Lobo-Guará empaca, e apenas 12,7% das notas de R$ 200 circulam
brasília Com demanda abaixo do esperado, o Banco Central colocou em circulação 12,7% do total de cédulas de R$ 200 programadas para 2020. A autarquia adquiriu 57,3 milhões de unidades até segunda-feira (12).
O montante equivale a R$ 11,4 bilhões. No lançamento da cédula, em agosto, o BC anunciara a fabricação de 450 milhões de notas estampadas com o lobo-guará (R$ 90 bilhões) em 2020.
Na ocasião, a autarquia dissera que gastaria R$ 113,8 milhões a mais do que o previsto no orçamento anual para a produção de novas cédulas. Seriam ainda impressas 170 milhões de cédulas de R$ 100.
“Talvez a medida tenha sido acertada, mas houve erro no cálculo. Na pandemia, embora tenha crescido a demanda por papel-moeda, aumentou muito o uso de aplicativos e de transações digitais”, diz Mauro Rochlin, economista da FGV.
No período, a autoridade monetária priorizou a emissão de cédulas de R$ 100. Desde agosto, mais de 150 milhões de unidades entraram em circulação.
Alémdoorçamentoextra,o BC também contava com recursos da programação normal para aquisição e distribuição de dinheiro. Em julho —mês anterior ao lançamento da nota—, a dotação para aquisição de numerário era de R$ 788 milhões, em janeiro era de R$ 635 milhões, e, em, novembro de R$ 816 milhões.
A nova cédula, que tem o maior valor de face já produzido no Plano Real, foi criada, segundo a autoridade monetária, sob a justificativa de atender a maior demanda por papel-moeda com o pagamento do auxílio emergencial.
Além disso, aumentou o entesouramento (quando o papel-moeda não circula) no início da pandemia. Historicamente, em momentos de crise, as pessoas preferem guardar dinheiro.
Para Mariana Chaimovich, do ITCN (Instituto de Estudos Estratégicos de Tecnologia e Ciclo de Numerário), a autoridade monetária fez a projeção da demanda de acordo com a demanda observada no meio do ano.
“O BC sempre faz uma projeção para o ano de acordo com a demanda atual e ajusta a demanda ao longo do ano. Acredito que, como vivemos uma situação atípica, é melhor contratar a mais que ser pego de surpresa.”
O BC contrata a Casa da Moeda para a fabricação das cédulas, mas elas só são feitas se houver demanda.
Diante da corrida aos caixas eletrônicos, a quantidade de papel-moeda em circulação cresceu mês a mês no ano passado e atingiu o maior valor da série histórica do BC (iniciada em 1991) em novembro, com R$ 359 bilhões, alta de 41% em 12 meses.
A base monetária, que é a quantidade de dinheiro na economia, atingiu o maior patamar da série em julho, com R$ 423,6 bilhões.
A base é formada pelo papel-moeda em circulação ou depositado nas instituições financeiras, além das reservas bancárias. Ela tem flutuação diária. Nos meses seguintes, o valor caiu, puxado pelas reservas bancárias, e chegou a R$ 402,3 bilhões em novembro.
O BC disse que observou o aumento da demanda acima do padrão por papel-moeda nos primeiros meses da pandemia e chegou a comprometer o estoque de segurança. “Em épocas de incerteza, dinheiro simboliza segurança.”