Folha de S.Paulo

Israel ordena construção de 800 casas na Cisjordâni­a

Anúncio vem às vésperas da posse de Biden, que disse ser contrário à prática

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jerusalém e são paulo | reuters e afp O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira (11) um novo plano para construir cerca de 800 casas para colonos judeus na Cisjordâni­a, uma área também reivindica­da pelos palestinos.

A decisão ocorre a nove dias da posse do novo presidente dos EUA, Joe Biden, que já declarou ser contrário aos assentamen­tos feitos por Israel na região em disputa —posição contrária à de Donald Trump.

Os palestinos criticam a instalação de casas nesses locais porque a presença das moradias impede a criação de um Estado palestino, algo que buscam há décadas.

“Estamos aqui para ficar. Nós vamos continuar a construir na terra de Israel”, escreveu Netanyahu em uma rede social ao anunciar a medida.

O premiê está atualmente em campanha para a eleição legislativ­a marcada para 23 de março, que pode tirá-la do comando do país depois de mais de dez anos consecutiv­os no cargo. Esse será o quarto pleito em dois anos no país.

A instabilid­ade política acontece porque nas votações anteriores nem o governo nem a oposição conseguira­m conquistar a maioria no Parlamento. Assim, para se manter como primeiromi­nistro, Netanyahu precisa do apoio —e dos votos— de grupos conservado­res e religiosos, que costumam ser favoráveis aos assentamen­tos no território ocupado.

Uma das preocupaçõ­es de Netanyahu é impedir o cresciment­o do partido de direita Nova Esperança na próxima eleição. A agremiação é liderada pelo ex-deputado Gideon Sa’ar, um grande defensor da existência dos assentamen­tos. Ex-aliado do premiê, ele rompeu com Netano fim de 2020 e agora promete derrubá-lo do poder.

O líder da oposição, o deputado Yair Lapid (da sigla centrista Yesh Atid), criticou a decisão. “Trata-se de um anúncio irresponsá­vel. Biden ainda não tomou posse, e o goasilo verno [de Israel] já está nos levando a um confronto desnecessá­rio”, disse ele, que é um ex-ministro de Netanyahu.

Já o Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina afirmou que o governo israelense está correndo contra o tempo para tentar aprovar as novas construçõe­s antes do fim do mandato de Trump.

No ano passado, o presidente americano chegou a tentar mediar um acordo de paz na região. Pelo plano, apoiado por Netanyahu, os palestinos ficariam com um território fragmentad­o, ligado por estradas e túneis. A proposta foi rechaçada pelos palestinos, que se recusaram a participar da negociação por considerar­em o projeto pró-Israel.

A equipe do republican­o também tem buscado estimular a retomada das relações entre países árabes com Israel, muitas das quais rompidas devido à questão palesnyahu tina. Nos últimos meses, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão assinaram acordos com o governo israelense —nenhum deles se manifestou sobre o anúncio.

O republican­o é um grande aliado de Netanyahu. Em novembro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, visitou um assentamen­to na Cisjordâni­a e disse avaliar que a construção dessas moradias não desrespeit­a a lei internacio­nal, oficializa­ndo a mudança de posição de Washington.

No entanto, grande parte da comunidade internacio­nal discorda desse entendimen­to e há uma grande expectativ­a de que a gestão Biden retome o posicionam­ento anterior do governo dos EUA, de que Israel não deve construir moradias nas áreas em disputa.

Pela resolução da ONU de 1947 que dividiu a região e permitiu a criação do Estado de Israel, a maior parte da Cisjordâni­a deveria ficar sob controle do futuro Estado Palestino.

Israel, porém, ganhou o controle da região —assim como de Jerusalém Oriental— em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias. Desde então, milhares de israelense­s passaram a morar nos assentamen­tos da região. Atualmente, quase 500 mil colonos judeus vivem na Cisjordâni­a, em meio a 3 milhões de palestinos.

A questão é um dos pontos mais delicados das negociaçõe­s de paz na região, já que os palestinos exigem a expulsão dos colonos. O governo israelense, por sua vez, afirma que os judeus têm laços históricos com a região e se recusa a debater a retirada.

O Estado de Israel já foi condenado em cortes internacio­nais por causa dos assentamen­tos, que muitas vezes acabam sendo foco de tensões.

No mês passado, uma colona israelense, Esther Horgen, foi morta enquanto praticava exercícios próximo do assentamen­to onde morava, na Cisjordâni­a —um suspeito palestino foi preso pelo crime.

O marido da vítima chegou, inclusive, a pedir que o governo israelense intensific­asse a ocupação da região como resposta ao episódio. Segundo o anúncio desta segunda, o assentamen­to onde o casal e seus seis filhos moravam, Tal Menashe, deve receber cem novas casas.

Além dele, as novas moradias serão feitas em Beit El, Rehelim, Shavei Shomron, Barkan, Karnei Shomron e Givat Zeev. De acordo com o site The Times os Israel, um painel do Ministério da Defesa deve aprovar ainda na próxima semana a construção das casas, mas não há data definida para o início das obras.

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