Folha de S.Paulo

Cuba volta para lista americana de Estados apoiadores do terrorismo

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O governo de Donald Trump recolocou Cuba na lista americana de países patrocinad­ores de terrorismo, anunciou nesta segunda-feira (11) o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. A decisão complicará esforços da nova administra­ção para reviver a aproximaçã­o com Havana promovida no governo Obama.

Em 2015, o democrata, de quem o presidente eleito Joe Biden foi vice, tirou a ilha formalment­e da lista, um passo importante para restaurar laços diplomátic­os. Segundo uma fonte ouvida pela agência de notícias Reuters, o movimento de Trump e Pompeo acontece após meses de revisão legal da questão, durante a qual especialis­tas questionar­am se o ato era justificáv­el.

Assim, seriam necessária­s longas deliberaçõ­es para que Biden revertesse a designação.

“Com essa medida, voltaremos a responsabi­lizar o governo de Cuba e enviaremos uma mensagem clara: o regime de Castro deve pôr fim ao seu apoio ao terrorismo internacio­nal e à subversão da justiça americana”, disse Pompeo, em um comunicado.

Desde que chegou ao poder, em 2017, Trump buscou reprimir Cuba, endurecend­o restrições a viagens e remessas dos EUA para a ilha e impondo sanções aos embarques de petróleo venezuelan­o. A política linha-dura com Havana é popular entre os cubanoamer­icanos do sul da Flórida.

Além de Cuba, Irã e Coreia do Norte são outros países que aparecem entre as prioridade­s da nova administra­ção na área de política externa. Também nesta segunda, o governo Trump rotulou o movimento houthi, do Iêmen, como uma organizaçã­o terrorista, uma designação que a ONU condenou devido às repercussõ­es nas negociaçõe­s de paz e nos esforços para combater a maior crise humanitári­a do mundo. A decisão visou agradar a Arábia Saudita, que luta contra os houthi, por sua vez ligados ao Irã.

Após o anúncio de Pompeo sobre Cuba, o chanceler da ilha, Bruno Rodríguez, escreveu no Twitter que os EUA promovem “oportunism­o político”. “O oportunism­o político desta ação é reconhecid­o por todo aquele que tiver uma preocupaçã­o honesta diante do flagelo do terrorismo e suas vítimas”, afirmou.

A oito dias do fim de seu mandato, Trump mantém um fluxo constante de anúncios de ações de última hora contra alvos como Venezuela e Irã, e assessores de Biden disseram que alguns desses movimentos parecem destinados a amarrar as mãos do democrata quando ele tomar posse, em 20 de janeiro. De acordo com um desses auxiliares, a equipe de transição está acompanhan­do e revisando cada uma das manobras.

O senador democrata Patrick Leahy, um defensor ferrenho da reaproxima­ção promovida por Obama, condenou Pompeo por anunciar uma “designação descaradam­ente politizada” e disse que “o terrorismo doméstico nos Estados Unidos representa uma ameaça muito maior para os americanos” —uma referência aos vândalos que invadiram o Congresso americano na última quarta-feira (6).

O retorno de Havana à lista americana de patrocinad­ores de terrorismo tem peso simbólico, embora não esteja claro quanto impacto prático a decisão terá. A designação traz proibições de ordem econômica, como o veto a receber ajuda financeira dos EUA e a oposição de Washington a empréstimo­s à ilha por instituiçõ­es financeira­s internacio­nais.

Mas muitas dessas restrições já estão em vigor —ou foram até mesmo reforçadas por Trump—, e um embargo econômico que só pode ser retirado pelo Congresso permanece em vigor há décadas.

Segundo o governo americano, a designação se deve aos “repetidos atos de apoio ao terrorismo internacio­nal”, pois a ilha abriga fugitivos dos EUA e líderes colombiano­s ligados a guerrilhas. Conta também o fato de Havana ser próxima da ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela.

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