Britânicos farão maior campanha da história
londres | financial times Os lares de idosos e os maiores de 80 anos estarão na vanguarda do programa de vacinação contra o coronavírus no Reino Unido, depois que a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde da Grã-Bretanha aprovou a primeira vacina contra a Covid-19, deflagrando uma das mais importantes iniciativas de saúde pública desde a Segunda Guerra Mundial.
A vacina da alemã BioNTech em parceria com a americana Pfizer já pode ser distribuída no Reino Unido, mas a necessidade de mantê-la em temperaturas ultrabaixas salienta o desafio logístico de alcançar um número de britânicos suficiente para conter o vírus.
Duas outras vacinas —uma da Universidade de Oxford e da AstraZeneca e outra da empresa Moderna—, também se mostraram eficazes e devem obter a aprovação dos reguladores nas próximas semanas.
“É o maior programa de vacinas da história, e a logística é enorme”, disse Nigel Watson, executivo-chefe dos Comitês Médicos Locais de Wessex.
David Salisbury, que até 2013 era a autoridade responsável por imunização no Reino Unido, afirmou que o mundo todo está tentando algo sem precedentes: convencer adultos saudáveis a se vacinarem para interromper a transmissão. A “grande incógnita” é como os menores de 65 anos reagirão.
Pelo plano atual, as vacinas serão distribuídas no Reino Unido por três vias principais. A maior será a das clínicas médicas, atendendo a 17 milhões de pessoas de “alto risco” que geralmente recebem a vacina anual contra a gripe.
Depois, centenas de fundações hospitalares vacinarão profissionais de saúde e alguns pacientes internados. Finalmente, centros de vacinação improvisados —em estacionamentos e shoppings— para a comunidade em geral.
Os hospitais de campo Nightingale, projetados para lidar com a sobrecarga das UTIs, também poderão entrar em funcionamento. O Nightingale de Londres pode não só realizar vacinações, mas treinar pessoal para aplicá-las.
O Serviço Nacional de Saúde (NHS) quer contratar milhares de funcionários extras para ajudar no programa — segundo uma pessoa familiarizada com o processo, será o equivalente em tempo integral a cerca de 10.000 pessoas.
Além deles, voluntários serão cruciais. Lynn Thomas, diretora-médica da instituição beneficente St. John Ambulance, deve fornecer 30, 5 mil pessoas para apoiar até cem centros de vacinação.
Alguns profissionais de saúde pública levantaram preocupações de que a logística de distribuição da vacina da Pfizer —que deve ser armazenada a -70°C e usada em até cinco dias após sair do ultracongelador— seja muito cara para clínicas e lares de idosos.
Martin Marshall, presidente do Colégio Real de Médicos Generalistas, disse que ainda há muita incerteza sobre quais vacinas os médicos poderão administrar e quando.
“Você corre o risco de perder muito, e não podemos perder nada. Por que correríamos esses riscos se bastaria esperar um pouco mais por uma vacina sem os mesmos requisitos?”, afirma, referindo-se à vacina Oxford AstraZeneca, que é armazenada entre 2 e 8°C e tem vida útil de seis meses.
Geoff Butcher, que dirige seis lares para idosos, disse que foi informado de que os residentes receberão a vacina AstraZeneca, mas que os funcionários deverão ir a um centro médico para tomar a da Pfizer por volta do dia 21.
Já se discute a possibilidade de combinar as vacinas Pfizer e Moderna, com as pessoas recebendo uma dose de cada uma, se for a melhor maneira de usar suprimentos escassos para que nenhuma seja desperdiçada.
Também há o risco de as pessoas exigirem a vacinação mais protetora. Salisbury indicou a eficácia de 62% demonstrada em testes para todas as idades da vacina Oxford/AstraZeneca, ante os cerca de 95% das versões Pfizer/ BioNTech e Moderna.
“É lamentável que a vacina que o país comprou em maior quantidade pareça ser de menor eficácia”, diz. “Se você protege 95% das pessoas vacinadas, ótimo. Se protege menos de dois terços, não é tão bom. Você está protegendo um terço a menos de pessoas, e o desafio de interromper a transmissão é ainda maior.”
Os médicos esperam que haja regras claras estabelecendo quais vacinas serão administradas e onde. “Não podemos permitir que as pessoas entrem e digam: ‘eu quero a da Moderna’”, afirma Marshall.