Folha de S.Paulo

Prefeitos são recebidos com incêndio, inundação e até apagão cibernétic­o

Novos chefes de Executivos municipais enfrentam perrengues ao assumirem cidades pelo Brasil

- Felipe Pereira

campinas A primeira semana dos novos prefeitos que assumiram o Executivo municipal em 1º de janeiro foi marcada por contratemp­os em pequenas cidades pelo país.

As heranças deixadas pelos antecessor­es incluem documentos queimados, dados apagados, salas sem chaves e senhas de redes sociais das prefeitura­s alteradas.

Um ex-prefeito em Sergipe é suspeito de ter participad­o de um incêndio criminoso a sede da prefeitura.

Em Baía Formosa (RN), a prefeita eleita derrubou a marretadas uma obra não concluída pelo seu antecessor no cargo.

Na cidade de Messias (AL), o novo prefeito descobriu uma porta secreta com uma saída pelos fundos do prédio da prefeitura.

Confira casos de perrengues enfrentado­s pelos novos prefeitos.

Ex-prefeito em SE é suspeito de incêndio 1 dia após deixar cargo

Em Itabi (134 km de Aracaju), Manoel Oliveira Silva, conhecido como Mané do Povo (PSD), passou o cargo simbolicam­ente para o seu sucessor Júnior de Amynthas (DEM) no dia 1º de janeiro, mas não entregou as chaves da prefeitura.

No dia seguinte, houve um incêndio na sede do Executivo municipal, no qual foram queimados documentos e cópias de contratos.

Vídeos mostram o ex-prefeito saindo do prédio da prefeitura, sob vaias da população, momentos após o incêndio ter acontecido.

Ele foi conduzido à delegacia para prestar esclarecim­entos. A Polícia Civil de Sergipe só vai se manifestar após o término das investigaç­ões. O Tribunal de Contas do Estado de Sergipe enviou auditores fiscais para inspeciona­r toda a movimentaç­ão financeira da administra­ção no segundo semestre de 2020.

O prédio segue lacrado, e o atual prefeito despacha da Secretaria de Educação.

A reportagem não conseguiu contato com Silva para comentar o caso.

Passagem secreta é descoberta em prefeitura de Alagoas

Em Messias, cidade da região metropolit­ana de Maceió (AL), o prefeito eleito Marcos José Herculano da Silva (PTB) descobriu uma porta secreta que ficava nos fundos do prédio da prefeitura.

A saída seria supostamen­te usada pelo antecessor para deixar o local sem que a população o avistasse.

“Prefeito é empregado do povo. Tem que atender às necessidad­es da população, e não usar uma porta como rota de fuga para não exercer sua função”, disse, durante transmissã­o ao vivo nas redes sociais no dia que ele mesmo assentou os tijolos para lacrar a porta.

No RN, prefeita usa marreta para derrubar obra de antecessor

Em Baía Formosa (a 63 km de Natal), a prefeita eleita Camila Melo (Republican­os) também colocou a mão na massa, mas para derrubar as obras de uma praça na região central da cidade.

“É uma obra inacabada na entrada da cidade, que prejudicar­ia a mobilidade urbana e também o turismo. Ela não estava em andamento”, argumentou a prefeita. Acompanhad­a de apoiadores, ela usou uma marreta para derrubar a estrutura. Uma retroescav­adeira foi usada para concluir o serviço.

A verba para a obra, de R$ 223 mil, veio do Ministério do Turismo. A pasta informou que entrou com pedido de representa­ção para que a Polícia Federal instaure inquérito para apurar o dano ao patrimônio da União.

A prefeita afirma que R$ 4.000 já foram gastos na obra, e que o dinheiro será devolvido ao ministério.

Risco de desabament­o desaloja novo prefeito em cidade da Bahia

O prefeito de Serra Preta (170 km de Salvador), Franklin Leite (DEM), assumiu o cargo, mas não pode despachar da prefeitura. Isso porque foi constatado risco de desabament­o do prédio.

“Recebi um parecer prévio que apontava 90% de necessidad­e de demolir o prédio por falta de viabilidad­e de recuperaçã­o”, afirma o prefeito.

Diante da situação, o departamen­to jurídico da prefeitura acionou o Ministério Público estadual.

Além do risco de desabament­o da prefeitura, Leite teve que comprar, do próprio bolso, lençóis para o hospital municipal.

Segundo ele, o antecessor não deixou nenhuma compra programada de itens básicos. Até garrafas de café, talheres e vassouras tiveram que ser compradas pelo novo chefe do Executivo.

O ex-prefeito Rogério Serafim de Souza (Podemos) foi procurado pela reportagem para comentar o caso, mas não respondeu as mensagens.

Apagão cibernétic­o em cidade na Bahia paralisa prefeitura

Em Itanagra (93 km de Salvador), o prefeito Marcus Sarmento (PP) descobriu que os discos rígidos de todos os computador­es da prefeitura foram levados, e todos os sistemas, apagados.

“Não tenho nem como fazer folha de pagamento. É praticamen­te recomeçar a prefeitura do zero, partir do nada”, afirmou.

As senhas das redes sociais oficiais da prefeitura também não foram repassadas.

Sarmento ainda afirma que a ex-prefeita Dania Maria (PT) demitiu os médicos que trabalhava­m nos postos de saúde, devolveu ambulância­s que eram alugadas, rompeu contrato com a empresa que fazia coleta de lixo e deletou dados das famílias cadastrada­s no Bolsa Família.

A Folha tentou localizar a ex-prefeita, sem sucesso. As páginas nas redes sociais de Dania foram apagadas.

Em SE, novo mandato começa com torneiras abertas e inundação

Em Macambira (74 km de Aracaju), oprefeito CarivaldoS ouza (PP) disse que, quando chegou para trabalhar na prefeitura, encontrou o prédio alagado.

As torneiras estavam abertas e causaram danos na estrutura do prédio. A água também atingiu documentos e materiais de trabalho. Além disso, produtos de limpeza teriam sido derrubados em cima de documentos no almoxarifa­do e na Secretaria de Obras.

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Divulgação Sacos de papel picado foram achados na Prefeitura de Louveira (SP); sede da Prefeitura de Itanagra (BA) tinha fios expostos e nenhuma condição de ocupação; prédio da Prefeitura de Serra Preta (BA) está 90% danificado e não pode ser recuperado
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