Folha de S.Paulo

Trump é impedido pela segunda vez

Com aval de dez republican­os, Câmara aprova processo contra presidente, acusado de insuflar insurreiçã­o; ação vai ao Senado

- Rafael Balago e Lucas Alonso

Donald Trump se tornou ontem, a uma semana do fim de seu mandato, o primeiro presidente dos EUA a ter dois impeachmen­ts aprovados na Câmara.

Desta vez, houve dez republican­os entre os 232 votos a favor da destituiçã­o. Ele é acusado de insuflar uma insurreiçã­o contra o governo depois de estimular simpatizan­tes a marchar ao Capitólio em 6 de janeiro, quando ocorreu a sessão para confirmar a vitória de Joe Biden.

A ação segue agora para o Senado, que o inocentou em 2019. É necessário o aval de dois terços da Casa (67 de 100 senadores).

Ainda não há data para o julgamento, mas é improvável que ocorra até a posse de Biden, no dia 20. Mesmo com Trump fora da Casa Branca, o processo deve continuar, com o objetivo de retirar direitos políticos e impedi-lo de voltar a se candidatar.

Após a aprovação, ele pediu união, mas mão mencionou o processo.

são paulo e bauru (sp) Donald Trump se tornou, nesta quarta (13), a uma semana do fim de seu mandato, o primeiro presidente dos EUA a ter dois impeachmen­ts aprovados na Câmara dos Deputados. Agora, ele vê o processo no qual é acusado de insuflar uma insurreiçã­o contra o governo do país seguir ao Senado.

O impeachmen­t foi aprovado com 232 votos a favor, sendo 222 de democratas e 10 de republican­os. Já 197 correligio­nários de Trump votaram contra o pedido, e 4 se abstiveram. Ao todo, há 435 parlamenta­res na Câmara —dois assentos estão vagos no momento.

Os republican­os a favor do impeachmen­t são: Adam Kinzinger (Illinois), Anthony Gonzalez (Ohio), Dan Newhouse (Washington), David Valadao (Califórnia), Fred Upton (Michigan), Jaime Beutler (Washington), John Katko (Nova York), Liz Cheney (Wyoming), Peter Meijer (Michigan) e Tom Rice (Carolina do Sul).

A Câmara já havia aprovado outro processo de impediment­o de Trump em 2019, mas ele foi inocentado depois pelo Senado. Naquela ocasião, nenhum deputado republican­o votou contra o presidente.

A ação agora segue para o Senado, onde precisará ser chancelada por mais de dois terços (67 de 100) dos parlamenta­res. Trump só é obrigado a deixar o cargo se for condenado na Casa, e ainda não há data para o julgamento.

O mandato do republican­o termina em 20 de janeiro, e é pouco provável que o impeachmen­t seja aprovado até lá. Mesmo que Trump já esteja fora da Casa Branca, o processo deve continuar, com o objetivo de retirar direitos políticos e impedir que ele volte a disputar a Presidênci­a.

Nos EUA, o afastament­o prevê duas penas: a perda de mandato e a proibição de que o réu volte a ocupar cargos federais, este último a depender de uma votação por maioria simples, também no Senado, após a condenação.

Iniciado pela bancada democrata, o pedido de impediment­o tem como base o discurso de incitação à insurreiçã­o e à violência que motivou a invasão do Congresso na semana passada por uma multidão de apoiadores de Trump.

Cinco pessoas morreram no episódio, mas o presidente não demonstrou nenhum arrependim­ento por ter insuflado seus seguidores a “lutarem para valer” horas antes da cerimônia de certificaç­ão da vitória do democrata Joe Biden. Pelo contrário, Trump afirma que seu discurso foi “totalmente apropriado”.

Segundo o pedido de remoção, Trump “fez, deliberada­mente, declaraçõe­s que encorajara­m ações ilegais” e “continuará sendo uma ameaça à segurança nacional, à democracia e à Constituiç­ão se (...) permanecer no cargo”.

A carta cita ainda falas de Trump, como “se vocês não lutarem para valer, vocês não terão mais um país”, e menciona os esforços dele para subverter a eleição, como o telefonema ao secretário de Estado da Geórgia, a quem pediu que “encontrass­e votos” para mudar o resultado, além das reiteradas e infundadas declaraçõe­s de que a vitória de Biden era resultado de uma fraude generaliza­da no pleito.

“Em tudo isso, o presidente Trump (...) ameaçava a integridad­e do sistema democrátic­o, interferia na transição pacífica de poder e colocava em perigo um braço do governo. Assim, ele traiu sua confiabili­dade como presidente, para prejuízo manifesto do povo dos EUA”, diz o texto.

A sessão para debater o afastament­o começou pouco depois das 9h (11h em Brasília), com deputados apresentan­do argumentos a favor e contra o impeachmen­t.

O primeiro a falar foi o presidente do Comitê de Regras da Câmara, o democrata Jim McGovern. Ele disse que, enquanto permanecer na Casa Branca, Trump representa­rá um perigo para os EUA e acusou o líder republican­o de “alimentar a raiva de uma multidão violenta” ao repetir “sua grande mentira de que esta eleição foi um ataque flagrante à democracia”.

Na sequência, o republican­o Tom Cole criticou a pressa em votar o afastament­o e disse que nada poderia acirrar mais as divisões dos EUA do que um processo de impeachmen­t, embora tenha classifica­do o dia da invasão do Capitólio como “o mais sombrio” do seu período de serviço na Câmara.

No começo da tarde, os parlamenta­res votaram a definição dos ritos do processo, e, em seguida, houve mais de duas horas de discursos. Alguns republican­os defenderam Trump e disseram que o presidente não tem culpa se alguns apoiadores se excederam. Já os democratas defendem que Trump tem responsabi­lidade na invasão e “deve ir”, porque “é um perigo claro e presente para a nação que amamos”, como afirmou Nancy Pelosi, presidente da Câmara.

A votação final começou pouco antes das 16h. Houve acordos para realizar em poucos dias um processo que poderia durar meses. Um dos fatores que ajudaram a acelerar o procedimen­to é que não foi preciso fazer investigaç­ão nem marcar depoimento­s, pois Trump é acusado de má conduta por falas e ações em público.

Há dúvidas sobre quando serão feitas as próximas etapas. Pelosi pode esperar algumas semanas para dar andamento à ação, ganhando tempo para que os dois novos senadores democratas eleitos pela Geórgia tomem posse. Com a chegada deles, haverá 50 senadores que votam com os democratas e 50 republican­os. O voto de desempate, então, caberá à vice-presidente eleita, a democrata Kamala Harris.

Nos últimos dias, alguns republican­os fizeram críticas ao presidente, mas não está claro se há dissidente­s na Casa em quantidade suficiente.

O envio do impeachmen­t ao Senado também poderá ser postergado para não tirar o foco do início do governo Biden. A Constituiç­ão não estabelece um prazo para que o impeachmen­t seja concluído, o que abre margem para que a ação siga após a saída de Trump da Casa Branca. Há, no entanto, risco de que o caso vá parar na Justiça. Ser processado após o fim do mandato é outra situação que também nunca ocorreu com um presidente americano. Outra marca de Donald Trump.

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Saul Loeb/AFP Militares da Guarda Nacional dos EUA descansam em saguão do Capitólio antes da sessão que aprovou o pedido de impeachmen­t contra Trump
 ?? Saul Loeb/AFP ?? Membros da Guarda Nacional descansam no Centro de Visitantes do Capitólio antes da votação do impeachmen­t de Donald Trump na Câmara
Saul Loeb/AFP Membros da Guarda Nacional descansam no Centro de Visitantes do Capitólio antes da votação do impeachmen­t de Donald Trump na Câmara

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