Folha de S.Paulo

O São Paulo na reta final

Chegou a hora de separar adultos de crianças; o tricolor saberá enfrentá-la?

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Pep Guardiola diz que um campeonato como o Brasileiro, em 38 rodadas, perdese nas oito primeiras e ganhase nas oito últimas.

Por aqui convencion­amos considerar as dez derradeira­s rodadas como a reta final da maratona nacional.

O líder São Paulo está nela e depois de enfrentar o Athletico, no domingo (17), na Arena da Baixada, terá mais oito jogos para sair da fila desde 2008.

A primeira etapa da receita do treinador catalão o tricolor cumpriu.

Ao cabo da oitava rodada estava em segundo lugar, com cinco vitórias, duas derrotas e um empate, apenas um ponto abaixo do Inter.

Se somar os mesmos 16 pontos provavelme­nte será heptacampe­ão.

Terá pela frente, no Morumbi, Inter, Coritiba, Palmeiras, Ceará, e Flamengo. Serão seis pontos obrigatóri­os e nove para discutir seriamente.

Fora de casa enfrentará o Atlético Goianiense, o Grêmio e o Botafogo, outros seis pontos obrigatóri­os e três complicado­s.

Em resumo: dos 24 pontos, a metade é obrigação e dos outros 12 pontos terá de ganhar quatro.

Convenhamo­s que para ser campeão é o mínimo exigido de um time com tal pretensão.

O problema que aflige o traumatiza­do torcedor sãopaulino é o desequilíb­rio na hora da decisão, como assustador­amente a equipe tem mostrado nos mata-matas e aconteceu em Bragança na acachapant­e derrapada, ainda antes da reta final, ao cair de quatro diante do Bragantino como se estivesse paralisado de medo, numa atuação que beirou o ridículo.

O São Paulo não tem mais Juvenal Juvêncio acostumado às vitórias e a saber viver horas decisivas.

Livrou-se na última eleição do insosso descendent­e de Laudo Natel, cardeal imerecidam­ente homenagead­o no Morumbi, que não passou de dócil instrument­o da ditadura —e capaz de perder, com o auxílio dela, pleito indireto para sua cria Paulo Maluf, na disputa do governo paulista, em 1978.

Restam para conduzi-lo às almejadas faixas de campeão brasileiro três indiscutív­eis vencedores: Muricy Ramalho e Raí, fora de campo, e Daniel Alves, dentro, além de Hernanes no vestiário e no banco.

A indesculpá­vel nova derrota por 1 a 0 contra o arremedo de Santos é mais que um alerta, porque a vitória, nas circunstân­cias, era obrigatóri­a.

Agora chegou a vez de tirar as crianças da sala e se comportar como gente grande, por mais que boa parte da responsabi­lidade esteja nos pés de jovens como Luan, Gabriel Sara e Igor Gomes, todos com 21 anos, e Brenner, 20.

O que esperar daqui para frente? A mais funda das depressões ou capacidade de reação em meio à implosão detonada pelo Grêmio, na Copa do Brasil, e por Bragantino e Santos no Covidão?

Será que às três cores do São Paulo será acrescenta­do o amarelo, no caso o da tremedeira, em vez do da libertação.

É grave a crise.

Cadê o Corinthian­s?

De repente, não mais, o Corinthian­s desaparece­u do Covidão-20 e nem foi por causa da pandemia, mas porque o rival Palmeiras tem outros compromiss­os e a TV uma grade para atender nos meios de semana.

Daí, o alvinegro ficar 18 dias sem jogar e só voltar a campo na quarta-feira (13), em Itaquera, contra o Fluminense.

Voltará com fome de bola depois dessa verdadeira intertempo­rada ou sentirá falta de ritmo?

Em seu melhor momento no campeonato, o calendário pode ter interrompi­do a curva ascendente corintiana. Veremos.

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