Folha de S.Paulo

Sem Trump no Twitter, Bolsonaro e aliados migram para Telegram

- Daniel Carvalho

BRASÍLIA O banimento do presidente dos EUA, Donald Trump, do Twitter, a remoção do aplicativo Parler (espécie de Twitter conservado­r) das lojas virtuais e a atualizaçã­o das regras de uso do WhatsApp levaram nomes da direita em todo o mundo a migrar para o Telegram.

O app de mensagens registrou em 72 horas 25 milhões de novos usuários no mundo. A direita brasileira, que vê na plataforma regras mais flexíveis, seguiu a tendência e, desde o fim de semana, divulga links para seus canais no Telegram.

O aplicativo funciona como o WhatsApp e permite a criação de canais para divulgação de mensagens pelo titular sem interação de quem o segue na plataforma.

Esta foi a opção do presidente Jair Bolsonaro, que na terça (12) anunciou seu canal e conclamou seguidores no Twitter a acompanhá-lo também no Telegram. No início da noite desta quarta (13), ele já tinha mais de 215 mil seguidores na rede.

Em cerimônia no Planalto, Bolsonaro lamentou a “censura às mídias sociais”.

“Minha adorada imprensa, vocês nunca tiveram tanta liberdade como em meu governo. Nunca se ouviu falar em meu governo em controle social da mídia ou democratiz­ação da mesma”, disse.

“Vocês têm liberdade demais, de sobra. Eu lamento a censura às mídias sociais. Elas não concorrem com vocês, não. Uma estimula a outra”, afirmou o presidente.

Bolsonaro, que é um crítico da imprensa profission­al, não citou Trump. Mas sua condenação à “censura” nas redes ocorre em meio a um intenso debate sobre a decisão de empresas de tecnologia de restringir o alcance de contas associadas ao presidente americano, após a invasão do Capitólio por seus seguidores.

O Twitter baniu de modo permanente a conta de Trump na rede social. O argumento é que o perfil apresentav­a risco de “mais incitação à violência”.

Outras plataforma­s seguiram o mesmo caminho. O Facebook suspendeu o republican­o até pelo menos a posse de Biden.

Aliados de Jair Bolsonaro criaram contas no Telegram e canais de transmissã­o. Fizeram isso o secretário da Pesca, Jorge Seif, o ministro do Turismo, Gilson Machado, e dos assessores especiais Filipe Martins e Tercio Arnaud, do chamado “gabinete do ódio”.

A deputada Bia Kicis (PSLDF) diz que ela e outros nomes da direita foram impelidos a fazer a migração.

“É muito abuso, é muita tirania [das plataforma­s de redes sociais]. A gente precisa se proteger”, afirmou.

A suspensão gerou questionam­entos até mesmo de críticos do americano. A chanceler alemã, Angela Merkel, chamou a decisão do Twitter de “problemáti­ca” e reiterou que o direito à liberdade de opinião tem “importânci­a fundamenta­l”.

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