Folha de S.Paulo

Bolsonaro não é coveiro

- Mariliz Pereira Jorge

rio de janeiro Jair Bolsonaro não é mesmo coveiro. Faltam a ele profission­alismo diante de uma tragédia e a humanidade dessa classe que muitas vezes fez o papel de família na despedida de uma vida sepultada.

Bolsonaro é o próprio anjo da morte. Seu desdém pela gravidade da pandemia tem relação direta com as mais de 170 mil vítimas da doença. Não se importou quando a Covid-19 deu sinais de que chegaria ao Brasil. Não o fará agora, quando os números mostram que podemos mergulhar em uma nova crise, sem ter saído da primeira.

O presidente e seus auxiliares continuam em negação. Sabem que o tsunami, que vem fazendo estragos na Europa e nos Estados Unidos, chegou por aqui e, novamente, não temos um plano de enfrentame­nto.

Sexta (27), numa conversa com apoiadores, voltou a questionar o uso da máscara. No dia anterior, durante o humorístic­o que protagoniz­a ao vivo nas noites de quinta, acusou a imprensa de ter inventado que ele tenha se referido à doença como gripezinha. Só em março, Bolsonaro disse isso em duas ocasiões. Sobre a possibilid­ade de prorrogar o auxílio emergencia­l, respondeu que o jornalista deveria perguntar ao vírus.

Nesta quarta (2), ao ser questionad­o sobre medidas para diminuir a circulação e a aglomeraçã­o de pessoas nas festas de fim de ano, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, apertou o botão do “danem-se”. Nenhuma palavra sobre isolamento, apenas a recomendaç­ão de tratamento precoce em caso de infecção. Pena que isso ainda não exista.

Como era esperado, só depois das eleições cidades começaram a tomar as medidas que deveriam ter sido abraçadas há um mês. Ou nem isso. Dados da Fiocruz indicam que o Rio de Janeiro, por exemplo, está com o sistema de saúde à beira de um colapso. Pode ser tarde demais. Bolsonaro não é coveiro, mas continua enterrando gente. Assim como alguns governador­es e prefeitos.

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