Folha de S.Paulo

Outro ano de calor

2020 teve, ao lado de 2016, a maior temperatur­a global registrada; ascensão de Biden é esperança

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Acerca de recorde da temperatur­a global em 2020.

Embora tenha passado a segundo plano no rol das preocupaçõ­es mundiais devido à pandemia de Covid-19, a crise climática manteve sua marcha inclemente em 2020.

Dados da agência europeia Copernicus mostram que o ano passado foi o mais quente da série histórica, ao lado de 2016, que até então detinha o recorde. Com isso, num sinal de avanço do aqueciment­o global, os últimos seis anos tornaram-se os mais quentes já detectados em medições e estimativa­s que remontam ao século 19.

A temperatur­a média da superfície do planeta esteve, em 2020, 1,25°C mais alta do que no período pré-industrial —um número perigosame­nte perto de 1,5°C, considerad­o o limite para evitar os piores impactos da mudança do clima.

Dois fatores tornam ainda mais extraordin­ário —e preocupant­e— o recorde de 2020. No ano passado ocorreu o fenômeno climático La Niña, que produz um resfriamen­to da superfície do oceano Pacífico equatorial. Inversamen­te, 2016 esteve sob efeito do El Niño, que provoca um esquentame­nto anormal das águas da mesma região.

Em algumas regiões, a elevação das temperatur­as se deu de forma excepciona­l. A Europa, por exemplo, crestada por mortíferas ondas de calor em julho e agosto, bateu em 2020 o recorde que fora estabeleci­do no ano anterior.

No Ártico e no norte da Sibéria a situação mostrou-se ainda mais extrema, com uma vasta área registrand­o até 3°C acima das médias de 1981-2010, e alguns locais chegando a espantosos 6°C acima delas.

A consequênc­ia desse desarranjo se deu na forma de incêndios florestais mastodônti­cos, que produziram, no Círculo Polar Ártico, recorde de toneladas de CO2 liberadas. O gelo do mar Ártico também apresentou redução drástica, atingindo a menor extensão histórica para os meses de julho e outubro.

A única maneira conhecida de enfrentar tamanha calamidade é reduzir brutalment­e a liberação de gases do efeito estufa na atmosfera, em particular o CO2. Em 2020, apesar da queda de 7% nas emissões, em razão da pandemia, a concentraç­ão de dióxido de carbono continuou aumentando.

Nesse cenário, a chegada de Joe Biden à Casa Branca traz esperança. O democrata promete uma guinada nas políticas ambientais dos EUA, com o retorno ao Acordo de Paris, o investimen­to de US$ 2 trilhões (R$ 11 trilhões) em energia limpa e o estímulo à transição para uma economia de baixo carbono.

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