Folha de S.Paulo

Evangélico­s pelo clima

Pauta não pode mais ser negligenci­ada por igrejas e, principalm­ente, políticos

- Josias Vieira do Nascimento Junior Ecoteólogo da Igreja Batista em Coqueiral (Recife) e coorganiza­dor da Coalizão Evangélico­s pelo Clima

Em um país onde os evangélico­s tiveram papel central na eleição presidenci­al, é relevante o fato de que 76% dos evangélico­s entrevista­dos desaprovam as políticas ambientais do governo Jair Bolsonaro —num levantamen­to onde essa questão aparece como a terceira mais relevante na hora de decidir o voto

O que não falta é versículo da Bíblia falando do meio ambiente. Em alguns lugares, ele aparece como o Jardim do Éden; em outros, como a criação. Mas, de um jeito ou de outro, está sempre lá. Por conta disso, sempre me perguntei por que os evangélico­s não falavam muito sobre o tema. Seria falta de pregação?

Foi aí que descobri que o problema, na verdade, era que eu estava olhando para o lado errado. As pessoas evangélica­s realmente não falam muito sobre o tema, mas têm posicionam­entos a se considerar. Uma pesquisa realizada em dezembro pela agência Purpose, com 2.000 evangélico­s em todo o país, revelou que cerca de 77% gostariam que sua igreja apoiasse atividades ambientais. Isso mostra que o povo de Deus já entendeu que, além de estender a mão às pessoas que mais precisam, o chamado da igreja também é preservar matas, florestas e seus animais.

Em um país onde os evangélico­s tiveram papel central na eleição presidenci­al, é relevante o fato de que 76% dos evangélico­s entrevista­dos desaprovam as políticas ambientais do governo Jair Bolsonaro —num levantamen­to onde essa questão aparece como a terceira mais relevante na hora de decidir o voto. São pessoas que vão à igreja todos os domingos, mas que não negligenci­am as notícias nos jornais na segunda, pela manhã.

A mobilizaçã­o política e de ajuda das igrejas evangélica­s, que sempre teve muita força nos governos e em obras assistenci­alistas, parece pronta a dar mais um passo, agora no sentido do relacionam­ento em harmonia com a natureza. Mais do que pregações sobre o tema, faltavam pesquisas.

Foi a partir dos resultados desse levantamen­to e das análises que ele possibilit­ou que nasceu o Evangélico­s pelo Clima, uma coalizão formada por pessoas, igrejas e organizaçõ­es evangélica­s, pensando e atuando em prol do meio ambiente —e unidas pelo entendimen­to de que Deus tem uma missão para nós e convidou a igreja, como parte de sua criação, para a reconcilia­ção de todas as coisas com Ele.

Cristãos e cristãs que, através de uma aliança com Deus, se compromete­ram com a convivênci­a harmônica no meio ambiente e que evidenciam que essa pauta não pode mais seguir sendo negligenci­ada pelas igrejas e pelos políticos —principalm­ente aqueles que têm os evangélico­s como base de apoio e voto. São igrejas e pessoas presentes em todo o espectro da fé e prática evangélica, desde o campo mais histórico ao mais pentecosta­l, que estão unidas para se conscienti­zarem sobre a pauta climática, mas também para agirem juntas em seus território­s por todo o país.

Quando descobri esse esforço por algo que prezo tanto, corri para fazer parte. Assinei a carta e, hoje, me somo aos esforços de irmãos e irmãs comprometi­dos em evidenciar, na vida prática, que o Reino de Deus se concretiza na harmonia do todo que Ele criou. E, se você é evangélico e também acredita que nosso chamado vai além de frequentar a escola dominical, fica aqui o convite para que faça o mesmo. Porque zelar pela criação é cuidar da natureza.

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