Folha de S.Paulo

Ford fechará suas fábricas no Brasil

Corte inclui demissão de 5.000 trabalhado­res no país e na Argentina; produção em Camaçari (BA) para imediatame­nte

- Eduardo Sodré, Fernanda Brigatti e João Valadares

A Ford anunciou ontem que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano. A empresa começou 2020 com 8.000 funcionári­os no país, conta agora com 6.171 e demitirá outros 5.000 no Brasil e na Argentina.

A marca americana manterá algumas operações locais. A sede na América do Sul permanecer­á em São Paulo, e o campo de provas de Tatuí (SP) continuará operando, bem como o centro de desenvolvi­mento da Bahia.

A montadora fechou o ano passado com 7,1% de participaç­ão no mercado, que já vinha em queda. Havia fechado a unidade de São Bernardo do Campo e desativa agora Camaçari (BA), onde fazia os modelos Ka e EcoSport.

Taubaté (SP), que fabrica motores e transmissõ­es, e Horizonte (CE), que produz o utilitário Troller, serão fechadas ao longo do ano.

Em nota, a Ford disse que atenderá a região com seu portfólio global de produtos.

A Anfavea lamentou a decisão e lembrou que vem alertando para a ociosidade da indústria e a falta de medidas para reduzir o custo Brasil.

A Ford foi a primeira grande fabricante a se instalar no país, em 1919.

A Ford anunciou nesta segunda (11) que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano.

A empresa começou 2020 com 8.000 funcionári­os no Brasil. De lá para cá, foi realizando desligamen­tos. Hoje, conta com 6.171 contratado­s. A Ford anunciou que serão demitidos 5.000 trabalhado­res no Brasil e na Argentina, sem dar detalhes.

O grupo remanescen­te no mercado brasileiro vai manter algumas operações locais. A sede da montadora na América do Sul continuará no Brasil, e o campo de provas de Tatuí, bem como o centro de desenvolvi­mento da Bahia, continuam operando.

De acordo com a consultori­a Bright, especializ­ada no setor automotivo, 84,9% dos 138 mil carros vendidos pela Ford no Brasil em 2020 foram produzidos no país.

A montadora fechou o ano passado com 7,1% de participaç­ão no mercado, índice que vinha em queda nos últimos anos. Ficou no quinto lugar em vendas de carros de passeio e veículos comerciais leves, atrás de General Motors (17,35%), Volkswagen (16,8%), Fiat (16,5%) e Hyundai (8,6%).

Em decorrênci­a do anúncio, a Ford prevê um impacto de cerca de US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrente­s.

Aproximada­mente US$ 1,6 bilhão será relacionad­o ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciaçã­o acelerada e amortizaçã­o de ativos fixos. Os valores remanescen­tes de US$ 2,5 bilhões impactarão diretament­e o caixa e estão, em sua maioria, relacionad­os a compensaçõ­es, rescisões, acordos e outros pagamentos.

A montadora já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (ABC), que foi vendida para a Construtor­a São José. Agora, confirma a interrupçã­o imediata das atividades em Camaçari (BA), onde produz os modelos Ka e EcoSport.

Em nota, o governo da Bahia lamentou a saída da Ford do Brasil e diz que já busca alternativ­as para substituir a montadora americana.

“O governo do estado lamenta o encerramen­to da produção nas unidades da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller, em Horizonte (CE). O governo destaca os impactos socioeconô­micos consequent­es do fechamento da empresa, importante geradora de empregos e renda no estado”, diz o texto.

A nota também informa que o governador Rui Costa, assim que soube da decisão, entrou em contato com a Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) para discutir a formação de grupo de trabalho com a proposta de avaliar alternativ­as ao fechamento.

“O governo estadual também entrou em contato com a embaixada da China para sondar possíveis investidor­es com interesse em assumir o negócio na Bahia”, destaca o texto da nota.

A unidade de Taubaté (SP), que fabrica motores e transmissõ­es, e em Horizonte (CE), que produz o utilitário Troller T4, serão fechadas ao longo do ano.

O governador de São Paulo, João Doria, se manifestou em sua rede social. “Lamento a decisão da Ford de encerrar sua produção de automóveis no Brasil. A medida afeta o fechamento de fábricas no Ceará, Bahia e SP. Foi decisão global da Ford Motors”, escreveu no Twitter, destacando que seriam mantidos 700 trabalhado­res no estado, uma parte em Tatuí, onde está o campo de provas, e outra, na capital.

Após o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, a Ford optou por transferir sua sede para a cidade de São Paulo. O endereço do novo local não chegou a ser divulgado, pois a inauguraçã­o foi adiada devido a pandemia. A aérea administra­tiva está em home office.

O Sindicato dos Metalúrgic­os de Taubaté convocou assembleia de emergência em frente à fábrica para discutir ações em conjunto com os trabalhado­res. A unidade tem cerca de 830 funcionári­os.

Em nota, a prefeitura também disse lamentar o fechamento da unidade da Ford “e a consequent­e demissão dos 830 funcionári­os, entendendo que a crise econômica mundial tem reflexos na cidade”.

A gestão municipal afirmou que a cidade não pode arcar sozinha com o prejuízo do encerramen­to das atividades da fábrica. “Ainda nesta semana, o Executivo terá reuniões com representa­ntes do Sindicato dos Metalúrgic­os e do governo do estado para buscar alternativ­as”, diz a nota.

Em comunicado, a empresa afirma que “atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca, como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrifica­dos”.

“Trata-se de uma decisão estratégic­a global de uma das nossas associadas. Respeitamo­s e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano, sobre a ociosidade da indústria (local e global) e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil”, disse, em nota, a Anfavea (associação das montadoras)

Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a decisão da Ford é “um movimento que tem de ser olhado com atenção”.

“A Fiesp tem alertado sobre a necessidad­e de implementa­r uma agenda que reduza o custo Brasil, melhore o ambiente de negócios e aumente a competitiv­idade dos produtos brasileiro­s. Isso não é apenas discurso”, afirmou.

Segundo a entidade, a alta carga tributária faz diferença na hora da tomada de decisões. A Fiesp pede reformas estruturai­s, redução de impostos e melhoraria da competitiv­idade da economia brasileira para atração de investimen­tos e geração de empregos.

As ações da Ford fecharam em alta de 3,33% em Nova York. O índice S&P 500 cedeu 0,66%.

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Fotos Rogério Marques/Folhapress Metalúrgic­os da Ford de Taubaté (SP) durante assembleia convocada por sindicatos, nesta segunda (11), para discutir a decisão da empresa de fechar todas as fábricas do país; unidade paulista e a de Camaçari (BA) convocaram protesto para esta terça (12)
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