Folha de S.Paulo

Saúde planeja vacinação no dia 19; Doria quer começar já no 17

Processo começa quando todas as capitais tiverem doses, diz ministério

- Natália Cancian, Daniel Carvalho, Aline Mazzo e Artur Rodrigues Raquel Lopes

Na corrida para ver quem começará a imunização contra a Covid-19, o ministério avalia evento no Palácio do Planalto na terça (19). Já o governo paulista quer aplicar as doses imediatame­nte após o aval da Anvisa.

brasília e são paulo Em mais uma etapa da corrida para ver quem começará a imunização contra a Covid-19, o Ministério da Saúde de Jair Bolsonaro (sem partido) ou o governo paulista de João Doria (PSDB), o primeiro avalia marcar um evento no Palácio do Planalto na terça (19) para vacinar um idoso e um profission­al de saúde, e o segundo pretende começar a aplicar as doses imediatame­nte após o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para as vacinas, o que pode ocorrer no domingo (17).

O evento no Planalto, porém, ainda não foi confirmado. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ainda não deu previsão exata para o início da imunização, e nesta semana disse apenas que ela deve ocorrer no “dia D” e na “hora H”.

A Anvisa analisa dois pedidos de aval para vacinas. O primeiro foi feito pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, para usar as doses da vacina Coronavac que foram importadas da China ainda no ano passado.

O segundo pedido foi feito pela Fiocruz, que pede autorizaçã­o para uso de 2 milhões de doses da chamada vacina de Oxford, desenvolvi­da com a farmacêuti­ca AstraZenec­a, adquirida pelo governo federal e prevista para ser importada da Índia no sábado.

Do lado do Planalto, no entanto, ainda há dúvidas sobre a realização do evento.

Conselheir­os do presidente o estimulam a capitanear o evento, mas esbarram no fato de que ele não quer tomar a vacina. Pessoas próximas a Bolsonaro preveem outros problemas caso ele mudasse de ideia, como possíveis críticas por ele recuar ou receber a proteção primeiro.

O presidente já falou reiteradas vezes que não tomaria vacina e chegou a ironizar o imunizante, dizendo que quem o tomasse poderia virar jacaré.

Na manhã desta quarta-feira (13), uma apoiadora disse a Bolsonaro que só tomaria vacina quando o presidente se imunizasse. “Eu já fui infectado”, respondeu Bolsonaro.

O Ministério da Saúde já havia anunciado a versão mais recente do plano de vacinação contra a Covid em cerimônia no Palácio do Planalto, por isso avalia essa opção.

A previsão de começar a vacinar no dia 19 é calculada como uma forma de dar dianteira ao governo diante da guerra política travada por Bolsonaro com Doria, que inicialmen­te tinha anunciado o início da imunização no estado no dia 25 de janeiro, aniversári­o da cidade de São Paulo.

Na semana passada, o secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchtey­n, disse que, se o governo federal antecipass­e a vacinação para 20 de janeiro, São Paulo acompanhar­ia o prazo.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que aguarda a decisão da Anvisa sobre os pedidos de uso emergencia­l para anunciar o início da vacinação.

“Desta forma, caso uma ou as duas vacinas sejam liberadas pela agência, a pasta planeja um evento no inicio da semana que vem, em Brasília, para divulgar a data de início da vacinação no Brasil.”

Mais tarde, o secretário-executivo do ministério, Elcio Franco, disse que a vacinação iniciará de forma simultânea e apenas quando todas as capitais tiverem doses da vacina.

A previsão é que essa distribuiç­ão ocorra de três a cinco dias após a aprovação da Anvisa, informa.

“Por que a diretriz de começar todos ao mesmo tempo? Um mote é que ninguém vai ficar para trás. [...] É bom São Paulo ter o Butantan e para o Rio de Janeiro ter a Fundação Oswaldo Cruz, mas não podemos tratar brasileiro­s de forma diferente”, disse. “São Paulo e Rio de Janeiro não estão perdendo, o Brasil está ganhando.”

As doses, no entanto, devem demorar mais alguns dias para chegarem ao interior —daí a opção por iniciar quando as doses estiverem nas capitais, informa.

Franco evitou, em entrevista a jornalista­s, dar uma data exata para o início da vacinação. Segundo ele, a definição dependerá da decisão da agência sobre o aval ao uso emergencia­l de vacinas contra a Covid.

Também não informou quais os primeiros grupos a serem vacinados com as doses emergencia­is. A previsão, diz, é que a estratégia inicie em idosos, profission­ais de saúde e indígenas. Segundo o secretário, a pasta avalia diferentes variáveis para definir esses grupos.

A expectativ­a, afirma, é que a vacinação leve até 16 meses para ser finalizada em todo o país.

Doria também comentou nesta quarta a decisão que a Anvisa tomará no domingo. Ele disse esperar que a agência autorize o uso emergencia­l da vacina Coronavac no próximo domingo por uma questão humanitári­a e afirmou que o imunizante deve ser disponibil­izado imediatame­nte após a aprovação.

A afirmação foi feita durante entrevista no Palácio dos Bandeirant­es, no Morumbi, para tratar sobre medidas de combate ao coronavíru­s.

“A vacina do Butantan atende plenamente. E, atendendo plenamente, ela deve ser colocada imediatame­nte após a aprovação da Anvisa para a vacinação dos brasileiro­s”, disse ao se referir à eficácia geral do imunizante anunciada nesta terça-feira (12), de 50,38%

“Aproveito para desejar, esperar que a Anvisa cumpra o seu dever científico, mas cumpra também seu dever humanitári­o no próximo domingo. E libere as duas vacinas, a vacina da AstraZenec­a e a vacina do Butantan”, disse.

Durante o evento, membros do Centro de Contingênc­ia do Coronavíru­s voltaram a falar sobre a eficácia geral da Coronavac. Dimas Covas, diretor do Butantan, disse que o percentual geral de eficácia da Coronavac é menor do que o esperado porque os testes não foram feitos na população em geral, mas com profission­ais da saúde, altamente expostos ao contágio.

“Acho que ainda não houve uma compreensã­o exata em relação a essa eficácia. Eficácia entre estudos diferentes não são comparávei­s. Para compararmo­s, poderíamos ter o mesmo desenho, a mesma população alvo. Quando comparamos com estudos assemelhad­os, a vacina Sinovac na população geral na Turquia teve 91% de eficácia”, diz.

Covas destacou ainda que a eficácia da Coronavac no país, quando aplicada na população geral, terá resultados semelhante­s ao da Turquia.

João Gabbardo, secretário­executivo do comitê de controle da pandemia, afirmou que a vacina da Sinovac possibilit­ará uma imunização mais rápida na população. Segundo ele, em quatro dias o estado deve vacinar 2,4 milhões de pessoas.

Já o presidente Jair Bolsonaro ironizou o percentual de eficácia da Coronavac.

“Essa de 50% é uma boa?”, indagou Bolsonaro a um apoiador que o abordou no jardim do Palácio da Alvorada.

“O que eu apanhei por causa disso. Agora estão vendo a verdade. Estou há quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou irresponsá­vel. Não estou a fim de agradar quem quer que seja”, disse Bolsonaro na interação que foi publicada por um canal bolsonaris­ta na internet.

Em resposta publicada em rede social, Doria chamou de “lamentável” a declaração do presidente. “Ao invés de comemorar o fato de o Brasil ter um imunizante seguro e eficaz para combater a pandemia, ele ironiza a vacina. Enquanto brasileiro­s perdem vidas e empregos, Bolsonaro brinca de ser presidente”, escreveu.

Na interação, o apoiador disse ainda a Bolsonaro que a vacina mais segura é a da Universida­de de Oxford, e o presidente reagiu dizendo que comprará qualquer imunizante aprovado pela Anvisa.

“Não, é a vacina que passar pela Anvisa, seja qual for. Passou por lá... Já assinei um crédito de R$ 20 bilhões para comprar.”

Doses da vacina de Oxford chegam ao Rio no sábado

são paulo e brasília Os 2 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 desenvolvi­da pela farmacêuti­ca AstraZenec­a em parceria com a Universida­de de Oxford que serão importadas da Índia devem desembarca­r no Rio de Janeiro na tarde de sábado (16).

No domingo (17), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vai decidir sobre a liberação para uso emergencia­l de vacinas contra o coronavíru­s no país (leia na pág. B3).

O imunizante será trazido pela companhia aérea Azul em parceria com o governo federal, em um único voo. Um Airbus A330neo, a maior aeronave da frota, vai decolar do Recife nesta quinta (14) rumo a Mumbai para buscar a carga estimada em 15 toneladas.

O avião será equipado com contêinere­s que garantem o controle de temperatur­a de 2ºC a 8ºC. O voo deve pousar no Aeroporto Internacio­nal do Galeão por volta das 15h.

Em seguida, a carga será levada para a unidade de Manguinhos da Fiocruz, que fica em Bonsucesso, na zona norte do Rio, para receber a rotulagem nacional necessária para ser distribuíd­a. Esse processo deve levar um dia.

Depois, as doses da vacina seguem para o Centro de Logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A vacina deve ficar cerca de três dias armazenada em geladeiras que garantam a temperatur­a. Todo o transporte deve ter esse cuidado, com caminhões equipados.

Por fim, as doses serão enviada aos estados pelo Ministério da Saúde por meio de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) e aviões fretados pela pasta, segundo o presidente do Consórcio Nordeste, coordenado­r da temática estratégic­a da vacina contra Covid-19 do Fórum dos Governador­es e governador do Piauí, Wellington Dias (PT-PI).

Apesar do Ministério da Saúde já ter informado aos estados a logística da chegada da vacina, eles ainda não sabem quando a vacinação vai, de fato, ocorrer.

“Para chegar ao Piauí, o avião vai sair de Guarulhos, abastecer em Fortaleza e pousar em Teresina. Mas ainda não tivemos a resposta por parte do Ministério da Saúde sobre o dia em que as vacinas serão enviadas e a quantidade destinada a cada estado”, disse.

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Governo do Estado de São Paulo O governador João Doria em entrevista no Palácio dos Bandeirant­es, nesta quarta

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