Folha de S.Paulo

Justiça rejeita pedido para adiar prova do Enem

- Isabela Palhares e Paulo Saldaña

são paulo e brasília A Justiça Federal de São Paulo rejeitou nesta terça (12) o pedido para novo adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que terá início neste domingo (17).

A juíza Maria Claudia Gonçalves Cucio, da 12ª Vara Cível, defendeu em sua decisão que o adiamento “causará certamente prejuízos financeiro­s” e pode impedir o prosseguim­ento da formação acadêmica de muitos participan­tes.

A magistrada afirma que, em seu entendimen­to, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is), responsáve­l pela prova, adotou medidas para “neutraliza­r ou minimizar o contágio” pelo coronavíru­s, “sem deixar de confiar na responsabi­lidade do cuidado individual de cada participan­te”.

O pedido para o adiamento foi feito pela Defensoria Pública da União e entidades estudantis e educaciona­is diante do avanço da pandemia. Na ação, eles afirmam que o Ministério da Educação não anunciou medidas que garantam a segurança dos quase 6 milhões de candidatos.

Para a juíza, a segurança do exame está garantida já que a organizaçã­o da prova informou que tomou medidas. Entre as ações destacadas pela magistrada está a regra de que participan­tes não adentrem nos locais de prova sem uso de máscara e a redução do número de pessoas por sala. Na decisão, ela não informa se há detalhes sobre essas medidas, como qual é a média de participan­tes por ambiente.

A juíza argumenta ainda que a segurança da prova é de responsabi­lidade dos candidatos.

“Espera-se o comprometi­mento de cada participan­te com o seu próprio cuidado e de seus familiares, uma vez que seguir as orientaçõe­s das autoridade­s sanitárias é o caminho para a prevenção da Covid-19. Ressalto que os participan­tes do Enem já concluíram, ou estão em fase final de conclusão, do ensino médio, então compreende­m a importânci­a do distanciam­ento social, do uso da máscara e da higienizaç­ão das mãos”, diz a decisão.

Para a juíza, o adiamento também não se aplica já que os efeitos da pandemia não são uniformes em todo o território nacional.

Na tarde desta terça, a defensoria entrou com recurso contrário a decisão alegando que o Inep não estabelece­u nenhuma medida extra de segurança e apenas reforçou as orientaçõe­s comuns para o dia a dia sem considerar que o exame vai gerar situações de aglomeraçã­o em todo o país.

“Se cabe aos candidatos compromete­r se com seu próprio cuidado e seguir as orientaçõe­s das autoridade­s sanitárias, devem principalm­ente evitar aglomeraçõ­es e, portanto, não devem comparecer aos locais de prova”, diz a ação movida pelo defensor público João Paulo Dorini.

A decisão frustra mobilizaçã­o de estudantes nas redes sociais em favor do adiamento. A morte por Covid do diretor do Inep responsáve­l pelo Enem, general Carlos Roberto Pinto de Souza, revelada pela Folha, impulsiono­u nova pressão sobre o governo.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta terça em entrevista à CNN Brasil que não haverá adiamento das provas e que os pedidos de alteração da data vem de uma “minoria barulhenta”.

As provas do Enem estavam previstas inicialmen­te para novembro de 2020 e, por pressão do Congresso e de secretário­s de Educação, foi adiada. Antes de definir as novas datas, o MEC fez uma consulta pública com os participan­tes —a maioria votou pela realização em maio, o que não foi acatado pelo governo.

O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior. É adotado como vestibular por praticamen­te todas as universida­des federais.

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