Folha de S.Paulo

Lira, que já criticou Bolsonaro, costurou aliança e tem hoje fidelidade elogiada

- GUeJC

O candidato de Jair Bolsonaro (sem partido) à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) é descrito por aliados e adversário­s como um político com senso de oportunida­de.

Para sua candidatur­a ao comando da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) fez uma jogada arriscada, mas que acabou lhe rendendo um dos postos de favorito para a disputa legislativ­a.

Após o governo Bolsonaro enfrentar derrotas em série no Legislativ­o, partiu do líder do centrão a iniciativa de, em março, começar a costurar um pacto com o chefe do Executivo para preencher o vazio deixado pela falta de uma base aliada.

Segundo aliados do alagoano, já naquela época o congressis­ta tinha consciênci­a de que dificilmen­te conseguiri­a se viabilizar como candidato de Maia e que, por isso, precisava contar com a força da máquina pública para conquistar o cargo.

O apoio valioso, no entanto, teve um custo alto. A aliança com o presidente empurrou os partidos de oposição, que correspond­em a quase um quarto do total, para a candidatur­a de Baleia Rossi (MDB-SP), o que fortaleceu o rival.

Lira, porém, não se convenceu do ônus político. Conhecido pela teimosia e persuasão, tem atuado para reverter votos, estimuland­o traições até mesmo em partidos de esquerda, como PT, PDT ePCdoB.

Em outros, como o PSB, no qual já tem o apoio de parte da bancada, trabalha para manter os votos conquistad­os. Para isso, conta com arsenal de cargos e emendas do Executivo.

A aproximaçã­o de Lira com Bolsonaro teve início na tramitação da reforma da Previdênci­a, em 2019. O deputado foi contatado pelo Planalto para ajudar a costurar acordos, tanto com o centro como com a esquerda, para aprovar a iniciativa.

No ano passado, ele voltou a ser requisitad­o, desta vez pelo ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, quando o presidente se deu conta de que precisava de uma base aliada. O chamado foi visto pelo congressis­ta como uma oportunida­de.

Inicialmen­te, o casamento com o centrão enfrentou resistênci­as no Planalto, já que contradizi­a discurso de campanha de Bolsonaro. O receio de abertura de um processo de impeachmen­t e a necessidad­e de viabilizar vitrines eleitorais, no entanto, venceram as barreiras do presidente.

A relação de Bolsonaro com Lira é ambígua. Apesar de o presidente já ter se queixado do apetite por cargos do aliado, ele o elogia por ser um deputado fiel, que cumpre com a palavra.

A caracterís­tica é reconhecid­a até mesmo por desafetos políticos de Lira, para os quais ele é um respeitado­r de acordos.

A fidelidade do deputado, no entanto, é colocada à prova quando ameaça interesses do bloco. Sem acordo para a presidênci­a da CMO (Comissão Mista de Orçamento), o bloco do centrão obstruiu a pauta de votações, deixando de apreciar medidas do governo.

Na votação da renovação do Fundeb (fundo da educação básica), o bloco liderado por Lira até ensaiou obstruir a iniciativa, mas recuou e deixou o governo sozinho após calcular o prejuízo político que a iniciativa poderia lhe causar.

Apesar de ser o candidato do governo, Lira já criticou, em caráter reservado, a postura ideológica da atual gestão e não é entusiasta da pauta de costumes. É por isso que o núcleo radical do Palácio do Planalto tentou fomentar uma candidatur­a governista que fosse alternativ­a à dele. Não teve êxito.

“O governo precisa entrar em sintonia com a real necessidad­e da população e deixar de lado a pauta de costumes e polêmicas que não contribuem e não apontam para a construção de um futuro melhor ao nosso país”, escreveu Lira em 2019 nas redes sociais.

Além do apoio de Bolsonaro, as ações penais enfrentada­s pelo candidato são um fator apontado por deputados de centro e de esquerda como um impediment­o para uma adesão.

Como mostrou a Folha na última sexta-feira (8), Lira foi alvo de ação apresentad­a por sua ex-mulher Jullyene Santos Lins, que o acusa de injúria e difamação e diz que “o medo a segue 24 horas por dia”. O deputado afirma que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher “mostrarams­e infundadas”.

Se o acordo com o governo ajudou na candidatur­a de Lira, uma vitória na disputa legislativ­a também pode servir como um novo trampolim. Segundo aliados do deputado, ele não esconde o desejo de concorrer a governador de Alagoas em 2022.

Para isso, pode enfrentar novamente a oposição do MDB de Baleia, que é capitanead­o no estado pelo senador Renan Calheiros (MDBAL), pai do atual governador.

“Maia é tão candidato que resolveu se manifestar e falar por seu preposto. Está claro o cenário: uma Câmara de todos versus sete anos de decisões fechadas na cúpula e impostas de cima pra baixo Arthur Lira no Twitter no sábado (9)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil