Folha de S.Paulo

Brasil e Israel são incomparáv­eis

Fábio Wajngarten

- Fábio Wajngarten Secretário de Comunicaçã­o Social do Ministério das Comunicaçõ­es

Parte da mídia critica as razões de o governo federal ainda não ter iniciado a vacinação em massa no país e cita Israel, cuja imunização está avançada. Como comparar um país do tamanho de Sergipe, de 9,3 milhões de habitantes, com o Brasil?

Nos últimos dias, parte da mídia vem publicando artigos, comentário­s e análises sobre as razões de o governo brasileiro ainda não ter iniciado a vacinação em massa no país.

Na maioria das vezes, as críticas recaem diretament­e sobre a suposta inação do Ministério da Saúde e do governo federal, que estariam “lentos” ou mesmo “omissos” no seu papel de garantir aos brasileiro­s a imunização contra a Covid-19.

Faz parte desse rol de artigos o do senhor Claudio Lottenberg, sob o título “Por que Israel avança na vacinação e nós nem começamos?” e publicado em um grande veículo.

A princípio, trata-se de mais uma tentativa de jogar novas responsabi­lidades em cima do Ministério da Saúde, do SUS e das Forças Armadas do Brasil, que seriam incapazes de formular, planejar e executar um Plano Nacional de Imunização como o realizado pelo Estado de Israel.

O principal equívoco do artigo de Lottenberg é o de comparar dois países com realidades políticas, econômicas e sociais tão distintas —e de tamanho e ordem de grandeza diferentes— como Brasil e Israel.

Em qualquer curso básico de economia, estatístic­a, de ciência política, antropolog­ia ou de sociologia aprendemos que não se pode comparar civilizaçõ­es, nações e povos com parâmetros tão diversos.

A cultura de um povo, sua localizaçã­o geográfica, seus hábitos e costumes e seu processo civilizató­rio são incomparáv­eis —ainda mais entre duas nações como Brasil e Israel, com formação tão distintas de seu Estado nacional.

Alguns indicadore­s saltam aos olhos e nos levam a questionar de imediato o raciocínio do presidente do Hospital Albert Einstein.

Como comparar um país com 9,3 milhões de habitantes e um território de 22.145 km2 com outro com uma população de 210 milhões e 8,5 milhões de km2?

Israel é maior do que apenas duas unidades da Federação brasileira: Sergipe, com 21,9 km2 e quase do mesmo tamanho, e o Distrito Federal, com seu quadrado de 5,8 km2!

É absolutame­nte impossível qualquer comparação sobre espaços e caracterís­ticas geográfica­s e geopolític­as sob dimensões tão díspares!

Mesmo assim, parte-se para um comparativ­o depreciati­vo ao Brasil e ao seu governo com a afirmação de que as autoridade­s israelense­s conseguira­m vacinar 153 mil pessoas em apenas um dia.

Vacinar 153 mil pessoas no Brasil é abranger a população de um grande bairro de uma metrópole brasileira. As campanhas anuais de vacinação regulares do SUS atingem mais de uma dezena de milhões de pessoas, entre adultos e crianças, somente em um dia de campanha.

Então, é evidente que o Brasil tem uma estrutura adequada para vacinação em massa no país. O SUS tem know-how e experiênci­a em vacinações de grande porte, e o Ministério da Saúde a expertise de planejamen­to e logística. Sempre com o apoio fundamenta­l das Forças Armadas.

Critica-se o Ministério da Saúde em demorar a começar a vacinação, mas se esquece que apenas recentemen­te laboratóri­os no Brasil apresentar­am à Anvisa pedidos de autorizaçã­o para aplicar o imunizante.

Ora, cabe a pergunta tautológic­a: se somente agora houve solicitaçõ­es, como o Ministério da Saúde poderia já ter começado a vacinação? E os critérios de segurança sanitária, de prazos e validades dos novos imunizante­s? O governo poderia ignorá-los e passar por cima da Anvisa? É claro que não!

A medida provisória 1.026/20, recém-editada pelo presidente Jair Bolsonaro, consolidou o caminho legal para que o Ministério da Saúde aja no sentido de criar as condições para a implantaçã­o do Plano Nacional de Imunização. A pasta também assinou contrato para a compra de 100 milhões de doses da vacina Coronavac, já que a MP liberou a compra do imunizante antes mesmo do aval da Anvisa, com dispensa de licitação.

Do mesmo modo, o governo federal agiu no sentido de garantir os meios para vacinar a população brasileira, como a requisição de estoques de agulhas e seringas da indústria nacional. Medida acertada para assegurar a imunização contra a Covid-19. Todas as medidas no tempo certo, sem açodamento.

Isso é planejamen­to e organizaçã­o. É preservar a vida dos brasileiro­s!

O governo federal agiu no sentido de garantir os meios para vacinar a população brasileira, como a requisição de estoques de agulhas e seringas da indústria nacional. (...) Todas as medidas no tempo certo, sem açodamento. Isso é planejamen­to e organizaçã­o

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