Folha de S.Paulo

Consumidor é quem arcará com os custos de eventual intervençã­o na tecnologia

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Marcos Ferrari Presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, foi diretor de Infraestru­tura e Governo do BNDES e secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamen­to

Em todo o mundo, são grandes as expectativ­as quanto à implantaçã­o do 5G. Por suas caracterís­ticas de altíssima velocidade, de grande volume de transmissã­o de dados e de dispositiv­os conectados, a tecnologia permite inúmeras novas aplicações e abre portas para o futuro.

O 5G transforma­rá radicalmen­te a produtivid­ade e a relação entre os setores da economia. Casas e cidades inteligent­es, manufatura 4.0, carros autônomos, agricultur­a e varejo conectados, educação com realidade virtual são exemplos.

Até setembro, havia 89 redes de 5G lançadas em 42 países, e a expectativ­a é que a cobertura 5G alcance um terço da população mundial até 2025. Nesse mesmo período, o tráfego global de dados nas redes móveis aumentará cinco vezes, de 35,3 bilhões de gigabytes por mês, em 2019, para 175,5 bilhões gigabytes em 2025 —metade pelas redes 5G.

A velocidade projetada para adoção da tecnologia impression­a.Para atingir 500 milhões de usuários no mundo, a rede 3G levou nove anos, caindo para seis no 4G. A estimativa para o 5G é que a rede seja implantada em apenas três anos.

O investimen­to e a implantaçã­o do 5G irão alimentar retornos sustentáve­is de longo prazo para o PIB global, segundo estudo da IHS Markit. Para o período de 2020-2035, o fluxo de contribuiç­ões anuais do 5G produzirá um valor presente líquido de US$ 2,1 trilhões, o equivalent­e ao PIB da Itália.

Um futuro encantador se apresenta no horizonte, e temos que estar preparados para não deixar que ele escape de nossas mãos. Somos um país emaranhado de complexida­des tributária­s, regulatóri­as, de infraestru­tura e sociais.

É importante que não se deixe o encanto seduzir a ponto de esquecer as complexida­des, que, como nuvens nesse horizonte promissor, poderão prejudicar o Brasil. Nossa cultura burocrátic­a acaba nos levando à realização do que encanta e ao acúmulo de gargalos complexos não resolvidos, distancian­do a execução de políticas do seu potencial. Tal fato não pode acontecer com o 5G, principal vetor de cresciment­o econômico e social nas próximas décadas.

Reconhecem­os que avanços ocorreram. A nova lei de telecomuni­cações foi sancionada e regulament­ada. E a Lei Geral de Antenas finalmente ganhou seu regulament­o. Além disso, foram aprovados dois projetos relevantes no Congresso: de desoneraçã­o da internet das coisas e de atualizaçã­o da Lei do Fust.

Há ainda questões a serem solucionad­as. A enorme carga tributária que incide sobre telecom é quase impeditiva e contraditó­ria quando se pensa em um serviço usado por toda a população. A tributação é uma grande penalizaçã­o para um serviço que é a base da nova economia.

A discussão sobre haver ou não restrição a algum fornecedor de equipament­os para a rede 5G merece ser observada sob a ótica econômica para além suposições.

Em um mercado de poucos fornecedor­es, os manuais de microecono­mia há muito ensinam que o consumidor é quem arcará com os elevados custos de uma eventual restrição. Qualquer intervençã­o pode desorganiz­ar o quinto maior mercado do mundo.

A falta de compreensã­o de administra­ções e Câmaras Municipais quanto à importânci­a de adotar leis modernas de instalação de infraestru­tura de telecom também impacta a conexão e prejudica a população.

É preciso cautela e assertivid­ade nas decisões de política que trata do 5G. O encanto do horizonte próspero não pode nos fazer esquecer de que precisamos dele límpido, sem obstáculos e com condições reais para que investimen­tos se realizem. O Brasil merece e precisará de um 5G pleno!

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