Mais famoso ativista pró-democracia em Hong Kong é condenado a 13 meses e meio de prisão
HONG KONG | REUTERS Um dos principais ativistas pela democracia de Hong Kong, Joshua Wong, 24, foi condenado a 13 meses e meio de detenção, nesta quarta (2), por seu papel em protesto ilegal contra o governo em 2019. É a mais dura condenação de uma figura da oposição neste ano.
Wong se declarou culpado de organizar e incitar uma manifestação ilegal na qual milhares de pessoas cercaram a sede da polícia em junho do ano passado. Ele podia receber pena de até três anos de prisão. O ato aconteceu em meio à onda de protestos contra o governo e à interferência da China no território.
A sentença de Wong ocorre em um momento em que os críticos afirmam que o governo local, apoiado por Pequim, está intensificando a repressão contra a oposição de Hong Kong e restringindo a liberdade da população —o que as autoridades chinesas negam. Ex-colônia britânica, o território voltou ao domínio chinês em 1997, mas o acordo de devolução dá a Hong Kong série de liberdades que não existem no restante do país.
Cerca de cem apoiadores se reuniram silenciosamente dentro do tribunal antes da sentença. Do lado de fora, um pequeno grupo de manifestantes pró-Pequim pedia uma condenação dura.
“Sei que os próximos dias serão mais difíceis. Vamos aguentar firme”, gritou Wong depois que a sentença foi lida. “Não é o fim da nossa luta”, ele afirmou mais tarde, por meio dos seus advogados.
Dois amigos de Wong, Agnes Chow, 23, e Ivan Lam, 26, já haviam sido condenados a dez e sete meses de prisão, respectivamente, por acusações relacionadas ao mesmo protesto. O cerco ocorreu no dia 21 de junho de 2019 e exigia que o governo retirasse um projeto que permitia a extradição de pessoas para a China. A proposta foi arquivada.
Ambos se declararam culpados de incitação a um protesto ilegal. Chow, que chorou no tribunal ao ouvir a sentença, também confessou ter participado do ato. Wong, Chow e Lam são ex-membros do grupo político Demosisto, que foi dissolvido horas antes de Pequim impor em junho de 2020 uma nova lei de segurança. Com a mudança na regra, os integrantes do grupo temiam se tornar alvo das autoridades.
Antes da sentença, o juiz leu uma carta da mãe de Wong ao tribunal na qual ela dizia que seu filho era “um jovem que se preocupa com a sociedade e é persistente em seus ideais”.
Grupos de direitos humanos foram rápidos em condenar a decisão do tribunal. “Ao mirar em ativistas conhecidos do movimento sem liderança de Hong Kong, as autoridades estão enviando um aviso a qualquer um que ouse criticar abertamente o governo de que eles podem ser os próximos”, disse Yamini Mishra, diretor regional da Anistia Internacional para a Ásia-Pacífico.
Também ativista em Hong Kong, Sunny Cheung disse que a sentença de Wong deixaria um buraco na luta do movimento pela democracia para ser ouvido. “Esta é uma grande perda para a sociedade civil. Também denota o fato de que Hong Kong está agora entrando em uma nova fase, senão em um período sombrio, que requer ajustes estratégicos para continuar a luta pela democracia”, disse Cheung.
Nos últimos meses, o governo de Hong Kong cassou legisladores da oposição e impediu candidatos pró-democracia de concorrer na eleição que ocorreria em setembro, mas acabou adiada por causa da pandemia.
A cassação de políticos levou os deputados pró-democracia a renunciar em massa, deixando o legislativo destituído de oposição pela primeira vez desde que Hong Kong voltou ao domínio chinês.