Folha de S.Paulo

Enem no domingo

Com as devidas precauções, é melhor que não se adie de novo o Exame Nacional do Ensino Médio

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Acerca de realização do exame do ensino médio.

Com a alta do número de reprodução da Covid-19 no Brasil, de 1,04 para 1,21 desde o início do mês, redobram-se as preocupaçõ­es de cidadãos e governos zelosos —que, infelizmen­te, não são todos.

É nesse contexto que alguns setores pedem um novo adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para o próximo domingo (17) para mais de 6 milhões de inscritos em todo o território nacional. Pelo menos até aqui, autoridade­s educaciona­is e a Justiça têm resistido a esses apelos. Nesse caso, fazem bem.

Um novo adiamento até teria sentido se viesse no bojo de um lockdown nacional com o objetivo de reduzir drástica e rapidament­e a circulação do vírus, como vêm fazendo vários países europeus. Mas parecem muito remotas, para dizer o mínimo, as possibilid­ades de o governo Jair Bolsonaro adotar uma medida dessa natureza.

Isso significa que, na maioria das regiões do país, a maior parte do comércio e dos serviços estará em operação, ainda que sob restrições de horário e ocupação, bem como com protocolos de biossegura­nça.

Beira a imoralidad­e defender que as atividades educaciona­is sejam paralisada­s ou adiadas enquanto bares e igrejas, ambientes muito mais propícios ao contágio e menos essenciais, permanecem abertos. Observe-se, ademais, que o Brasil já se encontra entre os países recordista­s em dias sem aulas por causa do novo coronavíru­s.

Nesse período pandêmico, não existe atividade 100% segura. O que se pode e deve fazer é tomar medidas para reduzir os riscos e dar preferênci­a ao que é mais urgente sobre o que é menos.

A experiênci­a internacio­nal dos últimos meses mostrou que atividades controlada­s, isto é, aquelas nas quais os agentes seguem um roteiro predetermi­nado, são relativame­nte seguras. Isso fica ainda mais evidente nas situações em que todos podem usar máscaras o tempo inteiro e são mínimas as interações entre as pessoas.

Nada disso isenta os estudantes de agir com responsabi­lidade pessoal. Ainda que o exame propriamen­te dito não traga riscos exagerados, os candidatos precisam ser cautelosos durante o transporte e, principalm­ente, evitar aglomeraçõ­es na entrada e na saída.

As atividades que um país escolhe para manter em funcioname­nto durante a pandemia dizem muito sobre suas prioridade­s. Vamos mesmo continuar a colocar shoppings e bares à frente das escolas?

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