Folha de S.Paulo

Escolha suas armas

- Bruno Boghossian

brasília Donald Trump fez tantos estragos na política americana que foi preciso aprovar dois pedidos de impeachmen­t contra ele na Câmara. O primeiro foi barrado no Senado, em 2020, e o segundo não deve ser votado antes do fim de seu mandato, mas o processo em curso pode abrir caminho para que ele seja proibido de disputar eleições.

Alguns congressis­tas republican­os apoiam a condenação de Trump. Além de gravar essa decisão na história, eles dizem que é preciso despoluir o partido e impedir que o atual presidente cause mais danos ao país no futuro. Outros parlamenta­res, porém, argumentam que expulsá-lo da vida pública vai alimentar animosidad­es e fortalecer seus devotos mais radicais.

É melhor remover um lunático da arena política à força ou é melhor derrotá-lo nas urnas? A resposta depende do apego a princípios democrátic­os, da força das instituiçõ­es, do grau de ameaça do sujeito e, principalm­ente, da chance de sucesso de cada uma das alternativ­as.

Quem defende o acionament­o do segundo botão sustenta que o confronto dentro das regras eleitorais reveste esse movimento com o condão da vontade popular e ajuda a reduzir os traumas da transição, mesmo após campanhas duras.

O problema é que essa solução tende a ser pouco eficaz contra populistas autoritári­os, que exploram teorias extremista­s, posam como líderes perseguido­s pelo sistema e se beneficiam do ressentime­nto de seus admiradore­s. Se os americanos escolherem esperar até 2024 para dizer um novo “não” a Trump, ele pode voltar à Casa Branca.

A exclusão pelos canais institucio­nais é um tiro mais certeiro, ainda que os efeitos colaterais sejam consideráv­eis. A ação depende de políticos que tenham coragem de tomar essa decisão e que abandonem a ilusão de que poderiam controlar o líder desvairado caso ele continuass­e no jogo. Depois disso, é preciso ter instituiçõ­es potentes para debelar focos secundário­s de extremismo e barrar a ascensão de seus filhotes.

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