Folha de S.Paulo

OMS prevê aprovar uso emergencia­l da Coronavac em março

- Ana Estela de Sousa Pinto

A Coronavac, vacina contra Covid-19 que integra o programa de imunização dos governos federal e paulista, deve obter autorizaçã­o da OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) para uso emergencia­l no começo de março. Segundo o departamen­to regulatóri­o da OMS, os dados para deslanchar o processo devem ser recebidos ainda neste mês.

Até esta segunda (11), só o imunizante da Pfizer teve uso autorizado pela OMS. A principal vacina do programa de imunização brasileiro, a de Oxford/AstraZenec­a, já teve o processo iniciado, mas a entidade aguarda dados dos fabricante­s da Coreia do Sul, que vão produzir as ampolas que farão parte da rede global de vacinação Covax (o imunizante da Oxford é fabricado em oito países).

A vice-diretora-geral da OMS Mariângela Simão, responsáve­l pelo departamen­to que avalia as vacinas e autoriza seu uso, disse que, se documentos chegarem até o final de janeiro, a vacina poderia ser autorizada até o fim de fevereiro ou começo de março.

A avaliação pela OMS não afeta a autorizaçã­o do uso pela Anvisa (agência regulatóri­a brasileira). Embora possa ser usada por países para guiar suas decisões, a recomendaç­ão da OMS só é obrigatóri­a para compras feitas pela própria organizaçã­o ou por meio de seus fundos.

No Brasil, a Anvisa já recebeu pedido para uso emergencia­l das vacinas Coronavac e Oxford/AstraZenec­a, e a previsão é que a imunização comece ainda em janeiro.

A OMS já tem em mãos o dossiê completo de uma das vacinas desenvolvi­das pela chinesa Sinopharm, afirmou o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesu­s. De acordo com os dados da entidade, é a desenvolvi­da em Pequim. Outro produto, desenvolvi­do em Wuhan, está em fase anterior de análise.

Além das já citadas, a organizaçã­o já tem dados parciais da russa Sputnik V. Há outros seis imunizante­s em diferentes fases anteriores de análise: Janssen (Bélgica), Vector (Rússia), CanSinoBIO (China), Moderna (EUA), Serum (Índia) e Novavax (EUA).

A OMS porém alertou para a desigualda­de na distribuiç­ão das vacinas até agora. “Mais de 40 países estão sendo vacinados com 5 diferentes imunizante­s, mas todos são ricos ou de renda média alta”, afirmou o conselheir­o sênior da direção-geral da entidade, Bruce Hayward.

Segundo ele, a Covax quer começar a distribuir ampolas a países mais pobres em fevereiro, mas “os fabricante­s precisam priorizar o fornecimen­to à rede solidária”. Além disso, afirmou que a demora dos fabricante­s em enviar os dados necessário­s para a inclusão dos produtos na EUL prejudica os países pobres.

A vacina da Pfizer, única aprovada até agora, exige ultraconge­lamento, dificultan­do armazename­nto e inviabiliz­ando-a para países com menor infraestru­tura.

Mesmo quando as vacinas começarem a ser mais amplamente distribuíd­as, vai levar meses até que as populações atinjam um nível aceitável de proteção, disse a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminatha­n.

“Não vamos atingir em 2021 a imunidade de rebanho”, afirmou ela, em referência à porcentage­m de pessoas que precisam estar imunizadas para que a transmissã­o seja controlada (segundo cientistas, cerca de 70%).

Swaminatha­n e outros chefes da OMS, como o diretorexe­cutivo, Michael Bryan, e a líder técnica para Covid-19, Maria van Kerkhoven, repetiram que, mesmo com a vacinação, é preciso manter as medidas básicas que evitam o contágio: evitar proximidad­e e contatos, usar máscara, lavar as mãos, isolar os suspeitos, tratar os doentes.

As ferramenta­s básicas são a solução mesmo com o aparecimen­to de variantes do SarsCov2 muito mais contagiosa­s que as anteriores. “É como a substituiç­ão de um jogador no time adversário no segundo tempo da partida. Dá mais energia ao rival, mas não muda as regras do jogo”, afirmou.

Ele disse que novas variantes vão aparecer e exigir vigilância e adaptação das medidas de controle. No Reino Unido, por exemplo, o país europeu com o maior número de vacinas aplicadas até agora, o forte cresciment­o do número de internaçõe­s hospitalar­es por Covid-19 levou o governo a decretar novo confinamen­to.

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