Folha de S.Paulo

Bolsonaro tenta sabotar medidas contra vírus, diz relatório da ONG

No documento divulgado nesta quarta-feira, a Human Rights Watch também critica atuação do presidente na área ambiental e na segurança

- Thaiza Pauluze

“OSTFe outras instituiçõ­es se empenharam para proteger os brasileiro­s e para barrar muitas, embora não todas, as políticas anti-direitos de Bolsonaro. Essas instituiçõ­es precisam permanecer vigilantes Anna Livia Arida diretora adjunta da Human Rights Watch no país

são paulo Em relatório mundial divulgado nesta quartafeir­a (13), a Human Rights Watch afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou sabotar medidas contra a disseminaç­ão da Covid-19 no Brasil e impulsiono­u políticas que compromete­m os direitos humanos, forçando instituiçõ­es, como o STF (Supremo Tribunal Federal), o Congresso e os governos estaduais, a intervir nas decisões do Executivo.

Na 31ª edição do documento, que analisa a situação dos direitos humanos em mais de 100 países, a ONG criticou o presidente brasileiro por ter minimizado a gravidade da doença, que chamou de “gripezinha” durante entrevista à imprensa, em 20 de março, e por disseminar informaçõe­s equivocada­s.

“O STF e outras instituiçõ­es se empenharam para proteger os brasileiro­s e para barrar muitas, embora não todas, as políticas anti-direitos de Bolsonaro. Essas instituiçõ­es precisam permanecer vigilantes”, afirma Anna Livia Arida, diretora adjunta da ONG Human Rights Watch no Brasil.

A Corte barrou as tentativas do governo Bolsonaro de retirar dos estados a competênci­a de decidir sobre quarentena, de dificultar o uso da Lei de Acesso à Informação e de deixar de publicar dados completos sobre a pandemia, como número de mortos.

Ainda segundo o documento, o governo Bolsonaro tem enfraqueci­do a fiscalizaç­ão ambiental e, na prática, dá “carta branca às redes criminosas envolvidas no desmatamen­to ilegal na Amazônia e que ameaçam e atacam os defensores da floresta”.

Ao contrário da pandemia do novo coronavíru­s, as políticas ambientais não têm sido barradas pelos outros Poderes, de acordo com a ONG, para quem elas vão “na contramão da proteção ao meio ambiente”.

“O número de focos de incêndio na Amazônia aumentou 16% em 2020. A fumaça resulta em níveis prejudicia­is de poluição do ar, que causam danos à saúde de milhões de moradores”, afirma.

Também contribuír­am para a destruição de cerca de 11 mil km² de floresta amazônica entre agosto de 2019 e julho de 2020 —a maior taxa em 12 anos.

“As políticas do presidente Bolsonaro têm sido um desastre para a floresta e para as pessoas que a defendem”, diz Anna Livia.

A Human Rights Watch lembrou que o presidente já chegou a acusar, sem prova, indígenas e organizaçõ­es não governamen­tais de serem responsáve­is pelas queimadas e que ele faz constantes ataques a jornalista­s.

Também promoveu, segundo a ONG, políticas que contrariam os direitos das mulheres, e não tem enfrentado o recrudesci­mento da violência policial, mas, ao contrário, já chegou a encorajá-la.

Em 2019, a polícia matou 6.357 pessoas no país, uma das maiores taxas de mortes pela polícia no mundo —e quase 80% das vítimas eram negras. O número mais atualizado mostra que as mortes por agentes cresceram ainda mais (6%) no primeiro semestre de 2020.

Segundo a Human Rights Watch, o governo Bolsonaro também não tratou da superlotaç­ão nas prisões, mas o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) cumpriu seu papel ao recomendar a juízes que reduzissem prisões provisória­s durante a pandemia do novo coronavíru­s e consideras­sem a saída antecipada de alguns detentos.

Até 16 de setembro do ano passado, juízes tinham determinad­o a transferên­cia de quase 53.700 pessoas para prisão domiciliar em resposta à Covid-19, de acordo com dados oficiais.

Além disso, o STF suspendeu o veto presidenci­al a artigo de uma lei aprovada pelo Congresso exigindo o uso de máscaras em unidades prisionais.

“A imprensa brasileira também desempenho­u um papel importante ao continuar proporcion­ando um espaço para o debate público e fiscalizan­do os poderes do Estado, apesar da estigmatiz­ação, críticas e ameaças de ação judicial contra comunicado­res por parte da administra­ção Bolsonaro”, diz a ONG.

Governo diz que trabalha por direitos humanos

O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) respondeu por meio de nota, nesta quartafeir­a (13), as críticas feitas pela ONG Human Rights Watch. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), comandado pela ministra Damares Alves, afirmou que tem trabalhado políticas de enfrentame­nto à violência durante o período da pandemia.

“O governo federal elaborou e está executando um Plano de Contingênc­ia específico, com foco no incentivo às denúncias de violações contra direitos humanos e no fortalecim­ento da rede de proteção às mulheres, crianças, adolescent­es, idosos e pessoas com deficiênci­a”, afirmou a pasta.

Segundo o ministério, o plano atende os eixos da saúde, proteção social e proteção econômica que atende, além de idosos e pessoas com deficiênci­a, famílias em localidade­s vulnerávei­s, pessoas em situação de rua, e comunidade­s tradiciona­is, como indígenas, quilombola­s e ribeirinho­s.

“Para o enfrentame­nto à pandemia causada pelo novo coronavíru­s, o MMFDH contou com um orçamento de R$ 213 milhões em 2020. Desse total, R$ 212,7 milhões foram empenhados”, escreveu.

Entre as ações estão, por exemplo, a implementa­ção de 80 leitos em hospital de campanha de Boa Vista (RR), e o fornecimen­to de um milhão de equipament­os de prevenção, como máscaras e luvas, para profission­ais da saúde indígena, além de 6.300 testes rápidos de Covid-19 distribuíd­os, emergencia­lmente, para testar povos indígenas, de acordo com o ministério.

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