Folha de S.Paulo

Baleia, pró-governo na economia, ajustou discurso para atrair oposição

- JCeGU

Considerad­o discreto e avesso a conflitos, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) coleciona histórico de votações favoráveis ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara, mas tem buscado marcar posição de distância do Executivo.

Deputado pela segunda vez, o paulista votou a favor do impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), cujo argumento foi considerad­o ilegal pelo PT e outros partidos de oposição.

Agora, para atrair e manter ao seu lado siglas de esquerda, Baleia adotou em seu vocabulári­o frases como o “respeito ao Estado democrátic­o de Direito, às liberdades e às minorias”, como pregou em 23 de dezembro.

O objetivo é reforçar, como diz o slogan da sua própria campanha, que a Câmara será independen­te caso eleito.

Na semana passada, o deputado falou em retomar o pagamento do auxílio emergencia­l e ampliar o Bolsa Família e irritou o mercado ao não ressaltar que isso só ocorreria dentro do teto de gastos.

O discurso foi sob medida para a oposição, que defende o pagamento da ajuda financeira mesmo que para isso seja preciso estourar o limite de despesas.

Baleia reforçou depois que defende solução dentro do teto. Mas o mercado foi pego de surpresa com a declaração inicial.

O próprio emedebista define-se como de perfil centro-liberal na economia, ajudou a aprovar a reforma da Previdênci­a e é favorável, por exemplo, à reforma administra­tiva enviada pelo Executivo, que promove uma reestrutur­ação do serviço público.

Baleia também é autor da reforma tributária, sobre a qual dialogou ao longo dos últimos meses com a equipe econômica.

Por mais de uma vez, o congressis­ta recebeu convites para que o partido o MDB passasse a integrar a base de apoio do governo na Câmara. Baleia, inclusive, participou de reuniões com os congressis­tas aliados do Executivo.O deputado, porém, não cedeu ao Palácio do Planalto e oficialmen­te manteve a postura de independên­cia.

Em campanha, tem o desafio de acentuar ainda mais essa caracterís­tica para fazer frente a Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio de Bolsonaro, e conter dissidênci­as no bloco de 11 partidos que o lançou e conta com MDB, DEM, PT, PSL, PSB, PDT, PC do B, PSDB, PV, Cidadania e Rede.

De acordo com deputados, há defecções não só nas siglas de oposição, mas nas de centro, como DEM, PSDB e o próprio MDB.

Em pré-campanha desde meados do ano passado, a candidatur­a de Baleia só engrenou no fim de 2020, às vésperas do Natal.

Desde que o STF (Supremo Tribunal Federal) barrou a possibilid­ade de reeleição de Maia, em 6 de dezembro, o grupo de partidos que orbita o presidente da Câmara aguardava a definição sobre qual nome os representa­ria.

A disputa inicialmen­te tinha o nome de cinco deputados, dos quais os principais eram Baleia e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). O último tinha mais apoios na oposição, sobretudo no PT.

Dilma tem mágoas do emebebista, que era ligado ao ex-presidente Michel Temer (MDB), e a posição dela quase levou o PT a vetá-lo. No fim de 2020, Dilma disse em entrevista que não há “ninguém mais contra a democracia do que foi o MDB”.

A definição do candidato passou pela capacidade de aglutinaçã­o de apoios que cada um teria. Pesou a favor de Baleia o endosso do DEM do Senado e da cúpula do PSDB. Além disso, os líderes de PC do B, PDT e PSB, que inicialmen­te tinham fortes ressalvas a ele, o apoiaram.

Junto a isso, Aguinaldo enfrentou entraves para se viabilizar, já que o PP, seu partido, chancela a candidatur­a de Lira e, caso ele fosse lançado, haveria uma conta difícil a ser feita para acomodar aliados do bloco de 11 partidos em cargos da Mesa Diretora.

O seu desafio agora, apontam aliados, será fazer o corpo a corpo com deputados.

Dentro do MDB, correligio­nários o chamam de “discípulo de Temer” por se assemelhar ao ex-presidente no trato com os colegas, evitar entrar em bolas divididas e construir acordos.

O deputado assumiu a presidênci­a do MDB em 2019 com consenso em torno de seu nome. Ele também é líder do partido na Casa desde 2016.

É atribuída a Baleia uma mudança na comunicaçã­o do partido para posicionar a sigla como de centro-direita e afastá-la o tanto quanto possível da pecha de “centrão”.

No primeiro mandato, ele votou pela cassação do expresiden­te da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), expoente do centrão e alvejado por investigaç­ões da Lava Jato.

Naquela época, ajudou a articular a aprovação de propostas polêmicas, como o teto de gastos públicos e a reforma trabalhist­a —medidas também criticadas pelos partidos de esquerda.

“Temos o dever de fiscalizar as ações do Executivo. Exatamente por isso, a Câmara não pode ser submissa. Se for submissa, não fiscaliza e não acompanha Baleia Rossi ao lançar sua candidatur­a na última quarta-feira (6)

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