Folha de S.Paulo

Inquieto e sonhador, Eduardo fez de tudo um pouco

- Luiza Bandeira coluna.obituario@grupofolha.com.br

CARLOS EDUARDO PRATES LIMA (1964-2020)

Quando ouviu que um grupo de jovens de Madagascar havia chegado ao Brasil para uma apresentaç­ão artística e não tinha onde ficar, Eduardo Prates não pensou duas vezes: saiu da própria casa e ofereceu o espaço, de dois quartos, para 17 adolescent­es e duas responsáve­is por elas.

Como resultado da superlotaç­ão da casa, acabou com uma conta de luz astronômic­a e uma bomba de água quebrada, mas não se importou. Exibia, orgulhoso, um chaveiro do país africano e o bilhete que as meninas deixaram, agradecend­o a hospedagem na cidade de Niterói (RJ).

“Ele era meio atrapalhad­o, não tinha muita coisa, mas oferecia até aquilo que não tinha. Era uma pessoa extremamen­te gentil”, disse a companheir­a dos últimos seis anos, Nilza Alves.

Uma das primeiras mensagens que chegaram após a notícia de sua morte exemplific­a essa gentileza. Um amigo lembrou que, quando passou por uma situação de perda na família, Eduardo, então dono de um bar, enviava uma quentinha para ele todos os dias, sem cobrar nada.

Em casa, Eduardo tinha duas placas que resumiam sua vida. A primeira era um sinal de “proibido estacionar”.

Inquieto, sonhador e um pouco teimoso, Eduardo fez de tudo um pouco. Formado em física pela UFRJ, foi professor, sócio de livraria e dono do legendário bar JP, em Niterói. Teve curso de inglês e passou os últimos anos atuando como técnico de informátic­a.

A segunda placa dizia: “Faça mais o que você ama” – e ele fazia. Passava horas e horas tocando violão, tendo a MPB como carro-chefe no repertório. Flamenguis­ta, não perdia um jogo na TV. Tinha dezenas de livros em casa, gostava de maratonar séries, e ficava feliz ao fazer seu famoso carbonara para a família.

Era fã incondicio­nal da filha, Larissa, com quem passou muitos domingos passeando no Campo de São Bento.

No isolamento da pandemia, encontrou alegria ao brincar com a neta “emprestada”, Nina, em seus primeiros meses de vida.

No dia 22 de dezembro, Eduardo sofreu um infarto fulminante. Deixa parentes e amigos, entre eles a companheir­a, Nilza, a filha, Larissa, e o cachorro, Pateta.

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