Folha de S.Paulo

Bolsonaro ameaça demitir presidente do BB após plano

Guedes age para evitar saída de André Brandão, que está a menos de quatro meses no comando da instituiçã­o; ações caem 4,9%

- Bernardo Caram e Ricardo Della Coletta

Um plano de demissão voluntária do Banco do Brasil desencadeo­u fritura do presidente, André Brandão, e auxiliares no Planalto dizem que ele pode ser demitido por Jair Bolsonaro. Paulo Guedes (Economia) agiu ontem para evitar a saída.

brasília O anúncio de um plano de demissão voluntária do Banco do Brasil desencadeo­u um processo de fritura do presidente da instituiçã­o, André Brandão, e auxiliares no Planalto afirmam que o executivo pode ser demitido por decisão de Jair Bolsonaro.

Caso a demissão seja confirmada, Brandão sairá do comando do banco menos de quatro meses após sua posse.

Paulo Guedes (Economia) considera o executivo preparado para ocupar o cargo e trabalhava nesta quarta (13) para acalmar Bolsonaro e evitar a demissão. Segundo um auxiliar, o ministro concorda com a essência do plano de ajuste apresentad­o pelo banco.

Membros da equipe econômica relataram à Folha que o anúncio da reestrutur­ação do banco, que inclui demissões de funcionári­os, foi a causa da fúria no Palácio do Planalto.

Na segunda-feira (11), o Banco do Brasil informou ter aprovado um conjunto de medidas que diminuem sua estrutura organizaci­onal, com fechamento de pontos de atendiment­o. Serão encerradas 361 unidades, sendo 112 agências.

Também foram criadas pelo banco duas modalidade­s de desligamen­to incentivad­o voluntário aos funcionári­os. O Programa de Adequação de

Quadros, para redistribu­ir força de trabalho, e o Programa de Desligamen­to Extraordin­ário, disponível a todos os funcionári­os do BB que atenderem a pré-requisitos.

A estimativa do BB é que cerca de 5.000 funcionári­os façam adesão aos programas.

Segundo uma fonte do Ministério da Economia, o programa é tecnicamen­te impecável e promove redução de custos para o banco. No entanto, o momento para a adoção da medida foi considerad­o desastroso, um erro político.

O argumento é que o país passa por uma situação muito complicada na área de emprego, ainda sem sinais de arrefecime­nto da pandemia. Por isso, o anúncio do BB foi visto como um sinal de falta de sensibilid­ade de Brandão.

Membros do Ministério da Economia afirmam ainda que informaçõe­s sobre o BB geram apelo no Congresso e, por isso, o programa de demissões pode ser jogado contra o governo nas negociaçõe­s para a eleição da cúpula do Legislativ­o.

O momento escolhido para a divulgação do plano também foi visto como outro sinal que trouxe danos para a imagem do governo.

No mesmo dia, a Ford anunciou que fechará todas as suas unidades fabris no Brasil, o que deve ter impacto direto sobre 5.000 empregos.

Na equipe econômica, há ainda uma tensão relacionad­a à busca por um novo nome para comandar o BB caso Brandão seja demitido.

Além da dificuldad­e de encontrar um executivo com condições de assumir o posto, há um temor sobre possíveis indicações políticas. Membros da pasta não aceitam, por exemplo, que seja empossado algum nome sem preparo eventualme­nte indicado pelo centrão, grupo de partidos de centro que se aproximou do governo.

Os grandes bancos sofreram impacto da pandemia e vêm fazendo ajustes no período. Durante a crise sanitária, instituiçõ­es encerraram atividades de agências, reduzindo o atendiment­o presencial.

Para especialis­tas, a pandemia acelerou o processo —que já vinha ocorrendo— de enxugament­o de estrutura das organizaçõ­es e de investimen­to na digitaliza­ção de serviços.

O setor ainda não conseguiu se levantar totalmente do tombo provocado pela crise sanitária. O valor de mercado de uma parcela dos bancos de grande porte em atuação no país segue abaixo do patamar pré-pandemia.

A ação do BB, por exemplo, que estava em torno de R$ 50 em fevereiro de 2020, fechou esta quarta a R$ 37,55, com queda de 4,93%, após a divulgação da possível demissão de Brandão.

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