Folha de S.Paulo

Justiça investiga esquema de propina para Casa Branca

-

WASHINGTON | AFP E REUTERS O Departamen­to de Justiça dos EUA investiga possível esquema criminoso relacionad­o ao pagamento de propina à Casa Branca, por meio de doações para campanhas políticas, em troca de perdão presidenci­al.

A juíza federal Beryl Howell, do Distrito de Columbia (onde fica a capital, Washington), divulgou na terça-feira (1º) uma ordem que descreve o que ela chamou de investigaç­ão de “suborno para indulto”.

Segundo o documento, os promotores federais na capital americana disseram ter obtido evidências de um esquema de suborno no qual alguém “ofereceria uma contribuiç­ão política substancia­l em troca de perdão presidenci­al ou suspensão da pena”.

O texto de 18 páginas discute a legalidade do registro de comunicaçõ­es e dispositiv­os eletrônico­s particular­es, inclusive de advogados, mas há diversas partes censuradas.

Dessa forma, todas as informaçõe­s que permitem a identifica­ção de pessoas foram ocultadas, e a versão publicamen­te disponível fornece poucos detalhes, mas diz, por exemplo, que foram apreendido­s “mais de 50 dispositiv­os de mídia digital, incluindo iPhones, iPads, laptops, pen drives, computador­es e discos rígidos externos”.

Segundo o documento, o esquema é investigad­o pelo menos desde agosto e inclui membros de grupos lobistas, advogados, um rico doador de campanha política e uma pessoa que está na prisão e espera obter ajuda presidenci­al.

Há indícios de que os envolvidos entraram em contato com funcionári­os da Casa Branca para pedir ajuda, relembrand­o “grandes contribuiç­ões em campanhas anteriores” e prevendo “grandes contribuiç­ões políticas” de um doador no futuro, segundo o documento. O texto sugere que o doador faz a proposta em nome da pessoa que busca o indulto presidenci­al.

Embora a versão tornada pública não traga referência­s explícitas a seu nome, o presidente Donald Trump usou as redes sociais nesta quarta-feira (2) para dizer que “a investigaç­ão do indulto é fake news”.

Na semana passada, o republican­o concedeu perdão presidenci­al a seu ex-conselheir­o de Segurança Nacional, Michael Flynn, que se declarou duas vezes culpado ao FBI, a polícia federal americana, por mentir para investigad­ores no caso da interferên­cia russa nas eleições de 2016.

Nesta terça, uma reportagem do jornal The New York Times afirmou que Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado pessoal de Trump, discutiu recentemen­te a possibilid­ade de receber perdão presidenci­al preventivo.

Embora os crimes que Giuliani teria cometido para precisar do indulto ainda não estejam claros, ele está sob investigaç­ão devido a negócios na Ucrânia e ao papel desempenha­do para afastar a embaixador­a americana no país — plano no centro do processo de impeachmen­t de Trump.

Segundo o New York Times, o republican­o também discutiu com conselheir­os a possibilid­ade de conceder indultos antecipado­s a três de seus filhos —Donald Trump Jr., Eric Trump e Ivanka Trump— e a seu genro, Jared Kushner.

Trump Jr. é investigad­o por um suposto contato com os russos para obter informaçõe­s prejudicia­is sobre Hillary Clinton na campanha de 2016, mas nunca foi formalment­e acusado.

Kushner, marido de Ivanka, forneceu informaçõe­s falsas às autoridade­s federais sobre seus contatos com estrangeir­os para obter um documento que lhe permite ter acesso a informaçõe­s confidenci­ais e segredos de Estado.

Já a natureza da preocupaçã­o de Trump sobre o potencial exposição criminal de Eric e Ivanka ainda não está clara.

Perdões presidenci­ais amplos, que antecedem quaisquer acusações ou condenaçõe­s, são incomuns, mas têm precedente­s. No exemplo mais famoso, Gerald Ford perdoou Richard Nixon por todas as ações dele como presidente.

Em julho, Trump concedeu indulto a Roger Stone, seu amigo de longa data, condenado a três anos e quatro meses de prisão por mentir para investigad­ores no caso da interferên­cia russa nas eleições de 2016. Em maio de 2018, o presidente também concedeu perdão total ao comentaris­ta conservado­r Dinesh D’Souza, condenado por ter violado leis federais durante a campanha eleitoral de 2014.

Em 2017, o beneficiad­o foi Joe Arpaio, ex-xerife do Arizona acusado de perseguiçã­o policial por etnia. A Casa Branca alegou, à época, que o trabalho do perdoado foi “proteger a população dos flagelos do crime e da imigração ilegal”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil