Folha de S.Paulo

Assassinat­os de motoristas de aplicativo geram temor no Ceará

- Ideídes Guedes

Bianca Fonseca, 25, continua olhando para a porta de entrada da casa à espera do companheir­o Alexandre Fernandes, 32, assassinad­o enquanto trabalhava como motorista de aplicativo na Grande Fortaleza. “Ainda estou naquele dia 10, escutando o áudio dele dizendo que vai chegar em vinte minutos”, conta.

Tudo seguia o fluxo normal naquela segunda-feira de agosto. A cada meia hora, uma mensagem. A localizaçã­o, qual corrida pegou, o que via na rua. No fim da tarde, Fernandes colocou o aplicativo com destino ao centro da cidade e, de lá, seguiria para casa como de costume.

Às 18h27, o último contato. Bianca resolve ligar 50 minutos depois. Envia mensagens, em vão. Alexandre foi encontrado após dois dias, com as mãos amarradas e um tiro no peito, a 30 quilômetro­s de Fortaleza, no município de Aquiraz.

Alexandre foi o 13º motorista assassinad­o em 2020 e o primeiro caso de grande repercussã­o, no ano passado, no Ceará, estado marcado pela violência entre facções criminosas.

A Associação de Motoristas de Aplicativo­s do Ceará (Amap-CE) estima que, a cada 20 dias, um motorista de aplicativo é morto na região metropolit­ana de Fortaleza. Ao todo, de janeiro a dezembro, foram 17.

Em 29 de outubro, Jares Rodrigues, 54, foi encontrado morto próximo ao veículo que trabalhava, no bairro Cajazeiras, periferia de Fortaleza. O motorista havia se recusado a entrar no portamalas do carro, tentou fugir, mas foi atingido pelos tiros a poucos metros do local.

A letalidade continuou nos meses seguintes. Após tentativa de latrocínio, José Hilker Assunção de Sousa, 28, foi espancado, lesionado com objetos perfurocor­tantes e teve 95% do corpo queimado.

O jovem foi socorrido por moradores locais e levado a uma unidade de saúde, onde passou duas semanas na UTI e faleceu no dia 5 de dezembro.

O crime, que aconteceu em 21 de novembro, em Caucaia, na Grande Fortaleza, foi cometido por três adolescent­es, com idades entre 13 e 16 anos, e uma mulher de 18 anos, que serviu como uma isca, atraindo o motorista ao local.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os criminosos entraram no veículo e seguiram para outro bairro do município. Durante o percurso, encontrara­m documentos da vítima e uma foto de Hilker, ainda como cabo da aeronáutic­a, o que os motivou a atear fogo no motorista.

Em 13 de dezembro, também em Caucaia, motorista e passageiro foram mortos a tiros durante uma viagem. O motorista Luan Moura da Silva, 23, tentou fugir ao perceber a presença dos criminosos, perdeu o controle do carro e bateu em um muro. De acordo com a Polícia Militar, o alvo era o passageiro Bruno Almeida, 33.

Com o crescente número de crimes contra motoristas de aplicativo, agentes de segurança do estado vêm realizando patrulhas e abordagens na Grande Fortaleza, desde o fim de setembro.

O trabalho intitulado “Operação Corrida Segura” é realizado em conjunto pela Polícia Militar, o Comando de Policiamen­to de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas e Força Tática.

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