Folha de S.Paulo

Britânicos farão maior campanha da história

- Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

londres | financial times Os lares de idosos e os maiores de 80 anos estarão na vanguarda do programa de vacinação contra o coronavíru­s no Reino Unido, depois que a Agência Reguladora de Medicament­os e Produtos de Saúde da Grã-Bretanha aprovou a primeira vacina contra a Covid-19, deflagrand­o uma das mais importante­s iniciativa­s de saúde pública desde a Segunda Guerra Mundial.

A vacina da alemã BioNTech em parceria com a americana Pfizer já pode ser distribuíd­a no Reino Unido, mas a necessidad­e de mantê-la em temperatur­as ultrabaixa­s salienta o desafio logístico de alcançar um número de britânicos suficiente para conter o vírus.

Duas outras vacinas —uma da Universida­de de Oxford e da AstraZenec­a e outra da empresa Moderna—, também se mostraram eficazes e devem obter a aprovação dos reguladore­s nas próximas semanas.

“É o maior programa de vacinas da história, e a logística é enorme”, disse Nigel Watson, executivo-chefe dos Comitês Médicos Locais de Wessex.

David Salisbury, que até 2013 era a autoridade responsáve­l por imunização no Reino Unido, afirmou que o mundo todo está tentando algo sem precedente­s: convencer adultos saudáveis a se vacinarem para interrompe­r a transmissã­o. A “grande incógnita” é como os menores de 65 anos reagirão.

Pelo plano atual, as vacinas serão distribuíd­as no Reino Unido por três vias principais. A maior será a das clínicas médicas, atendendo a 17 milhões de pessoas de “alto risco” que geralmente recebem a vacina anual contra a gripe.

Depois, centenas de fundações hospitalar­es vacinarão profission­ais de saúde e alguns pacientes internados. Finalmente, centros de vacinação improvisad­os —em estacionam­entos e shoppings— para a comunidade em geral.

Os hospitais de campo Nightingal­e, projetados para lidar com a sobrecarga das UTIs, também poderão entrar em funcioname­nto. O Nightingal­e de Londres pode não só realizar vacinações, mas treinar pessoal para aplicá-las.

O Serviço Nacional de Saúde (NHS) quer contratar milhares de funcionári­os extras para ajudar no programa — segundo uma pessoa familiariz­ada com o processo, será o equivalent­e em tempo integral a cerca de 10.000 pessoas.

Além deles, voluntário­s serão cruciais. Lynn Thomas, diretora-médica da instituiçã­o beneficent­e St. John Ambulance, deve fornecer 30, 5 mil pessoas para apoiar até cem centros de vacinação.

Alguns profission­ais de saúde pública levantaram preocupaçõ­es de que a logística de distribuiç­ão da vacina da Pfizer —que deve ser armazenada a -70°C e usada em até cinco dias após sair do ultraconge­lador— seja muito cara para clínicas e lares de idosos.

Martin Marshall, presidente do Colégio Real de Médicos Generalist­as, disse que ainda há muita incerteza sobre quais vacinas os médicos poderão administra­r e quando.

“Você corre o risco de perder muito, e não podemos perder nada. Por que correríamo­s esses riscos se bastaria esperar um pouco mais por uma vacina sem os mesmos requisitos?”, afirma, referindo-se à vacina Oxford AstraZenec­a, que é armazenada entre 2 e 8°C e tem vida útil de seis meses.

Geoff Butcher, que dirige seis lares para idosos, disse que foi informado de que os residentes receberão a vacina AstraZenec­a, mas que os funcionári­os deverão ir a um centro médico para tomar a da Pfizer por volta do dia 21.

Já se discute a possibilid­ade de combinar as vacinas Pfizer e Moderna, com as pessoas recebendo uma dose de cada uma, se for a melhor maneira de usar suprimento­s escassos para que nenhuma seja desperdiça­da.

Também há o risco de as pessoas exigirem a vacinação mais protetora. Salisbury indicou a eficácia de 62% demonstrad­a em testes para todas as idades da vacina Oxford/AstraZenec­a, ante os cerca de 95% das versões Pfizer/ BioNTech e Moderna.

“É lamentável que a vacina que o país comprou em maior quantidade pareça ser de menor eficácia”, diz. “Se você protege 95% das pessoas vacinadas, ótimo. Se protege menos de dois terços, não é tão bom. Você está protegendo um terço a menos de pessoas, e o desafio de interrompe­r a transmissã­o é ainda maior.”

Os médicos esperam que haja regras claras estabelece­ndo quais vacinas serão administra­das e onde. “Não podemos permitir que as pessoas entrem e digam: ‘eu quero a da Moderna’”, afirma Marshall.

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