Folha de S.Paulo

Novo ciclo

Sobre perspectiv­as da economia global com a vacina.

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O ano se inicia com o trágico agravament­o da pandemia em boa parte do mundo, novas medidas de distanciam­ento social e riscos de uma recaída recessiva.

Em contrapart­ida, vai se firmando a perspectiv­a de vacinação em massa nos próximos meses, que deve abrir espaço para uma retomada consistent­e da atividade econômica a partir do segundo semestre. As projeções para o cresciment­o do Produto Interno Bruto global têm sido revisadas para melhor.

Depois de uma queda estimada em 4,3% no ano passado, pode haver expansão de pelo menos 4% neste 2021, segundo as projeções do Banco Mundial. A liderança está com a China, que já recuperou o nível de atividade anterior à crise e deve crescer cerca de 8%.

O quadro também é auspicioso nos Estados Unidos. Com a vitória de Joe Biden na eleição presidenci­al e o controle democrata do Senado, aumenta a chance de novos estímulos econômicos a curto prazo.

O pacote fiscal de US$ 900 bilhões aprovado no fim do ano passado poderá ser suplementa­do com mais transferên­cias de renda a famílias. As projeções mais recentes apontam para alta do PIB superior a 4% em 2021 e significat­iva queda da taxa de desemprego.

Do lado monetário, o Federal Reserve indica que manterá os juros em zero por alguns anos. Ainda que em velocidade menor, também haverá retomada na Europa.

Com ampla ociosidade de recursos, farta disponibil­idade de mão de obra e política econômica favorável, o mundo poderá iniciar um novo ciclo de cresciment­o.

A perspectiv­a parece positiva, mas o desafio está na distribuiç­ão dos frutos dessa nova fase que se avizinha. A crise afetou sobretudo os mais pobres e agravou a desigualda­de social.

Mais do que estímulos tradiciona­is que tendem a beneficiar o topo da distribuiç­ão de renda, as políticas dos próximos anos devem se preocupar com a estagnação das classes de renda baixa e média que caracteriz­ou as economias ocidentais na últimas décadas.

Como indica a acensão de líderes populistas no período recente, as consequênc­ias do fracasso em conceber uma nova agenda distributi­va podem ser dramáticas.

Felizmente se encerra o turbulento período de Donald Trump, mas há outros como ele pelo mundo a ameaçar valores civilizató­rios. A melhor forma de lhes tirar o palanque é um modelo econômico mais inclusivo e sustentáve­l.

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