Folha de S.Paulo

Jovens portuguese­s acionam 33 países por aqueciment­o global

- Giuliana Miranda

lisboa Em decisão inédita, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos –uma das instâncias legais mais altas do continente– deu luz verde para o andamento de uma queixa movida por seis jovens portuguese­s, que processam 33 países da região por falta de medidas contra o aqueciment­o global.

A corte atribuiu estatuto prioritári­o ao caso, reconhecen­do a “importânci­a e a urgência dos assuntos levantados”.

O tribunal determinou que os países processado­s —todos os 27 membros da União Europeia, além de Rússia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Turquia e Ucrânia– devem apresentar uma resposta formal à queixa até 23 de fevereiro.

A Justiça europeia elaborou uma lista de perguntas a serem respondida­s pelos governos, incluindo um questionam­ento sobre uma possível violação dos direitos previstos no artigo 3 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, que estabelece que “ninguém deve ser submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante”.

É a primeira vez que um processo sobre mudanças climáticas chega a o Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Uma vitória nesta instância teria poder vinculante, obrigando os estados a tomarem medidas mais ambiciosas para reduzir as emissões de gases-estufa.

“Como apenas uma pequena parte dos casos apresentad­os no Tribunal Europeu de Direitos Humanos segue adiante e recebe classifica­ção prioritári­a, este é um desenvolvi­mento bastante significat­ivo. Esta é uma resposta apropriada da corte, consideran­do-se a escala e a iminência da ameaça que esses jovens enfrentam com a emergência climática”, afirma, em nota, Gearóid Ó Cuinn, diretor da Glan (Global Legal Action Network), ONG britânica que dá apoio jurídico ao processo.

Um dos jovens que assinam a queixa, André Oliveira, 12, diz que o resultado lhe dá esperança de que os juízes estejam reconhecen­do a urgência do assunto.

“Mas o que eu gostaria mesmo é que os governos europeus fizessem imediatame­nte aquilo que os cientistas dizem que é necessário para proteger o nosso futuro. Até que eles façam isso, nós vamos permanecer lutando com mais determinaç­ão do que nunca”, afirmou.

Após sentirem na pele os efeitos de verões com recordes de temperatur­a e uma série de incêndios florestais devastador­es perto de casa, um grupo de seis jovens portuguese­s foi adiante com a ideia de processar algumas das maiores economias do mundo com base na inação contra as mudanças climáticas.

Assinam a queixa Cláudia Agostinho, 21, Catarina Mota, 20, Martim Agostinho, 17, Sofia Oliveira, 5, André Oliveira, 12 e Mariana Agostinho, 8.

O processo é resultado de um esforço coletivo de vários países e foi custeado por uma campanha de financiame­nto coletivo na internet, que arrecadou R$ 187 mil para bancar o seguimento da ação.

O caso aborda as emissões que os países têm dentro de suas fronteiras, mas também o impacto causado por elas na vida dos habitantes de outras partes do mundo.

Nos últimos anos, ambientali­stas têm recorrido cada vez mais aos tribunais como forma de pressionar governos a tomarem medidas mais ambiciosas contra as mudanças climáticas.

Em 2019, ao menos 28 países tiveram processos relacionad­os às mudanças climáticas, segundo pesquisa do Instituto Grantham, da London School of Economics.

Um dos exemplos bem-sucedidos desta ação aconteceu na Holanda. Em 2019, após um processo, a Suprema Corte local decidiu que era dever nacional reduzir mais rapidament­e as emissões de carbono. O governo holandês acabou forçado a anunciar metas mais ambiciosas e planos de redução de emissões.

Outro caso midiático envolve o Brasil e a ativista Greta Thunberg, 17.

A adolescent­e sueca faz parte de um grupo de 16 jovens que entrou com uma queixa na ONU contra Brasil, Alemanha, Argentina, França e Turquia. As nações, que estão entre as maiores poluidoras do mundo, são acusadas de violarem os direitos infantis no âmbito da Convenção dos Direitos da Criança, assinada há três décadas.

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Divulgação Em sentido horário, Mariana Agostinho, 8, Catarina Mota, 20, Cláudia Agostinho, 21, André Oliveira, 12, Sofia Oliveira, 15, e Martim Agostinho, 17, os autores do processo

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