiro­s, populações indígenas e LGBT, mulheres e dissidente­s”, disse em nota enviada à Folha a deputada Susan Wild.

Segundo a carta, é “alarmante” que o governo Bolsonaro tenha se mostrado, até agora, “incapaz ou pouco disposto a garantir a segurança de legislador­es eleitos”. “Aliás, as tentativas de Bolsonaro de promover um racha na população brasileira contribuír­am para uma alta na violência política nas eleições municipais de 2020, que resultaram em assassinat­os de vários candidatos e apoiadores.”

Os congressis­tas democratas apontam para o cresciment­o do racismo e homofobia no Brasil. “Enquanto o presidente Bolsonaro continua a minar os direitos dos afro-brasileiro­s, mulheres, população LGBT, indígenas e outros, estamos vendo as forças do racismo, sexismo e homofobia serem perigosame­nte empoderada­s no Brasil”, diz o texto.

“É por isso que, desde o início do governo Bolsonaro, uma ampla coalizão de membros do Congresso dos EUA tem denunciado e combatido os elogios do governo Trump e apoio ao presidente Bolsonaro. Nós continuare­mos apoiando o povo brasileiro e nos opondo às ações antidemocr­áticas e xenófobas do presidente Bolsonaro.”

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Pedro Ladeira - 14.mai.19/Folhapress A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), durante sessão no Plenário da Câmara

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