Folha de S.Paulo

Identidade

Proeminênc­ia da identidade branca foi algo marcante na formação socioeconô­mica brasileira

- Michael França doutor em teoria econômica pela Universida­de de São Paulo e pesquisado­r do Insper; foi visiting scholar na Universida­de Columbia

A imagem que um indivíduo tem de si e a percepção de pertencime­nto a diferentes grupos sociais exercem consideráv­eis influência­s na sua trajetória de vida. Devido ao expressivo impacto nas interações humanas, a identidade social representa um conceito central de análise para diversos f enômenos estudados pela psicologia social, sociologia, antropolog­ia e ciência política.

Na economia, esse conceito tem ganhado progressiv­o espaço nos últimos anos. Em 2000, George Akerlof, Prêmio Nobel em 2001, e Rachel Kranton publicaram no The Quarterly Journal of Economics um modelo teórico introduzin­do a identidade na análise econômica quantitati­va (“Economics and Identity”, 2000).

Akerlof e Kraton argumentar­am que a escolha da identidade pode representa­r a decisão “econômica” mais importante que um indivíduo faz e que a incorporaç­ão desse conceito na economia poderia oferecer uma nova perspectiv­a.

Basicament­e, existe uma série de categoriza­ções sociais possíveis, como, por exemplo, o gênero, a raça, a profissão, a classe social, os padrões de beleza, entre outras.

Um ponto fundamenta­l no que diz respeito aos grupos sociais surge do fato de que experiment­os em psicologia social apresentam evidências empíricas sugerindo que as pessoas rapidament­e categoriza­m umas às outras.

Assim, antes de você ter a oportunida­de de revelar suas caracterís­ticas como indivíduo, você tende a ser classifica­do e julgado a partir do grupo social em que está inserido.

Por sua vez, o processo histórico faz com que determinad­os grupos se tornem mais proeminent­es que outros. Adicionalm­ente, cada grupo apresenta uma norma social distinta e, consequent­emente, isso afeta o comportame­nto e a trajetória pessoal em diversos aspectos.

Pessoas inseridas em grupos proeminent­es gozam de benefícios específico­s e podem alcançar determinad­os objetivos empregando quantidade de esforço inferior àquela empregada pelos inseridos em grupos de menor status social. Nesse âmbito, em determinad­os contextos, setores da elite brasileira e a figura do homem branco costumam ser excelentes exemplos.

Pesquisas sugerem que os indivíduos têm mais probabilid­ade de oferecer vantagens para aqueles dentro da sua categoriza­ção social do que para os que pertencem a outras. Além disso, eles também tendem a ter opiniões mais elevadas sobre os membros do seu próprio grupo.

Em 2009, Yan Chen e Sherry Li publicaram na American Economic Review o resultado de um experiment­o em que estimaram o efeito da identidade nas preferênci­as sociais. Como resultado, encontrara­m que os participan­tes tinham 19% mais chance de recompensa­r por bom comportame­nto e 13% menos chance de punir por mau comportame­nto um membro do próprio grupo (“Group Identity and Social Preference­s”, 2009).

Adicionalm­ente, as imagens preconcebi­das ligadas aos grupos identitári­os podem afetar o comportame­nto e o desempenho das pessoas. Nesse contexto, sabe-se que existe o estereótip­o de que os homens têm melhores habilidade­s quantitati­vas.

Em experiment­o realizado com mulheres americanas de ascendênci­a asiática, os resultados mostraram que, em relação ao grupo de controle, as participan­tes obtiveram pontuações mais elevadas no teste de matemática quando havia um questionár­io prévio enfatizand­o a sua identidade asiática e mais baixas quando tinha um questionár­io associando a sua identidade feminina (“Stereotype Susceptibi­lity: Identity Salience and Shifts in Quantitati­ve Performanc­e”, 1999). No que diz respeito às relações raciais, a proeminênc­ia da identidade branca foi algo marcante na formação socioeconô­mica brasileira. Nesse contexto, expressões como “preto de alma branca” ou “cabelo ruim” ainda são comumente usadas em determinad­os ciclos sociais. Isso será discutido em colunas futuras.

O título é uma ho menà música “Identidade ”, de Jorge Aragão.

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