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Jornalismo profission­al caminha com livre difusão de ideias, não bloqueios de manifestaç­ões

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Sobre jornalismo e livre difusão do pensamento.

“Produtores de conteúdo de qualidade e registro histórico como a Folha têm o desafio de fazer prevalecer os valores do jornalismo profission­al na cacofonia própria do meio digital, em que informação e entretenim­ento, realidade e rumor, notícias e ‘notícias falsas’ tendem a se confundir e quase tudo se expressa com igual estridênci­a, reproduzid­o de forma desligada do contexto original.”

O desafio foi descrito na atual edição do Projeto Editorial deste jornal, publicada há quatro anos, e submetido a teste acadêmico inédito na última campanha eleitoral.

Conduzido por cientistas políticos de universida­des do Brasil e dos EUA, o trabalho chegou a conclusão alvissarei­ra: o jornalismo profission­al diminui significat­ivamente a probabilid­ade de uma pessoa acreditar em fake news.

A difusão de informação confiável continua sendo o melhor antídoto ao veneno que intoxicou as democracia­s nos últimos anos. Só funciona, porém, em sociedades que gozam de liberdade de expressão —um valor ameaçado.

A defesa da livre circulação de ideias, o que evidenteme­nte inclui ideias ruins, precisa ser intransige­nte. Não pode ocorrer segundo as conveniênc­ias de momento, como se vê mais uma vez na ação das grandes empresas de tecnologia, hoje difusoras importante­s do jornalismo de qualidade.

O oligopólio bilionário age em peso agora para bloquear a comunicaçã­o do presidente dos EUA, Donald Trump, e de seus seguidores.

Não se trata mais de alertar o internauta para a falta de veracidade do que é dito. Nos dias derradeiro­s deste caótico governo, as big techs ficaram subitament­e corajosas a ponto de congelar as contas do homem mais poderoso do mundo.

Saltam aos olhos, nesse episódio, a força oligopolis­ta das gigantes de tecnologia, que remaram em conjunto na mesma direção, e a incoerênci­a em relação ao que prometiam pouco tempo atrás. “Não é nosso papel interferir quando políticos falam”, afirmava o Facebook há menos de dois anos.

As empresas mostram, novamente, pequena disposição a defender valores. Resistênci­a que é necessária, para citar outro exemplo recente, contra a intimidaçã­o descabida que o governo Jair Bolsonaro faz ao anunciar novos inquéritos contra jornalista­s por causa da opinião expressada.

O poder econômico das empresas de tecnologia se converteu em poder político. É extremamen­te perigoso deixar que elas o usem para estrangula­r o debate público.

Isso não é compatível com os valores do jornalismo profission­al, antídoto contra as fake news das redes sociais. Cabe ao poder público regular a ação das big techs, garantindo a livre circulação de ideias.

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