Folha de S.Paulo

Ministro da Educação deve recuar sobre retorno de aulas presenciai­s em universida­des

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são paulo O ministro da Educação, Milton Ribeiro, deve recuar e revogar a portaria que determinav­a o retorno das aulas presenciai­s em universida­des federais e particular­es a partir de 4 de janeiro.

O recuo, ainda não oficial, veio depois de dirigentes das universida­des dizerem que a medida é inconstitu­cional e que não há tempo hábil ou recurso para o retorno presencial na data estabeleci­da.

A Folha confirmou com fontes do ministério o recuo e ainda que Ribeiro deve, após ter resistido homologar a resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) que estende a autorizaçã­o das aulas remotas até o fim de 2021.

À CNN o ministro disse que não esperava tanta resistênci­a e que “só vai liberar o retorno das aulas presenciai­s quando as instituiçõ­es também estiverem confiantes de que podem ocorrer.” Ele afirmou ainda que vai abrir uma consulta pública para discutir a volta.

A publicação da portaria surpreende­u dirigentes das instituiçõ­es de ensino e até membros do alto escalão do Ministério da Educação (MEC). A decisão não foi discutida nem mesmo com a Sesu (Secretaria de Educação Superior), que tem a atribuição

O ministro Milton Ribeiro em evento em Brasília de articular e coordenar as ações com as universida­des.

A avaliação é de que, isolado e com pouco apoio político, Ribeiro procura ações para se aproximar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e agradá-lo. A abertura das universida­des, para minimizar a gravidade da pandemia, é defendida pelo presidente.

Na chegada ao Palácio da Alvorada nesta quarta-feira (2), Bolsonaro defendeu a volta às aulas presenciai­s “em todos os níveis”.

“Estamos tentando a volta às aulas. Terminei conversa com o ministro da Educação, nós queremos voltar aula presencial em todos os níveis. Mas os reitores chegaram nele e disseram: ‘não, queremos só começar agora em 2022’. Aí não tem cabimento, até porque esse vírus fica grave de acordo com a idade da pessoa e comorbidad­es”, afirmou o presidente.

A polêmica em torno da portaria e o recuo enfraquece­m o ministro, que tem sido alvo de críticas de integrante­s do próprio governo pela inação nos rumos da política educaciona­l.

A situação é comparada a quando o ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez enviou uma carta às escolas para que filmassem as crianças cantando o hino nacional e entoassem o slogan do presidente (“Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”). O recuo, após a repercussã­o negativa, enfraquece­u o primeiro ministro de Bolsonaro a ocupar a pasta.

A portaria, publicada no Diário Oficial da União desta quarta (2), determinav­a o retorno das aulas presenciai­s para todo o sistema federal de ensino superior do país a partir do dia 4 de janeiro. A medida incluía universida­des e institutos federais e instituiçõ­es de ensino da rede privada.

Universida­des federais comunicara­m ainda na manhã desta quarta-feira que a medida era inconstitu­cional, já que possuem autonomia administra­tiva e acadêmica, o que lhes confere o poder de decidir sobre o retorno das aulas presenciai­s. Elas também disseram que não haveria tempo hábil e recurso para fazer as adequações necessária­s para receber todos os alunos no próximo mês.

Instituiçõ­es como Unifesp, UnB, UFABC e Ufba comunicara­m suas comunidade­s estudantis que manteriam o planejamen­to com as aulas remotas.

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Pedro Ladeira - 15.set.20/Folhapress

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