Ford fechará suas fábricas no Brasil
Corte inclui demissão de 5.000 trabalhadores no país e na Argentina; produção em Camaçari (BA) para imediatamente
A Ford anunciou ontem que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano. A empresa começou 2020 com 8.000 funcionários no país, conta agora com 6.171 e demitirá outros 5.000 no Brasil e na Argentina.
A marca americana manterá algumas operações locais. A sede na América do Sul permanecerá em São Paulo, e o campo de provas de Tatuí (SP) continuará operando, bem como o centro de desenvolvimento da Bahia.
A montadora fechou o ano passado com 7,1% de participação no mercado, que já vinha em queda. Havia fechado a unidade de São Bernardo do Campo e desativa agora Camaçari (BA), onde fazia os modelos Ka e EcoSport.
Taubaté (SP), que fabrica motores e transmissões, e Horizonte (CE), que produz o utilitário Troller, serão fechadas ao longo do ano.
Em nota, a Ford disse que atenderá a região com seu portfólio global de produtos.
A Anfavea lamentou a decisão e lembrou que vem alertando para a ociosidade da indústria e a falta de medidas para reduzir o custo Brasil.
A Ford foi a primeira grande fabricante a se instalar no país, em 1919.
A Ford anunciou nesta segunda (11) que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano.
A empresa começou 2020 com 8.000 funcionários no Brasil. De lá para cá, foi realizando desligamentos. Hoje, conta com 6.171 contratados. A Ford anunciou que serão demitidos 5.000 trabalhadores no Brasil e na Argentina, sem dar detalhes.
O grupo remanescente no mercado brasileiro vai manter algumas operações locais. A sede da montadora na América do Sul continuará no Brasil, e o campo de provas de Tatuí, bem como o centro de desenvolvimento da Bahia, continuam operando.
De acordo com a consultoria Bright, especializada no setor automotivo, 84,9% dos 138 mil carros vendidos pela Ford no Brasil em 2020 foram produzidos no país.
A montadora fechou o ano passado com 7,1% de participação no mercado, índice que vinha em queda nos últimos anos. Ficou no quinto lugar em vendas de carros de passeio e veículos comerciais leves, atrás de General Motors (17,35%), Volkswagen (16,8%), Fiat (16,5%) e Hyundai (8,6%).
Em decorrência do anúncio, a Ford prevê um impacto de cerca de US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes.
Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.
A montadora já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (ABC), que foi vendida para a Construtora São José. Agora, confirma a interrupção imediata das atividades em Camaçari (BA), onde produz os modelos Ka e EcoSport.
Em nota, o governo da Bahia lamentou a saída da Ford do Brasil e diz que já busca alternativas para substituir a montadora americana.
“O governo do estado lamenta o encerramento da produção nas unidades da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller, em Horizonte (CE). O governo destaca os impactos socioeconômicos consequentes do fechamento da empresa, importante geradora de empregos e renda no estado”, diz o texto.
A nota também informa que o governador Rui Costa, assim que soube da decisão, entrou em contato com a Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) para discutir a formação de grupo de trabalho com a proposta de avaliar alternativas ao fechamento.
“O governo estadual também entrou em contato com a embaixada da China para sondar possíveis investidores com interesse em assumir o negócio na Bahia”, destaca o texto da nota.
A unidade de Taubaté (SP), que fabrica motores e transmissões, e em Horizonte (CE), que produz o utilitário Troller T4, serão fechadas ao longo do ano.
O governador de São Paulo, João Doria, se manifestou em sua rede social. “Lamento a decisão da Ford de encerrar sua produção de automóveis no Brasil. A medida afeta o fechamento de fábricas no Ceará, Bahia e SP. Foi decisão global da Ford Motors”, escreveu no Twitter, destacando que seriam mantidos 700 trabalhadores no estado, uma parte em Tatuí, onde está o campo de provas, e outra, na capital.
Após o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, a Ford optou por transferir sua sede para a cidade de São Paulo. O endereço do novo local não chegou a ser divulgado, pois a inauguração foi adiada devido a pandemia. A aérea administrativa está em home office.
O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté convocou assembleia de emergência em frente à fábrica para discutir ações em conjunto com os trabalhadores. A unidade tem cerca de 830 funcionários.
Em nota, a prefeitura também disse lamentar o fechamento da unidade da Ford “e a consequente demissão dos 830 funcionários, entendendo que a crise econômica mundial tem reflexos na cidade”.
A gestão municipal afirmou que a cidade não pode arcar sozinha com o prejuízo do encerramento das atividades da fábrica. “Ainda nesta semana, o Executivo terá reuniões com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e do governo do estado para buscar alternativas”, diz a nota.
Em comunicado, a empresa afirma que “atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca, como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados”.
“Trata-se de uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas. Respeitamos e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano, sobre a ociosidade da indústria (local e global) e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil”, disse, em nota, a Anfavea (associação das montadoras)
Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a decisão da Ford é “um movimento que tem de ser olhado com atenção”.
“A Fiesp tem alertado sobre a necessidade de implementar uma agenda que reduza o custo Brasil, melhore o ambiente de negócios e aumente a competitividade dos produtos brasileiros. Isso não é apenas discurso”, afirmou.
Segundo a entidade, a alta carga tributária faz diferença na hora da tomada de decisões. A Fiesp pede reformas estruturais, redução de impostos e melhoraria da competitividade da economia brasileira para atração de investimentos e geração de empregos.
As ações da Ford fecharam em alta de 3,33% em Nova York. O índice S&P 500 cedeu 0,66%.