Saúde planeja vacinação no dia 19; Doria quer começar já no 17
Processo começa quando todas as capitais tiverem doses, diz ministério
Na corrida para ver quem começará a imunização contra a Covid-19, o ministério avalia evento no Palácio do Planalto na terça (19). Já o governo paulista quer aplicar as doses imediatamente após o aval da Anvisa.
brasília e são paulo Em mais uma etapa da corrida para ver quem começará a imunização contra a Covid-19, o Ministério da Saúde de Jair Bolsonaro (sem partido) ou o governo paulista de João Doria (PSDB), o primeiro avalia marcar um evento no Palácio do Planalto na terça (19) para vacinar um idoso e um profissional de saúde, e o segundo pretende começar a aplicar as doses imediatamente após o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para as vacinas, o que pode ocorrer no domingo (17).
O evento no Planalto, porém, ainda não foi confirmado. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ainda não deu previsão exata para o início da imunização, e nesta semana disse apenas que ela deve ocorrer no “dia D” e na “hora H”.
A Anvisa analisa dois pedidos de aval para vacinas. O primeiro foi feito pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, para usar as doses da vacina Coronavac que foram importadas da China ainda no ano passado.
O segundo pedido foi feito pela Fiocruz, que pede autorização para uso de 2 milhões de doses da chamada vacina de Oxford, desenvolvida com a farmacêutica AstraZeneca, adquirida pelo governo federal e prevista para ser importada da Índia no sábado.
Do lado do Planalto, no entanto, ainda há dúvidas sobre a realização do evento.
Conselheiros do presidente o estimulam a capitanear o evento, mas esbarram no fato de que ele não quer tomar a vacina. Pessoas próximas a Bolsonaro preveem outros problemas caso ele mudasse de ideia, como possíveis críticas por ele recuar ou receber a proteção primeiro.
O presidente já falou reiteradas vezes que não tomaria vacina e chegou a ironizar o imunizante, dizendo que quem o tomasse poderia virar jacaré.
Na manhã desta quarta-feira (13), uma apoiadora disse a Bolsonaro que só tomaria vacina quando o presidente se imunizasse. “Eu já fui infectado”, respondeu Bolsonaro.
O Ministério da Saúde já havia anunciado a versão mais recente do plano de vacinação contra a Covid em cerimônia no Palácio do Planalto, por isso avalia essa opção.
A previsão de começar a vacinar no dia 19 é calculada como uma forma de dar dianteira ao governo diante da guerra política travada por Bolsonaro com Doria, que inicialmente tinha anunciado o início da imunização no estado no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo.
Na semana passada, o secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse que, se o governo federal antecipasse a vacinação para 20 de janeiro, São Paulo acompanharia o prazo.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que aguarda a decisão da Anvisa sobre os pedidos de uso emergencial para anunciar o início da vacinação.
“Desta forma, caso uma ou as duas vacinas sejam liberadas pela agência, a pasta planeja um evento no inicio da semana que vem, em Brasília, para divulgar a data de início da vacinação no Brasil.”
Mais tarde, o secretário-executivo do ministério, Elcio Franco, disse que a vacinação iniciará de forma simultânea e apenas quando todas as capitais tiverem doses da vacina.
A previsão é que essa distribuição ocorra de três a cinco dias após a aprovação da Anvisa, informa.
“Por que a diretriz de começar todos ao mesmo tempo? Um mote é que ninguém vai ficar para trás. [...] É bom São Paulo ter o Butantan e para o Rio de Janeiro ter a Fundação Oswaldo Cruz, mas não podemos tratar brasileiros de forma diferente”, disse. “São Paulo e Rio de Janeiro não estão perdendo, o Brasil está ganhando.”
As doses, no entanto, devem demorar mais alguns dias para chegarem ao interior —daí a opção por iniciar quando as doses estiverem nas capitais, informa.
Franco evitou, em entrevista a jornalistas, dar uma data exata para o início da vacinação. Segundo ele, a definição dependerá da decisão da agência sobre o aval ao uso emergencial de vacinas contra a Covid.
Também não informou quais os primeiros grupos a serem vacinados com as doses emergenciais. A previsão, diz, é que a estratégia inicie em idosos, profissionais de saúde e indígenas. Segundo o secretário, a pasta avalia diferentes variáveis para definir esses grupos.
A expectativa, afirma, é que a vacinação leve até 16 meses para ser finalizada em todo o país.
Doria também comentou nesta quarta a decisão que a Anvisa tomará no domingo. Ele disse esperar que a agência autorize o uso emergencial da vacina Coronavac no próximo domingo por uma questão humanitária e afirmou que o imunizante deve ser disponibilizado imediatamente após a aprovação.
A afirmação foi feita durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para tratar sobre medidas de combate ao coronavírus.
“A vacina do Butantan atende plenamente. E, atendendo plenamente, ela deve ser colocada imediatamente após a aprovação da Anvisa para a vacinação dos brasileiros”, disse ao se referir à eficácia geral do imunizante anunciada nesta terça-feira (12), de 50,38%
“Aproveito para desejar, esperar que a Anvisa cumpra o seu dever científico, mas cumpra também seu dever humanitário no próximo domingo. E libere as duas vacinas, a vacina da AstraZeneca e a vacina do Butantan”, disse.
Durante o evento, membros do Centro de Contingência do Coronavírus voltaram a falar sobre a eficácia geral da Coronavac. Dimas Covas, diretor do Butantan, disse que o percentual geral de eficácia da Coronavac é menor do que o esperado porque os testes não foram feitos na população em geral, mas com profissionais da saúde, altamente expostos ao contágio.
“Acho que ainda não houve uma compreensão exata em relação a essa eficácia. Eficácia entre estudos diferentes não são comparáveis. Para compararmos, poderíamos ter o mesmo desenho, a mesma população alvo. Quando comparamos com estudos assemelhados, a vacina Sinovac na população geral na Turquia teve 91% de eficácia”, diz.
Covas destacou ainda que a eficácia da Coronavac no país, quando aplicada na população geral, terá resultados semelhantes ao da Turquia.
João Gabbardo, secretárioexecutivo do comitê de controle da pandemia, afirmou que a vacina da Sinovac possibilitará uma imunização mais rápida na população. Segundo ele, em quatro dias o estado deve vacinar 2,4 milhões de pessoas.
Já o presidente Jair Bolsonaro ironizou o percentual de eficácia da Coronavac.
“Essa de 50% é uma boa?”, indagou Bolsonaro a um apoiador que o abordou no jardim do Palácio da Alvorada.
“O que eu apanhei por causa disso. Agora estão vendo a verdade. Estou há quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou irresponsável. Não estou a fim de agradar quem quer que seja”, disse Bolsonaro na interação que foi publicada por um canal bolsonarista na internet.
Em resposta publicada em rede social, Doria chamou de “lamentável” a declaração do presidente. “Ao invés de comemorar o fato de o Brasil ter um imunizante seguro e eficaz para combater a pandemia, ele ironiza a vacina. Enquanto brasileiros perdem vidas e empregos, Bolsonaro brinca de ser presidente”, escreveu.
Na interação, o apoiador disse ainda a Bolsonaro que a vacina mais segura é a da Universidade de Oxford, e o presidente reagiu dizendo que comprará qualquer imunizante aprovado pela Anvisa.
“Não, é a vacina que passar pela Anvisa, seja qual for. Passou por lá... Já assinei um crédito de R$ 20 bilhões para comprar.”
Doses da vacina de Oxford chegam ao Rio no sábado
são paulo e brasília Os 2 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford que serão importadas da Índia devem desembarcar no Rio de Janeiro na tarde de sábado (16).
No domingo (17), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vai decidir sobre a liberação para uso emergencial de vacinas contra o coronavírus no país (leia na pág. B3).
O imunizante será trazido pela companhia aérea Azul em parceria com o governo federal, em um único voo. Um Airbus A330neo, a maior aeronave da frota, vai decolar do Recife nesta quinta (14) rumo a Mumbai para buscar a carga estimada em 15 toneladas.
O avião será equipado com contêineres que garantem o controle de temperatura de 2ºC a 8ºC. O voo deve pousar no Aeroporto Internacional do Galeão por volta das 15h.
Em seguida, a carga será levada para a unidade de Manguinhos da Fiocruz, que fica em Bonsucesso, na zona norte do Rio, para receber a rotulagem nacional necessária para ser distribuída. Esse processo deve levar um dia.
Depois, as doses da vacina seguem para o Centro de Logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A vacina deve ficar cerca de três dias armazenada em geladeiras que garantam a temperatura. Todo o transporte deve ter esse cuidado, com caminhões equipados.
Por fim, as doses serão enviada aos estados pelo Ministério da Saúde por meio de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) e aviões fretados pela pasta, segundo o presidente do Consórcio Nordeste, coordenador da temática estratégica da vacina contra Covid-19 do Fórum dos Governadores e governador do Piauí, Wellington Dias (PT-PI).
Apesar do Ministério da Saúde já ter informado aos estados a logística da chegada da vacina, eles ainda não sabem quando a vacinação vai, de fato, ocorrer.
“Para chegar ao Piauí, o avião vai sair de Guarulhos, abastecer em Fortaleza e pousar em Teresina. Mas ainda não tivemos a resposta por parte do Ministério da Saúde sobre o dia em que as vacinas serão enviadas e a quantidade destinada a cada estado”, disse.