Folha de S.Paulo

O Recreio dos Bandeirant­es

Palmeiras e Santos coroarão o apelido do Maracanã se fizerem a final continenta­l

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Recreio dos Bandeirant­es é um bairro da zona oeste carioca, na Barra da Tijuca, e que leva o nome porque, criado no fim da década de 1950, teve boa parte de seus terrenos comprados por paulistas afortunado­s em busca de construir suas casas de praia.

Antes do bairro, porém, mas na Grande Tijuca, na zona norte, no começo dos anos 1950, nascia o Maracanã.

E logo na inauguraçã­o, em seu primeiro jogo, uma seleção paulista derrotou a carioca por 3 a 1, início da saga que permitiu o apelido de Recreio dos Bandeirant­es para o então maior estádio do mundo.

Em 1968, quando o Maraca chegou à maioridade, recebeu outro jogo marcante entre as duas seleções estaduais, para atender ao pedido de Sua Majestade, a Rainha Elizabeth 2ª, que queria conhecer o estádio e seu colega Pelé. Os paulistas ganharam de novo, desta vez por3a2.

De fato, o gigante de cimento armado testemunho­u grandes vitórias de equipes de São

Paulo, exceção feita exatamente ao clube que tem o nome do estado.

Porque foi lá que o Palmeiras ganhou a Taça Rio, em 1951, para recuperar o amor próprio do futebol brasileiro perdido no ano anterior, no Maracanazo.

Lá, também, nos anos 1960, o Santos de Pelé não só se acostumou a golear o fabuloso Botafogo de Mané, como encaminhou sobre o Benfica seu primeiro título mundial e dobrou a façanha diante do Milan, em 1962/63.

Mais modernamen­te, no ano da graça de 2000, o Corinthian­s superou o Vasco na decisão do primeiro Mundial de Clubes organizado pela Fifa, para não falar da invasão alvinegra no estádio em 1976, quando 70 mil fiéis transforma­ram o Maracanã num templo corintiano.

Só falta mesmo uma final continenta­l entre Palmeiras e Santos, no próximo dia 30, para coroar o apelido: os campeões da Taça Rio contra os bicampeões mundiais no gramado que os consagrou sete e seis décadas atrás. Falta pouco e falta muito. Falta pouco para o Palmeiras que, em casa, pode perder nesta terça-feira (12), por dois gols de diferença, para o River Plate.

Falta ainda muito para o Santos porque o injusto 0 a 0 da Bombonera não garante nada na quarta-feira (13), na Vila Belmiro.

Impression­ante como os assoprador­es de apito da Conmebol têm dificuldad­e em marcar pênaltis contra o Boca Juniors. Parece que só tiros e facadas justificam a punição na área xeneize. Pernadas, empurrões, cortadas valem, porque vale tudo a favor do Boca, como vale depredar ônibus dos visitantes etc.

Que os extremista­s santistas não paguem na mesma moeda porque a Conmebol é bem capaz de eliminar o Santos.

Quem viu Carlos Amarilla trabalhar de apito na boca, e máscara nos olhos, em pleno Pacaembu naquele Corinthian­s x Boca, em 2013, não tem a menor dúvida do que a entidade é capaz.

Como o Palmeiras mostrou, em Avellaneda, e o Santos, em Buenos Aires, os dois times brasileiro­s têm bola para chegar ao Recreio dos Bandeirant­es sem precisar de artifícios.

Aos alviverdes apenas um alerta: na Copa Libertador­es de 1995, pelas quartas de final, o Grêmio goleou o Palmeiras por 5 a 0 no jogo de ida e todos demos por findos os debates sobre quem seguiria vivo para as semifinais, ainda mais depois que os gaúchos fizeram 1 a 0 no jogo de volta.

Ao cabo, os tricolores se classifica­ram, mas levaram de 5 a 1! Mais um gol e a decisão iria para marca da cal.

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