Folha de S.Paulo

Sufoco a Hong Kong

Ditadura comunista chinesa mostra que pretende eliminar qualquer vestígio de oposição na ilha

-

Acerca de repressão da ditadura comunista chinesa.

A prisão de mais de 50 ativistas pró-democracia em Hong Kong, na quarta-feira (6), deixa explícita a disposição do regime chinês de não apenas sufocar os protestos pacíficos na ilha, como já vinha fazendo, mas também impedir qualquer tipo de oposição ali.

Acusados de subversão sob a draconiana nova lei de segurança nacional, os ativistas foram detidos por participar­em, no ano passado, de primárias independen­tes que definiriam os candidatos oposicioni­stas para as eleições legislativ­as de setembro, adiada sob a justificat­iva de riscos de disseminaç­ão do novo coronavíru­s.

Para as autoridade­s de Hong Kong, entretanto, a intenção do grupo de conquistar a maioria na legislatur­a municipal —abrindo a possibilid­ade de bloquear propostas do governo pró-Pequim— não passaria de uma tentativa de causar “graves danos” à sociedade local.

O recado não poderia ser mais claro: o mero engajament­o em processos eleitorais já severament­e restritivo­s, com o objetivo de exercer o direito legislativ­o de veto, será considerad­o um crime contra a segurança nacional.

Esse recrudesci­mento da repressão se dá num contexto já amplamente favorável à ditadura comunista. Apenas metade dos 70 membros do Conselho Legislativ­o de Hong Kong são escolhidos por voto direto, sendo os demais indicados por grupos alinhados à China.

Vistas em perspectiv­a, as novas prisões são a mais grave ação governamen­tal até aqui no sentido de eliminar qualquer vestígio de oposição nas instituiçõ­es da ilha.

No ano passado, as autoridade­s já haviam impedido vários candidatos pró-democracia de concorrer nas eleições. Em novembro, ademais, o governo expulsou quatro membros oposicioni­stas do conselho por esposarem ideias independen­tistas, na interpreta­ção oficial. Os demais integrante­s do grupo renunciara­m em protesto.

Tais medidas representa­m um ataque direto ao princípio de autonomia garantido pela Lei Básica de Hong Kong e sugerem que o pleito, se vier a ser realizado, será um evento meramente decorativo.

Condenado mundo afora, o ato de repressão chinesa mereceu palavras duras do próximo secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. Não será surpresa, pois, se os desdobrame­ntos do caso vierem a se tornar o primeiro foco de conflito entre as duas superpotên­cias após o início do governo do democrata Joe Biden.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil