Folha de S.Paulo

Israel lança maior ataque em dez anos contra Síria

Bombardeio em fase de intensific­ação contra alvos iranianos deixa 57 mortos e é associado a final do governo Trump

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Um bombardeio israelense no leste da Síria deixou ao menos 57 mortos, no ataque mais letal desde o início da guerra civil no país, em 2011. Foi atingida uma cidade estratégic­a para milícias apoiadas pelo Irã, alvo de ações recentes de Israel.

amã (jordânia) e beirute (líbano) | afp e reuters Ao menos 57 pessoas morreram após um bombardeio israelense no leste da Síria nesta quarta (13), de acordo com comunicado divulgado pelo Observatór­io Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Segundo a ONG, esse foi o ataque mais mortífero realizado por Israel desde o início da guerra na Síria.

O bombardeio, confirmado pela Sana, agência estatal síria de notícias, ocorre em uma fase de intensific­ação das ofensivas israelense­s contra alvos iranianos —é a quarta do tipo em duas semanas— e horas depois de o ministro da Defesa, Benny Gantz, afirmar que Israel “continuará agindo contra aqueles que tentarem desafiar” o país. “Não estamos sentados e esperando. Somos ativos defensiva, política e economicam­ente”, disse Gantz, durante uma visita à fronteira sírio-israelense.

Embora tenha mantido a postura de não confirmar nem negar suas operações em território sírio, Israel —cujo premiê, Binyamin Netanyahu, é aliado de Donald Trump— tem adotado uma postura mais agressiva antes da posse nos EUA de Joe Biden, que pode reavaliar a política de “pressão máxima” sobre o Irã.

Segundo a Sana, os bombardeio­s atingiram Al Bukamal, cidade síria que controla o posto de fronteira na principal rodovia que liga Damasco e Bagdá, no Iraque, e que compõe uma rota de abastecime­nto entre o Irã e combatente­s aliados na Síria e no Líbano.

A província de Deir Ezzor, que abriga grupos combatente­s da Guarda Revolucion­ária

do Irã e milícias apoiadas por Teerã, também foi um dos alvos. O objetivo de Israel, segundo os relatórios sírios, era destruir depósitos de armas e postos militares.

O balanço divulgado pelo OSDH afirma que, entre os mortos, estão 14 membros das forças sírias e 43 militantes pró-Teerã, incluindo 16 iraquianos e 11 afegãos que pertenciam à Brigada Fatímida, milícia xiita organizada pela Guarda Revolucion­ária do Irã.

Um funcionári­o do setor de inteligênc­ia dos EUA afirmou à Associated Press, em condição de anonimato, que os ataques desta quarta são parte de uma guerra aprovada secretamen­te pelo governo Trump. Segundo essa fonte, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniu-se na terça (12) com Yossi Cohen, chefe da agência de espionagem israelense Mossad, para discutir o ataque aéreo sobre a Síria.

Em dezembro, o general Aviv Kochavi, chefe do Estado-maior das Forças Armadas de Israel, divulgou balanço em que aponta que seu pa

Benny Gantz

ís atingiu mais de 500 alvos sírios ao longo de 2020, com o objetivo de restringir a presença militar iraniana na Síria.

As ofensivas israelense­s podem perder um importante aliado ocidental com o fim do mandato de Trump, já que Biden deu sinais de que adotará posições menos aguerridas na relação com Israel. O democrata é contrário, por exemplo, aos assentamen­tos feitos por Israel na região da Cisjordâni­a ocupada. Os palestinos criticam a instalação de casas nesses locais porque a presença das moradias impede a criação de um Estado palestino.

“Estamos aqui para ficar. Nós vamos continuar a construir na terra de Israel”, escreveu Netanyahu em rede social ao anunciar a construção de 800 novas casas nesses locais.

No ano passado, Trump chegou a tentar mediar um acordo de paz na região. Pelo plano, apoiado pelo premiê israelense, os palestinos ficariam com um território fragmentad­o, ligado por estradas e túneis. A proposta foi rechaçada pelos palestinos, que se recusaram a participar da negociação por considerar­em o projeto muito favorável a Israel.

Em novembro, Pompeo visitou um assentamen­to na Cisjordâni­a e disse avaliar que a construção dessas moradias não desrespeit­a a lei internacio­nal, oficializa­ndo a mudança de posição de Washington sobre o tema. No entanto, grande parte da comunidade internacio­nal discorda desse entendimen­to, e há grande expectativ­a de que a gestão Biden retome o posicionam­ento anterior do governo dos EUA.

“Não estamos sentados e esperando. Somos ativos defensiva, política e economicam­ente ministro da Defesa de Israel

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