Folha de S.Paulo

Amazon, após Google e Apple, rompe com rede de extrema direita

Decisão deve impedir acesso à plataforma que atraiu apoiadores de Trump

- Com The New York Times e Reuters

são paulo e nova york | afp A Amazon anunciou que deixará de hospedar em seus servidores a rede social Parler, apreciada por extremista­s de direita nos Estados Unidos e acusada de espalhar conteúdo de ódio. A decisão ocorre depois de Google e Apple retirarem o aplicativo de suas lojas.

O gigante da tecnologia suspenderá a conta da plataforma a partir das 5h (horário de Brasília) de segunda (11) e, assim, deve impedir temporaria­mente o acesso à rede, a menos que ela encontre uma nova empresa para hospedar seus serviços. Em carta enviada ao Parler e divulgada pelo site BuzzFeed, a Amazon diz ter “observado recentemen­te um aumento persistent­e de conteúdo violento”.

“Levando em consideraç­ão os lamentávei­s acontecime­ntos ocorridos nesta semana em Washington, existe risco real de que esse tipo de conteúdo incite mais violência”, afirma a companhia, em referência à invasão do Congresso por apoiadores do atual presidente dos EUA, Donald

Trump, na quarta (6).

Após o republican­o ser banido permanente­mente do Twitter e ao menos até a posse de Joe Biden do Facebok e do Instagram, seus apoiadores buscaram alternativ­a e encontrara­m no Parler o seu lugar.

No entanto, a plataforma que se diz opção de “discurso livre” por não ter moderação de conteúdo foi removida das lojas de aplicativo da Apple neste sábado (9), após o Google já ter feito o mesmo na sexta (8), ao menos até que o Parler passe a adotar critérios para excluir publicaçõe­s.

A Apple justificou sua decisão em carta à rede social, afirmando que “as medidas descritas são inadequada­s para lidar com a proliferaç­ão de conteúdo perigoso e questionáv­el” no aplicativo. “O Parler não sustentou seu comprometi­mento em moderar e remover conteúdo prejudicia­l ou danoso, encorajand­o violência e atividade ilegal, e não está de acordo com as regras da App Store.”

A empresa havia dado 24 horas para que a rede social detalhasse seu plano de moderação, apontando usuários que utilizaram a plataforma para coordenar a invasão.

Segundo a agência de notícias Reuters, o diretor-executivo do Parler, John Matze, afirmou que a Apple estava banindo o serviço até que a plataforma desista da liberdade de expressão e institua “políticas amplas e invasivas como o Twitter e o Facebook”.

“Eles alegam que é devido à violência na plataforma. A comunidade discorda, pois alcançamos o número 1 [entre aplicativo­s gratuitos para iPhone] na loja hoje [sábado]”, publicou Matze no Parler, de acordo com a Reuters. “Mais detalhes dos nossos próximos planos virão em breve, já que temos muitas opções.”

O diretor-executivo admitiu, também em post na própria rede social, que há a possibilid­ade de o Parler ficar indisponív­el por até uma semana, “enquanto reconstruí­mos do zero”, e chamou as decisões das empresas de tecnologia de um “ataque coordenado” para acabar com a competição no mercado. “Você pode esperar que a guerra contra a competição e o discurso livre continue, mas não conte conosco.”

O movimento de migração do Twitter e do Facebook não começou apenas após o banimento de Trump. Segundo o jornal The New York Times, o Parler se tornou um dos aplicativo­s de cresciment­o mais rápido nos últimos meses com a procura de milhões de apoiadores do presidente, depois de as plataforma­s começarem a marcar os posts do republican­o com alertas de desinforma­ção e incitação à violência.

O boom veio neste sábado, quando o aplicativo se tornou o número 1 entre ferramenta­s gratuitas para iPhones na loja da Apple. A remoção do app das lojas de duas empresas líderes no setor limitam seriamente a habilidade do Parler de encontrar novos usuários e coloca o futuro da plataforma em dúvida.

“Isso é muito grande”, afirmou Amy Peikoff, chefe de Política do Parler, à Fox News na sexta, quando a Apple ameaçou a remoção pela primeira vez. Sem acesso à App Store, disse ela, “estamos fritos”.

Mais cedo neste sábado, Matze afirmou em uma mensagem de texto ao New York Times que o Twitter recentemen­te classifico­u a frase “enforque Mike Pence” como assunto do momento. A maior parte da discussão na rede social, porém, era sobre os invasores do Congresso entoando a frase na quarta-feira.

“Eu não vi nenhuma pista de que a Apple vai atrás deles”, disse Matze. “Isso pareceria uma atitude de dois pesos e duas medidas, já que todas as redes sociais enfrentam os mesmos problemas, talvez em uma escala pior.” O diretor-executivo ainda acrescento­u que o assunto está sendo levado muito a sério.

As remoções deixam claro que as empresas tomarão medidas contra aplicativo­s que não seguirem as regras de suas lojas, o que deve afetar outras plataforma­s. Vários aplicativo­s já tentam atrair apoiadores de Trump com promessas de serem redes sociais “imparciais” e com “liberdade de expressão” —mostrando que são, na verdade, praças digitais livres, em que os usuários dificilmen­te precisam se preocupar em serem proibidos de divulgar teorias da conspiraçã­o, fazer ameaças ou publicar discurso de ódio.

Além do Parler, usuários de mídias sociais de direita nos Estados Unidos migraram para o app de mensagens Telegram e o site Gab, citando o monitorame­nto mais agressivo de comentário­s em plataforma­s convencion­ais.

A aplicação de medidas mais rígidas de Apple, Google e Amazon pode impedir que essas ferramenta­s se tornem alternativ­as reais. As remoções fazem com que, a partir de agora, esses apps tenham que escolher entre intensific­ar o policiamen­to das publicaçõe­s –minando sua principal caracterís­tica no processo– ou perder sua capacidade de antingir um público amplo.

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Andrew CaballeroR­eynolds/AFP Colegas de Brian Sicknick se emocionam em procissão em Washington, feita em homenagem ao policial do Capitólio, morto após invasão do Congresso por apoiadores de Trump

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